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Nos tempos lá de fora, e lá fora meio que parou no tempo – felizmente, meu Pai levava muito a sério as leis da Santa Igreja, ainda que não fosse lá um praticante devotado da sua fé, contrário a Senhora minha mãe. Essa sim, de tão carola, fez de todos os seus filhos coroinhas da igreja defronte à praça. Inclusive, eu, que “servi” no tempo que o “comandante” era o Padre Sebastião. Até poderia comentar aqui do apurado gosto do Vigário pelo carteado e das sessões de jogatina que ele promovia na casa canônica, mas o dia hoje não permite flerte com heresias.

Pois Papai na Semana Santa era diligente: nos primeiros dias as janelas deveriam ser fechadas às 3 da tarde e já próximo à ressurreição, nem abrir mais podia. Ninguém podia lavar a cabeça e da quinta-feira em diante o jejum era absoluto e nem o seu velho cavalo Baio ele encilhava. De minha parte eu achava, obviamente, tudo um exagero; quiçá ele também, mas mais que temer a Deus ele fugia da eventual desaprovação de Vovó, essa sim elevada à categoria de beata. Das fervorosas.

Em suma, a semana santa era um tempo só de louvação.

Pois foi um Inter em louvação que eu vi em campo e conseguiu a façanha de ser eliminado para um time que vai despontar a rabeira do rodapé do campeonato nacional que se avizinha de ponta a ponta. Aliás, ainda que respeitando o adversário, preciso afirmar que o Internacional perdeu mesmo foi para si próprio, talvez para a soberba ou mesmo para o ego inflado. Não sei. Só sei que a derrota abalou a torcida que, confiante chegar o ano da desforra, enfim, comprou da esperança para com time e colocou 40 mil numa segunda-feira, quase madrugada do dia seguinte.

Não sei se vi um time acovardado em campo, penso até que não. Contudo, um time que não tinha propósito isso eu vi. Um Inter que achava que ao natural os gols iriam sair, tal qual a vitória, eis que temos um grupo que parece que acreditou mesmo que a glória viria tão somente por merecimento. Como se a glória de Deus tivesse sido mera obra do acaso do altíssimo e sem qualquer sofrimento ou padecimento.

A cambada que frequenta o vestiário do Beira Rio, “nobres hereges”, precisa ter a consciência de que sem sofrimento, sem dor, sem renúncia, sem jejum (menos de gols, por óbvio), não conseguiremos superar a blasfêmia que parece enterrada no Gigante e nos impede de não só enxergar a felicidade, mas chegar até ela e lhe abraçar. Num abraço daqueles apaixonados, longos e duradouros a ponto de virar amor. Um time de louvação, um time Santo, é daqueles que tão somente enche os olhos dos seus fiéis, mas os deixa sentados à beira do caminho sem propósito algum, ao fim e ao cabo.

É preciso querer o pecado. Que Deus me perdoe…

Lembrei do meu velho pai quando o meu amigo Zé, de Parobé – mas filho dos Campos de Cima da Serra, Colorado desde os seus tempos lá dos fundões da Itagiba, comentou que ia passar a semana santa trancado dentro de casa, a base de lata de sardinha eis que o peixe anda muito caro, mas, principalmente, resignado com o seu time. Logo ele que depois de tanto tempo estava imbuído em tamanha fé…

Nós, torcedores não sei se perdoamos, mas quem está em pecado, Cristo certamente perdoa.

Não queremos ou precisamos de time Santo. Eu quero é um time Pecador. O Zé também.

Time Pecador!

 

CURTAS  

– Eduardo Coudet que eu defendo aqui e que é ainda o técnico certo para o Colorado, mais uma vez sucumbiu diante de uma condição emocional adversa. Tem que ser mais argentino e menos brasileiro nestas horas;

– Não farei terra arrasada por causa de um ruralito. O obstáculo não foi um caso isolado. O problema está justamente no desapego da instituição para com títulos, entra e sai presidentes, treinadores e jogadores;

– Também não farei análises individuais de jogadores, pois de muitos deles já vinha falando do desempenho abaixo do esperado há alguns jogos;

– A exceção, por óbvio, é sobre Robert Renan: foi cabaço – como disse meu neto, desrespeitoso, infantil e fútil. Qualquer adjetivo nesta linha não estaria mal colocado. Mas paro por aí. Têm 20 anos, já pediu desculpas (o que é coisa de virtuosos – gostem ou não do teor da nota), e é um jogador que tem sim muito potencial e além disso nem opção de reposição temos;

– Segue o baile… Coloca no Beira Rio contra o Baêa, pra tomar uma vaia sonora e retumbante, para entender mesmo que a coisa foi grave e não vai ser esquecida tão cedo (Maurício – idem) e… segue o baile(!);

– Temos de ter a consciência de que Robert foi uma consequência. A razão maior do defeito foi ter chego as pênaltis. Essa foi nossa maior derrota;

– O supra perdedor ainda me parece ser Alessandro Barcellos. Cinco anos no futebol e nada. É o Barcellos que mais precisa de louvação e benzedura.

 

PERGUNTINHA

Quem não fez cagada quando tinha 20 anos?

 

Que levante a mão e atire a primeira pedra, mas sem hipocrisia alguma…

Com as bençãos do nobre colega Cristian, pela cedência do espaço, excepcionalmente na sexta-feira Santa, ainda e sempre Colorado! E segue o baile…

PACHECO

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