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Quando pude, enfim, ver com meus próprios olhos o grande time do Internacional da década de 1970 não havia muito mistério ou dúvida quanto à capacidade vencedora daqueles jogadores: estavam tão acostumados a ganhar que aquilo parecia uma simples rotina. Ficamos nós os torcedores já daquele tempo não somente encantados, como mal-acostumados. Eu poderia aqui me conter ao fazer trocadilho com título de novela, mas não irei, pois íamos mesmo ao Gigante da Beira Rio apenas para conhecer da “próxima vítima”.

Mas aí vieram os anos seguintes e parece que, um a um, os refletores do nosso palco sagrado iam se apagando, escurecendo a vivacidade do time e desalentando pouco a pouco os corações nossos de Colorados. Fomos de caçadores à caça, já não éramos mais os imbatíveis. Flertamos com a sina dos perdedores, porém sempre havia uma fagulha de esperança que mantinha acesa a chama do Sport Club Internacional, outrora Rolo Compressor e um dos melhores times do mundo.

Cruzamos dias de inverno intermináveis, quer por nossa própria incompetência ou mesmo pela má fé (para dizer o mínimo) de tantos e tantos. Até que me vi numa noite sentado na velha arquibancada do místico Gigante. O ano era 2006 – Copa Libertadores da América. Lógico que a campanha vencedora tinha iniciado algum tempo antes, quando começamos a buscar jogadores com vontade de vencer e que sabiam o que representava ganharem com a camisa Colorada, todavia ali time e torcida saíram de casa e ao se cruzarem na rua sabiam que precisavam um do outro.

O título da Libertadores de 2006 se forjou na sinergia entre o time e a torcida.  E ali sentado no cimento frio do Beira Rio eu voltei no tempo das glórias que vi e ouvi dizer, quer pelas ondas do velho rádio à válvula do meu pai, quer pelo berro de euforia que a torcida Colorada não se cansava de entoar.

E naquele momento sentado e refletindo em meio à multidão de vermelho, naqueles gritos que ecoavam ao vento que vinha do Guaíba, eu ouvia anos e anos de melancolia presos na garganta e que enxergavam dentro de campo o caminho já conhecido da felicidade; e eu ouvia ainda mais do berro de guris e gurias cuja a esperança era a mesma só que com um novo propósito, o de viver o que vivemos e ainda não tinham tido a chance. E dentre adultos e novos, senhoras e moços, velhos como eu e crianças de colo todos éramos um só no berro: uma torcida Colorada pulsante a levar seu time até o ponto mais alto da história dos vencedores.

O Internacional nunca chegou longe sem contar com o grito do seu povo.

Pois na terça-feira que passou, sentado na mesma arquibancada do Beira Rio, agora com cadeiras ao invés do cimento frio, confesso que um filme não tão antigo porém feliz passou pela minha cabeça novamente. Eu ouvi os gritos de quem quer viver tudo de novo outra vez e ouvi o berro de quem tem certeza que precisa conhecer daquilo tudo ainda. Eu senti que time e torcida se cruzaram na rua e tiveram a certeza que precisavam um do outro em casa – no Gigante, no grito e no berro. E assim fora criada a sinergia da vitória.

Não sou sensitivo, não conheço a fundo de místicas e religiões. Mas sentado ali onde sempre me senti em casa, dentre berros, gritos, silbidos, clamores e cantorias, eu creio que vi e ouvi a mesma sinergia dentre time e torcida que presenciei lá nos anos 70 e que custei mais vi e vivi de novo em 2006.

Como disse, não sou sensitivo e não conheço a fundo de místicas e religiões. Contudo, conheço bem da esperança (la ilusíon del Chacho) e saí do Gigante da Beira Rio com ela berrando dentro de mim.

Por isso uma vez mais repito, sem medo: seremos, sim. Seremos novamente campeões!

 

CURTAS          

– Parabéns, Eduardo Coudet! Estamos tão mal-acostumados a enxergar o bom trabalho dum treinador que me faltam palavras mais rebuscadas à felicitação;

– Como é bom olhar pro campo e ver que os jogadores querem tanto como a gente;

– Nosso Wandeco reapareceu. Bustos também. Johnny virou soberano. Mercado é jogador para La Copa. Renê é aquele jogador tático imprescindível para todo time campeão;

– Aliás, depois daquela corrida do Wanderson no primeiro gol, quem ficou sem pernas fui eu;

– Falei outro dia do goleiro que já se pagou e preciso falar igualmente de Enner Valencia, que também vale cada real dispendido;

– Posto que preciso me repisar: o que só comprova que nunca é caro investir em jogadores que fazem a diferença;

– A atuação do Galego de zagueiro foi uma grata surpresa;

– Precisamos agora é querer ganhar sempre;

– Um time campeão tem um goleiro, um camisa 10 e um centroavante de envergadura… como nós temos;

– A história ainda não acabou: “Uma batalha a mais. E seguimos com a ilusão de ir com tudo. Lembrem constantemente, a ilusão de ir com tudo, de jogar pela gente que amamos… vamos jogar por eles, por nossa gente querida…”Coudet, Chacho.

 

PERGUNTINHA

Vamos todos gritar juntos, Nação Colorada?

 

Novos dias de glória virão com nosso berro, Povo Colorado!

PACHECO

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