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Sou claramente doutro tempo e da época que venho se relacionar com outras pessoas era não só primordial, como exemplo de civilidade. É uma pena, aliás, que nos dias de agora muitas vezes as pessoas não conhecem sequer daqueles com quem convivem sob o mesmo teto. Dito isso, preciso-lhes falar sobre o Paulinho, uma figura ímpar a que eu conheci, talvez um dos seres mais gentis e verdadeiros com quem já cruzei nesta minha existência. Ele era mais novo que eu, talvez uma década, mas aquelas peladas de fim de tarde no campo da praça criaram amizade dentre diversas gerações. Colorado, obviamente, fomos amigos até o fim.

Nunca esqueci duma passagem marcante na minha vida e na dele. Era um domingo de manhã e quando estou saindo da missa de sétimo dia de falecimento da mamãe, na porta da Igreja – de pé ao lado do seu filho, estava o Paulinho muito desalentado. Veio ao meu encontro e me abraçou chorando, desculpando-se que quando soube da morte já não havia mais como ter ido me abraçar no velório ou no enterro. Paulinho era bastante humilde; embora trabalhador, a vida não lhe tinha sido muito favorável, não tinha telefone e para o azar o rádio, seu meio de saber de notícias como o falecimento das pessoas – no interior até hoje a vida assim perdura, havia estragado. Soube do ocorrido somente dias depois.

Claramente ele ficou muito abalado de não poder ter estado comigo naquele momento triste. Mal sabia ele que o calor do seu abraço e do seu afago naquela saída de Igreja foi tão ou mais especial que todos os demais recebidos antes. A dor da perda é sentida mesmo quando voltamos para casa e não mais vemos aqueles que amamos ou ouvimos da sua voz. Aquele carinho tardio para mim foi fundamental. Tanto que levei Paulinho e seu filho, um menino dos seus 8 anos de idade, para almoçar conosco na casa de mamãe. Sempre me fez bem ter pessoas “do bem” perto de mim.

Não muito tempo depois, em razão de doença de sua mãe, Paulinho voltou para nossa terra e quis o destino que o ônibus da linha precisasse dum motorista, profissão que o Paulinho ostentava com reconhecido talento. A vida ali sorriu para o Paulinho, enfim, e por muito tempo ele foi o motorista amado pelos seus passageiros. E eu sei que foi assim, porque quando ele faleceu precocemente vitimado pela desgraça do Covid, autorizado pela empresa que trabalhou por mais de década, o ônibus que dirigia fora guiado por seu filho em cortejo ao carro fúnebre, quando sem nenhuma combinação, caminhões e veículos do povoado foram acompanhando em buzinaço, saudando um cara alegre e do bem que partira.

Todos, sem exceção, reconheceram ali quem foi o Paulinho e lhe prestaram uma reconhecida e necessária homenagem. A vida, em suma, se trata muito menos de quando e como chegamos ao final, mas sim, de quem verdadeiramente esteve ao nosso lado ao longo do caminho.

O destino do Sport Club Internacional nas competições que terá pela frente até o final desta temporada abraçada pela tragédia do Rio Grande dependerá, muito dos seus atores – é verdade, contudo, também em demasia daqueles que estão dispostos a percorrerem o caminho– seja aonde for, juntos com o Colorado. Apoiar em qualquer circunstância. Não há espaço para omissão e birra de nós torcedores.

Gostando ou não disso ou daquilo, eu estarei junto com o Inter como for possível e aonde for, pois sei que em algum momento, até mesmo sem esperar, ele haverá de fazer uma homenagem para mim e para todos que nunca deixaram de estarem no caminho consigo.

Em frente, Colorado! Sempre em frente.

 

CURTAS                                                                              

– Disse e repito: Eduardo Coudet tem a missão de mobilizar a turma. Se não pela esportividade, mas pelo povo gaúcho. Não está errado quem define o futebol como mensageiro de esperança;

– Ao menos uma notícia boa: zeramos o DM;

– Sou daqueles que querem o Inter jogando no Rio Grande. Falei e tá falado. Mas não há planejamento milagroso neste momento: os campos de jogo tem de estar disponíveis e tem de ser de boa qualidade;

– Não podemos esquecer que Juventude e Criciúma também jogam nos seus estádios;

– Também, não estamos numa roda de inocentes: a pressão para voltar a jogar a qualquer custo veio de cima e foi forte. Quero pensar que a diretoria fez o que era possível para o momento;

– Repiso-me: nascido sob as águas, o velho Gigante da Beira Rio triunfará como palco da nova senda de vitórias do Sport Club Internacional.

 

PERGUNTINHA

Vamos de novo povo Colorado?

 

“O campo alagado nos obriga a reza, no ofício de quem leva pra enlutar as mágoas”

PACHECO

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