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Engraçado como transformaram o futebol, especialmente nos últimos anos, numa espécie de  “conto do vigário” (CDV).

Antes que o Louis, ou alguém mais que tenha dificuldades com expressões idiomáticas brasileiras não entenda, conto-do-vigário é uma história ou até mesmo uma presepada montada para enganar alguém.

O mais conhecido CDV, é o conto do bilhete de loteria premiado. Esse engodo consiste em dois picaretas trapacearem alguém não prevenido e que tenha vontade de levar vantagem fazendo essa pessoa cair numa mentira. O afamado “conto”, consiste em dois criminosos terem papeis definidos, um se passa pelo ingênuo do interior enquanto outro é o malandro da cidade para ajudar o bobo da vez a acreditar na anedota e “enganar” o ingênuo.

Assim, o picareta no papel de ingênuo tem um bilhete de loteria que ele afirma ser premiado, mas não sabe como retirar o prêmio e a vítima é induzida a pagar um valor menor que o prêmio para essa pessoa e fica com o seu bilhete “premiado” para dividir o prêmio com o malandro (mal sabe ela a essa altura o prêmio – mico – vai sair do seu bolso). A pessoa que quer levar vantagem, paga o valor, fica com esse bilhete, comemora com o malandro que pede pra ir no banheiro e some.

No final, um certo tempo após os dois estelionatários terem ido embora, a pessoa enganada se dá conta de que ficou apenas com um pedaço de papel que não vale nada e sem o dinheiro – que era seu – nas mãos.

Agora, antes de aprofundar um pouco mais o tema, vamos brincar de finanças pessoais.

Não vamos entrar aqui em questões técnicas como, por exemplo, o que rende mais ou o que rende menos, assim como o que acontece com depósitos em poupança feitos a partir de 4 de maio de 2012 quando a Selic estiver abaixo de 8,5%… deixemos isso para discutir em outro momento pra poder xingar a Dilma e seu “sujeito oculto… que é um cachorro” (ela assinou uma série de decretos que dificultaram a vida de investidores). Se você acha que investidores são coisa do diabo e deveria morrer, que empresário é irmão do coisa-ruim… Parabéns! Você caiu em um conto do vigário: está brigando com as pessoas erradas.

Antes que você mande investidores fazerem sagu, pergunto: você pega dinheiro emprestado? A empresa que você trabalha pega dinheiro emprestado? Não? Beleza! Usa cartão de crédito? Faz compras no crediário? Pois é, desde a época dos templários “sistema financeiro” é a mágica de transferir recursos de poupadores para tomadores e, assim, possibilitar que sonhos, desejos e/ou necessidades possam ser realizados no momento presente criando uma capacidade financeira hoje (a um precinho, camarada – ou nem tanto, claro!)… Tá! Mas sem questões técnicas! A ordem é simplificar o processo: vamos considerar o rendimento clássico da poupança: 6% a.a acrescido da variação (quando positiva) da TR.

Logo, a pessoa que tenha ou que consiga guardar R$ 1 milhão de reais em uma conta de poupança, nos dias de hoje, com as regras atuais conseguiria por mês algo entre R$ 5.000,00 a R$ 7.000,00 (em média) pelo resto da vida, e quando morresse ainda deixaria R$ 1 milhão de reais para os herdeiros brigarem.

Assim, quando a gente começa a pensar em montantes guardados maiores que R$ 1 milhão e investimentos mais qualificados do que a poupança, a gente começa a entender o porquê do conto que nos tentam passar que “futebol é só paixão” (mas me de seu dinheiro antes).

Se R$ 1 milhão de reais já dá um certo conforto financeiro, imagine R$ 10 milhões de reais, e assim por diante…

https://twitter.com/jessloures/status/834457492956520448/photo/1

E pensar que o Paulão ganha esse “primeiro milhão” a cada 2, 3… ou, no máximo, sei lá, em 5 meses. É aqui que as duas coisas se juntas, o conto e sistema financeiro.

Daí, chegando nesse ponto, fica ainda mais surreal a situação que nos é colocada a cada jogo: os dirigentes pedindo pra que torcedores ajam com a paixão, e os torcedores, apaixonados, pedindo que os dirigentes ajam com profissionalismo, não só os dirigentes assim como os jogadores. O que torna isso mais surreal é o fato dos apaixonados não receberem nada, nenhum tostão, enquanto que os profissionais recebem seus salários em dia, mas dizem que agem com algum sentimento. Realmente, eu não consigo entender nem perceber lógica no porque se investe tanto dinheiro em atletas com virtudes técnicas no mínimo questionável.

Futebol é paixão, eles dizem… Mas antes de me dê o seu dinheiro – devem pensar. Quando conseguimos um jogador que começa a se destacar ele é vendido tão rápido quanto aparece. Ao lembrar do clássico lance do Pato levando a bola com o ombro no mundial de clubes eu só consigo o Fernando Carvalho esfregando as mãos com um sorriso satisfeito no rosto, enquanto pensava “Oba!”.

Tente imaginar só de 2000 para cá quantos jogadores foram contratados e quanto foram vendidos. O Inter é um dos clubes que mais faturou com vendas de atletas no período, ao passo que isso só serviu para aumentar o valor médio do salário de quem chega e proporcionar recordes de arrombamento do caixa colorado, e onde isso nos levou? DERROCADA.

Para reflexão: quando o jogador não vai bem, o ônus é do clube. Quando ele se destaca existem vários donos para dividir o resultado. É no mínimo questionável, já que, segundo a FIFA, apenas clubes podem deter direitos federativos e participar dos direitos econômicos dos atltetas… apenas para reflexão.

Por fim, a sensação que fica é de estar vendo a movimentação de uma corretora. Lá, independente do investidor ter uma operação vencedora (ganhar dinheiro) ou perdedora (perder dinheiro) o agente intermediador sempre fatura a comissão, conhecida como corretagem. Então, em nome dessa corretagem, qual será o novo bilhete premiado que vão nos vender?

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