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Última segunda feira do ano.

Este é o meu derradeiro post regular.

Tive imenso prazer em receber do big boss a oportunidade de escrever no BV  nesse ano e também por ganhar dos leitores alguns comentários incentivadores.

Me retiro por absoluta falta de motivação em seguir escrevendo sobre o que ocorre nesse querido clube. Nada de novo que não seja de conhecimento de todos, desnecessário repetir e repetir. É muito triste se acompanhar uma involução como a que o Inter passou e não ver nenhuma tentativa de recuperação. Fases, boas ou más, ocorrem sejam para pessoas, sejam para instituições e países. É a gangorra da vida: altos e baixos. A acomodação em que hiberna nosso clube é a pior situação que possa haver: esteve mal, está idem e pelo visto seguirá assim.

Não existe mais a emoção de ver o Inter jogar. Aquela que se tinha quando havia exuberância estética e comprometimento de todos por uma espectava e que eu vi quando……

Meninos, eu estou vendo! Estou nos Eucaliptos – 1959? – agarrado no        alambrado, todo molhado do mijo que vem jogado dos degraus de cima, quando Larry entra no segundo tempo – nem lembro contra quem jogam (será o Cruzeiro?) – e faz 2 golos em 15 minutos num jogo de até então zero a zero, se mete num entrevero com algum adversário e é expulso. Tudo isso aí, na minha frente, sob os olhos de um garoto de 17 anos, que vê jogar um ataque com 5 (com 5, pode?): Luizinho, Bodinho, Larry, Jerônimo e Chinezinho.

Encerro minha participação como postista regular mas, como todo adito, não poderei em algum momento resistir à um ou outro comentário. Espero que o big boss me conceda essa graça.

Graça essa que espero que reapareça, como as que haviam outrora quando eu vi…

Meninos, eu vejo! O Gigante inaugura-se – 1969 – e Claudiomiro faz o primeiro gol do Inter nele.

 

Meninos, sigo vendo! Estou em um churras num belo e quente domingo de final de 1975 na casa de Belém Novo do Kiko (o Strougo, diretor do Inter) e ele está ansioso para sair: vai ao Gigante. O Inter jogará contra o Cruzeiro e a partida decide a Taça Brasil (se chama assim). Kiko levanta-se da mesa e pergunta quem quer ir ao campo pois ele tem alguns ingressos: Eu quero!!! Vamos no seu carro com motorista e entramos meio diretos.

O Inter sem os seus laterais titulares (Cláudio e Vacaria) e em seu lugar Waldir e Chico Fraga. Do lado dos azuis uma seleção fantástica. Eu não consigo ver muito bem o gol iluminado do Figueroa pois estou sentado atrás do golo contrário. Creio que Waldomiro cava a falta em que ele cruza para área, mirando o raio de luz. Ao pular logo depois de Figueroa e junto com todas as pessoas do estádio lotado, tenho a certeza de que Figueroa não pula só! Golo do Inter, nosso golo!

 

Mesmo estádio, mesmo dia: vejo uma das defesas mais extraordinárias que tenho a sorte de presenciar:  Manguita em um chute de falta do Nelinho, com a bola fazendo duas curvas no ar – estou atrás do golo, bem na linha da bola, a olho diretamente – e com a segunda curva tenho nesse momento a certeza de que será golo mas Manguita dá uma volta no ar e a espalma para fora. Ele voa!!!!!

 

Não se pode esperar que hoje o futebol tenha as emoções de outros tempos, mais lúdicos, menos pragmáticos! Como? O que dizes, postista? Que bobagem é essa? Discordo falou meu grilo: tem que ter sim. É espetáculo e não uma sessão de tortura. A mediocridade chegou no Inter, viu e venceu, fora e dentro do campo; perdeu-se a esperança de esperar algo de bom dessa equipe. Soa muito amargo para um dia de Natal?

Sim, e esse sou eu há algum tempo, ácido e triste, e assim estou especialmente hoje, dia de despedida. Na saída chegam as lembranças do que foi, do que ocorreu, do que vi mas, tem coisas que sucederam e eu não vi como…

Estou agora em um Inter e Esportivo de Bento pelo Gauchão de 80 ou por aí, um campeonato que não tem nada de charmoso; zero a zero, 40 do segundo tempo, Inter em cima, Esportivo se defendendo e meu filho mais velho – pequeno então – me puxa pela manga: Pai, qué cocô. Agora? Dá para esperar? Abana a cabeça.

Fazer o que? A natureza chama e o homem obedece. Levo-o correndo ao banheiro, no caminho pego papéis com o vendedor de cachorro quente para forrar o vaso (tampa nem pensar) e fico de olho nele, mas corro para ver alguma coisa no campo, e nesse vai e vem: penalty contra o Esportivo!!!! E meu filho fazendo cocô!

Torço para que ele não me chame logo agora, mas, claro, escuto: Pai, fiz. Corro ao banheiro e enquanto limpo-o da melhor forma possível escuto o urro da torcida – o estádio trepida no banheiro, posso confirmar isso –  e com o filho no colo corro enquanto arrumo suas calças a tempo de ver os jogadores festejando. Perdi esse golo, meninos, mas por uma causa justa.

Entendo a busca pelos lances do passado, pelos feitos retumbantes, a retomada das lembranças do campeão de tudo; o passado ganha do presente por 7×1  e o futuro é um borrão sem contornos definidos. Campeão do mundo, ganhar do Barcelona lá, no outro lado do mundo isso é emocionante, como que …

Puxa! Estou aqui em 2006. O flat em que moro em São Paulo é acanhado como convêm a todos, hoje é domingo mas acordo meio cedo e vejo o jogo contra o Barcelona em uma TV pequena. Vejo é modo de dizer: espreito temeroso por detrás do balcão onde está a cafeteira e a torradeira. Tomo meu café da manhã e de soslaio olho o jogo; homem de pouca fé,  não acredito muito em um bom resultado embora anseie por ele. Mas torço e – ufa! – acaba o primeiro tempo. Pelo menos não se perdeu nele. Agora são só mais 45 minutos e tudo que vier é lucro. Sento na frente da TV, mais relaxado.

Yarley! Olha o Luiz Adriano na tua direita, correndo só. Não, para o Gabiru não…..SIM !!! SIM!!!!! Gooooooooooooool!

 

Não me alongo mais pela emoção que me impede nesse momento de pensar com mais clareza. Enchi o post de vídeos; disfarçam o clima.

Desejo que todos tenham um ano de 2018 diferente desse triste 2017, ao menos escrevendo em termos de fatos futebolísticos.

Em termos pessoais, é tristeza deixar de escrever no BV. Antes de começar o big boss me disse que queria alguém que escrevesse bem e tivesse o que dizer. Boss, não quero te decepcionar mas já não tenho mais sobre o que escrever; me torno redundante em cada post. Pior ainda: amargo pela natureza das coisas, pela agonia de ver o que foi outrora um orgulhoso time de futebol reduzido à isso que aí está, conduzido por quem o maneja, desconsiderado, saqueado.

Por isso a retirada. Não é um adeus, é um até logo, espero. Tudo que mais quero é ter assunto agradável para guardar na galeria da memória, junto com esses fatos que revivi agora. Quem sabe um dia?

Um abraço e até mais.

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