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Creio até já ter comentado por aqui que, no meu tempo de guri, o sonho da senhora minha mãe era me ver como coroinha nas missas do Padre Gentil, que tentava  levar um pouco da palavra da salvação para o povo pagão. Mas a verdade é que eu nunca tive vocação pra coisa e o próprio Vigário, que estava além do seu tempo, sabia disso e sequer fez alguma questão de agradar a sua beata mais fervorosa.

Em suma: cresci sem ter tido a honra de ser coroinha, para desalento de mamãe.

Meu caminho foi outro. E o horizonte também. E o Padre Gentil soube reconhecer que eu poderia “guardar” do Corpo de Cristo, de minha maneira, e ainda assim fazer das honras do altíssimo e não morrer pagão. O Vigário, afinal, é que enxergava o meu caminho para além do horizonte.

Pois bem.

Tal qual o Padre soube reconhecer duma ovelha desgarrada naquele já longínquo tempo, um treinador de futebol precisa antever – já no início da temporada, do que sua equipe precisa para chegar a algum lugar. Nem falo de título, tão somente, pois igualmente é papel do comandante mirar muito além das paixões experimentadas por nós torcedores.

Se, de fato, o imponderável pode existir no futebol, ainda assim é uma exceção à regra e isso tem sido cada vez mais singular. Logo, retomando, o treinador no início da temporada tem não só a necessidade, mas também a obrigação de antever o que é necessário para alcançar o objetivo mínimo. O mínimo para tentar o máximo.

Certamente a diretoria do Clube também deveria ter essa leitura dinâmica do futebol, contudo, já deu para perceber que no nosso caso eles estão muito mais preocupados em demonstrar austeridade administrativa e financeira, do que com a atividade fim, propriamente dita, do Clube. Aliás, o nosso principal rival parece ter escancarado esta porta na noite de ontem.

A genuinidade de tudo isso é que sem a proximidade da nossa Torcida não vamos a lugar algum. Ora, um time mimado e soberbo como o nosso, que acha que vitórias virão de qualquer forma e a qualquer tempo – e que derrotas são apenas derrotas – não pode ter o luxo de jogar sem o “carinho” do “bafo na nuca” de nós torcedores mais fiéis. Nunca jogaram por um prato de comida e demonstraram que sequer o farão pelo prato de comida dos milhares de desabrigados que padecem aqui no Rio Grande.

Também é real que um treinador que insiste num jogador que já deu mostras de que se torna a laranja podre do time sempre que o time mais precisa dele, certamente não tem a ambição para muito além do básico, básico aliás que é o que o Internacional vem apresentando na última década. Nada muito além do básico. E só.

Igualmente, espero já ter referido aqui que um time para ser campeão tem de ter uma fé elevada, não só no sentido abstrato, mas principalmente, no concreto. Fé que é possível, que uma vitória pode ser buscada até o último minuto ou ser garantida até os últimos segundos da partida. E desta fé, convenhamos, o time do Internacional não padece. Tampouco mostrou que será capaz de alcançar elevado grau de espírito a ponto de fazer as pazes com Deus a tempo de ser agraciado com a glória de algum título. Seu caminho parece outro. E o horizonte também.

Não há fé que resista, aliás, a inépcia do nosso lateral esquerdo, também convenhamos.

Em que pese a frente para aquele tempo, Padre Gentil – todavia, não abria exceção nunca quando se tratava da comunhão. Não recebia o Corpo de Cristo quem não se confessasse com certa regularidade ou quem visivelmente não respeitasse aos mandamentos da Santa Igreja. Ou dos que não tinham fé. Inegável, pois, que vendo o Colorado de hoje jogar, o Padre deixaria o time do Inter de fora do seu rebanho da salvação. E reconheço que do jeito que a coisa já estava vindo, Eduardo Coudet igualmente não seria isento da penitência do Vigário.

Sem o Corpo de Cristo este time vai morrer pagão. Time soberbo e sem ambição é fadado a viver no pecado e morrer pagão.

Pecadores não passarão!

 

CURTAS                                                                              

– Sempre defendi Eduardo Coudet, mas ele tem demonstrado claramente que não está mais com ânimo de estar no Internacional;

– Futebol nem sempre admite das minhas predileções: acerta o gurizinho Victor Wollfenbüttel em sugerir que o prazo de validade do Coudet parece estar expirando;

– Três zagueiros e qualquer um fazendo o lado esquerdo. Ou mesmo nenhum. No, mínimo, testar é o mínimo;

– Nem mesmo agora, com tudo que passou, acharam o sapo enterrado no Beira Rio. Mas descobriram que ele existe, sim, e está fazendo a lateral esquerda do time do Inter;

– Fosse eu o Alário a ter de entrar aos 44 do segundo tempo, nem tinha tirado a bunda do banco;

– Se a ideia era usar a desculpa da enchente, já perceberam que ninguém vai cair em ladainha;

– O presidente Alessandro Barcellos tem de entender que não pode se lembrar da torcida somente quando precisa de voto para se assegurar no poder. A torcida foi, é e sempre será muito maior que qualquer um, principalmente que um pé frio como ele.

 

PERGUNTINHA

O que diria o Vigário após a confissão do Renê?

 

Haja fé Povo do Inter. Haja fé!

PACHECO

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