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Fui pisar numa areia do mar e conhecer do grande açude com motor – tal qual dizia o finado Nilson Monarca, já eram idos da década de 1980. Lá fora o que conhecíamos era umas sangas e vertentes, afora que a lida do campo não permitia sequer o uso da palavra “férias”. Para além da minha relação sentimental, hoje em dia, com a praia de Rainha do Mar, que algum tempo existe face à família da minha Senhora, antes disso eu andei aportando por Arroio Teixeira, Curumim e vez ou outra por Tramandaí e Imbé. E só.

Aí no começo de 1996 eu recebi uma promoção na Repartição que me fez sobrar uns trocos. Nunca havia estado nas praias de Santa Catarina, por incrível que pareça, ainda que já tivesse cruzado até por outros estados da federação a serviço. Como andava com aquela Brasília verde abacate, fui pra rodoviária comprar as passagens que ir de ônibus parecia ser mais prudente.

Engraçado é que eu queria conhecer Laguna, que eu já tinha ouvido falar e julgava até mesmo meio que conhecer, decorrente das histórias da Revolução Farroupilha. Mas ao chegar na boca do brete, digo, do guichê, soube que estavam esgotadas as passagens. Gentilmente, a moça que me atendia disse que tinha opção de Garopaba, que era próximo e eu nunca tinha ouvido falar (fui perder o xucrismo depois). Fiquei sem reação por um instante, quando um Senhor na fila  – ao observar minha aflição – disse-me:” _ pode ir para Garopaba que eu garanto que nunca mais vai querer ir para outro lugar depois”.

Arrisquei e comprei as passagens. Pegamos o ônibus da Santo Anjo na rodoviária da Capital, meio dia, chegamos lá pelo fim da tarde. A rodoviária ainda era na praça central e nos hospedamos no velho Hotel Lobo, que já estava lá. Tive apenas uma visão breve do mar naquele dia, mas aquela imagem de rara beleza permeia minha memória até hoje. Nunca mais esqueci do meu encantamento à primeira vista por aquele lugar. Era como se eu, enfim, tivesse encontrado a paz.

Também encantados devem ter ficado os jogadores do time adversário na noite de ontem. Conheceram aquele que é o estádio mais bonito do Brasil, quiçá do mundo, já na sua primeira viagem para fora da Bolívia. Nada contra o país, mas Porto Alegre é primeiro mundo perto daquilo. E para sorte daqueles pobres infelizes jogadores, encontram no Beira Rio a paz. A paz de jogadores vencedores que de tanto irem à glória, cansados, optaram pelo marasmo da bola e, com isso, pouparam os desafortunados bolivianos da derrota.

Não poderia haver adversário melhor para uma primeira experiência fora da Bolívia. Um adversário que não impõe qualquer destemor e que transformou, para ajudar, seu velho estádio de pressão e achacamento de corajosos algozes, em campo neutro.

O Gigante da Beira Rio virou um campo neutro.

Quisera tivesse eu a sorte de, hoje em dia, reencontrar aquele Senhor da fila que me motivara a ir, pois num gesto simples ele me proporcionou uma das maiores satisfações da minha vida: conhecer Garopaba e toda sua beleza. Por anos eu segui visitando-a depois daquilo, até que a cidadezinha cresceu para além da conta e deixou de ser uma vila de pescadores (da função e de ilusão – tal qual eu) para sucumbir aos desejos infames da especulação imobiliária. Mas ainda assim é bonita e, se eu tivesse de escolher um último lugar para visitar novamente, seria Garopaba sem pestanejar.

O Real de ontem certamente haverá de anotar na sua história da façanha de não ter perdido no Gigante Colorado, ontem. Maior façanha não há, todavia, que aquela protagonizada pelo próprio Sport Club Internacional, em mais um destemperado fracasso retumbante e vexatório.

Saudade do tempo que o campo neutro do Beira Rio era na parte em que estava postado o adversário, cuja única esperança na boca do túnel era poder, ao final, estar ali novamente de cabeça erguida, depois de perder de pouco para a artilharia do massacre alvirrubro.

Hoje o Internacional não assusta mais ninguém. Até quando?

 

CURTAS                                                                              

– De brevemente sonolento em campo, o Internacional já nem entra mais em campo;

– Algo não está bem. Algo não cheira bem;

– Defensor irrestrito de Coudet e ilusionado com o outrora desempenho do seu time, admito que talvez Chacho e Inter estejam neste momento numa encruzilhada;

– Vivi já o suficiente para concordar com quem sugere que estão querendo derrubar o treinador. E não é somente os jogadores;

– Não se salvou nada ontem. Com um pingo de vontade apenas os que chegaram agora, insuficiente até mesmo para ganhar dum time amador, convenhamos;

– Nem mesmo o Barnabé merece elogios. Não precisava muito ontem para alcançar o mínimo de destaque;

– Autorização para torcida organizada fazer reunião com treinador e jogadores é o fim da picada;

– Culpados são tantos. Contudo, nada supera o poder de incompetência de Alessandro Barcellos: fracassos sucessivos no futebol, terceirização do vestiário para o treinador e empoderamento de um ex boleiro que virou o chefe do futebol – talvez sem estofo para tanto; Barcellos está sentado à beira do caminho.

 

PERGUNTINHA

Hoje o Internacional não assusta mais ninguém. Até quando?

 

Algo não está bem. Algo não cheira bem. E o presidente, uma vez mais, ninguém sabe e ninguém viu!

PACHECO

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