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No dia que nasceu meu último filho eu estava com o carro na garagem o que era raro já que quase sempre ficava ao relento defronte à casa. Inobstante ele estava de ré, algo que eu menos ainda era acostumado a fazer. Chegou a hora de se dirigir ao hospital (eu nasci de parteira, mas não julguei prudente repetir tal epopeia com meus filhos), fui abrir a tampa do porta malas da minha Ipanema preta (gostava daquilo lá) e não me dei conta que o carro estava tão próximo à churrasqueira, que tirei uma lasca da quina do meu instrumento de trabalho em casa.

Eu já tinha vivido aquela experiência ‘única’ do nascimento de um filho outras duas vezes, mas ainda assim na última eu parecia estar num transe, mistura de agonia, expectativa e fé de que tudo ia dar certo e viria mais um guri Colorado ao mundo.

Na terça-feira eu voltei ao Gigante da Beira Rio após algum tempo de injustificada ausência. Estacionei o carro no curso da orla do Guaíba e lembrei dos tempos de longas caminhadas ao Beira Rio ou das viagens de Centralão quando morava no Vale. Muitas sagas eu fiz para estar próximo do Colorado e agora que tudo está relativamente mais fácil e prático, cada vez vou menos. Logo eu que quando coloco o pé no pátio sempre estou certo de que estou em casa…

Na breve caminhada até as Ruas de Fogo eu estava confiante; confiança esta amplificada em meio àquela legião de Colorados com fé. A atmosfera do Beira Rio era a mesma das tantas que vi e vivi: dos dias de glória. Minha intuição era de que terminaríamos a noite em alegria, não havia pessimismo capaz de me impor qualquer sensação diversa que não a de que a vitória era nossa; e nem mesmo o arbitro infausto conseguiu mudar a convergência de astros alinhados em prol do Internacional para que o dia oito de agosto fosse um desses nossos tantos dias de glória.

Como eu disse na minha última estada por aqui, não sei se este time enquanto grupo já está preparado para ser campeão, mas certamente um passo gigante foi dado com esta nova epopeia de agosto em nossa vida colorada.

A começar pelo goleiro.

Se é bem verdade que todo time campeão começa por um grande goleiro, tudo fica ainda mais fácil quando além disso temos um que gosta de vencer. Em meio a defesas fundamentais em duas partidas, eu vi o uruguayo Rochet cair em campo para forçar a análise de um pênalti que nos fora afanado, eu vi ele no grito fazer anularem um pênalti batido em dois toques pelo adversário e eu vi, muito de perto ali do velho Portão 8, ele pegar a bola e dizer ao companheiro que a responsabilidade da classificação era sua: se não fosse pelas mãos, seria pelos pés.

Eu vi, ninguém me contou.

Eu vi também o argentino Mercado entregar sua própria vida ao time, eu vi Bustos próximo do seu velho e bom futebol – tal qual Vitão, eu vi Renê em noite irretocável; vi Johnny demonstrar que seu negócio é futebol e não soccer, revi Charles justificar seu principado, vi Wanderson apesar dos pesares fazendo um jogo tático de sucesso, vi novamente um gol de falta do Gigante e só podia ter a marca de um camisa 10. Eu vi Valencia que é um jogador de outra prateleira e que bateu um pênalti com deboche, coisa que só os de outra prateleira sabem fazer bem feito.

Eu vi o melhor Internacional de todos os tempos, o de 1970. Ninguém me contou. E apesar de não ter mais capacidade cardíaca para aguentar as emoções que o Inter insiste em me proporcionar e este time atual não ser o de 1970, uma emoção tal qual aquela do nascimento do meu último Guri Colorado ainda me toma conta desde terça-feira. Apesar de já ter vivido tudo aquilo antes, eu agradeço a Deus pela oportunidade de ter vivido tudo de novo.

Agradeço a Deus por ter me dado a chance de estar no Gigante da Beira Rio e poder viver mais um momento de felicidade junto com o Internacional. Viver tudo de novo: um dia de glória!

Por isso repito, sem medo: seremos, sim. Seremos novamente campeões!

 

CURTAS          

– Depois de muito tempo falando aqui de treinador, não há nada diferente a se dizer: parabéns, Chacho Coudet;

– Como é bom estar ganhando e o treinador trocar o time para tentar ganhar por mais;

– Eu sei que foi um jogo de exceção. Mas, a esta altura do ano já não me custa sonhar que podemos transformar quase todas as partidas que vem em atuações de exceção;

– Trouxemos um goleiro que se pagou em duas partidas. O que só comprova que nunca é caro investir em jogadores que fazem a diferença;

– Aliás, por falar em investimento, necessitamos ainda para agora de um quarto zagueiro e um lateral esquerdo, ao menos. Não dá para arriscar;

– Precisamos agora nos alinhar no campeonato nacional;

– Não interessa se foi “apenas” uma passagem de fase: este jogo contra as galinhas argentinas entrou para a história dos nossos dias de glória;

“Hoje é por nós, por nossa família, e por toda essa gente que está na rua, caralho!!!!” – Rochet, Chino;

– Foi por toda uma Nação, Chino. Toda uma Nação. ¡Muchas Gracias!

 

PERGUNTINHA

Estão deixando a gente sonhar, Povo Colorado?

 

Novos dias de glória virão, Nação Colorada!

PACHECO

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