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Eu era gurizote ainda, mas recordo com saudosismo da primeira paixão que tive: a gaita. A senhora minha mãe tinha um primo, o Manoel, que era gaiteiro e tocava com uma gaita vermelha e eu achava aquele instrumento lindo, afora que era encarnado e eu nunca escondi qual a cor que realmente gosto. Cresci com o sonho de aprender a tocar gaita e até tentei uma vez ou outra, mas por não dispor de condições financeiras para adquirir uma cordeona – que sempre foi cara, passou o tempo e nunca toquei de verdade.

Uma das maiores frustrações da minha vida.

Já na Capital, por um punhado de anos, eu perambulava muito pelo Centro e, cada vez que via um acordeom na vitrine de alguma loja na Cel. Vicente ou na Alberto Bins, parava para admirar e sonhar. Certa feita tinha uma Todeschini – Super 8 – vermelha, que de tão bonita e imponente, me fez entrar na loja para tentear uma negociação, logo abandonada pela realidade que cutucava meu ombro e dizia: “já viu, vamos embora?”

Nas mesmas redondezas passei a ser um fiel assíduo das lojas de discos, sendo que o primeiro que adquiri na vida foi do grande gaiteiro Albino Manique – serrano de São Chico –  que naquele tempo já era um estrondoso sucesso junto com Chico Castilhos e Os Mirins. Não foram muitas vezes que eu chorei na vida que não por momentos tristes, mas afora o velho Colorado das glórias, vez ou outra os dedos do Manique no teclado fizeram meu peito se tomar por emoção. Aquilo era veludo para os ouvidos, poesia em forma de canção…

E como eu gostava muito de fandango, e gosto até hoje, não dá para falar em baile gaúcho sem mencionar o Mestre Albino Manique, o “rei das vaneirinhas”. Manique, para quem não sabe, revolucionou a gaita de baile e, até hoje, sua escola está presente nos palcos de CTG’s, salões paroquiais, clubes, e todo ou qualquer lugar que se preste a rodar da boa música. E boas músicas Manique e o conjunto Os Mirins tinham de sobra: “Bombachudo”, “Baile de Candieeiro”, as “Vaneirinhas: do Adeus; do Amor; da Saudade. E aquele que talvez tenha sido o seu maior sucesso, o clássico “Madrugada”:

a estrela dalva vem despontando, prenunciando a madrugada…”

Pois a estrela dalva já vinha despontando quando se encerrou a partida do Internacional no Equador. Sim, de fato o Inter esteve jogando em Manta, ainda que somente “de corpo”, eis que a alma ficou em Porto Alegre. Não foi uma boa atuação, tampouco pragmática: talvez no primeiro tempo até tenha sido, visto que o time claramente se poupava – o que não adiantou de nada quando teve que correr no segundo tempo para assegurar o resultado contra um time semiamador. Poderia dizer que a atuação beirou à mediocridade: terminamos o jogo com três zagueiros, dois laterais direito, dois centro médios e dois centroavantes e nenhum meia. Não o farei porque vitória é vitória e sendo vitória é ponto final.

Algum gaito disse que vitórias como a de ontem criam “casca” para formar um time campeão. Que seja. Ainda assim o time parecia mesmo estar na “capa da gaita”.

Como parou de tocar baile de uns anos para cá, toda vez que aparecia alguma imagem do Albino Manique estava ele vestindo um abrigo do Internacional: além de serrano e gaiteiro dos melhores, ainda era um grande Colorado – dos quatro costados. Um homem de muitas qualidades, podemos observar. Pois, ontem, aos 80 anos de idade faleceu Albino Manique e quisera o destino que o seu Colorado de glórias tenha entrado em campo e vencido. Vencer era só o que importava, essa é a verdade.

O Inter ganhou por todos nós e também por Albino Manique, uma lenda. Também é o Internacional uma lenda: lenda das glórias. Das passadas e das que virão.

“Vai madrugada, repontando o dia que o sol não demora a raiar…”

 

CURTAS          

– No primeiro tempo achei que só Coudet queria vencer. Aí veio o segundo tempo e ele matou o time de uma forma, que o Professor Pardal ficou com uma pontinha de inveja;

– Mas também é verdade que do meio para frente a coisa estava encardida no banco de reservas. Logo, injustificada a não entrada de Bruno Gomes;

– O jovem Gustavo Prado sentiu um pouco a titularidade. Contudo, não jogou como deveria: carteando;

– Mais que o desencanto do gol, Rafael Borré me agradou mesmo ao colocar a bola debaixo do braço e deixar claro que ele bateria o pênalti, ainda que com toda a pressão em torno de si;

– Maurício caminha dentre uma linha tênue da falta de confiança, displicência e preguiça. Já estaria no banco não fosse o DM cheio;

– Nem tudo são flores: time sub 20 tá na lanterna do campeonato (4 jogos e 4 quatro derrotas) e o feminino tá passando vergonha parecida. Culpa da política ou da incompetência? Talvez de ambas;

– Coudet falou e tem razão: domingo é dia do mar vermelho do Beira Rio!

 

PERGUNTINHA

Inter é o time da madrugada?

 

Com as bênçãos do craque Cristian, colunista do dia, excepcionalmente na sexta-feira.

*EM TEMPO e falando de Equador: Hoje é dia do Goleiro. Hoje é aniversário do MANGA, uma lenda da meta Colorada. Parabéns e vida longa, Manguita Fenômeno!

PACHECO

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