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Conheci muitas pessoas na minha jornada até aqui. Umas por certo tempo, outras por alguns minutos. Aprendi em algum momento a fazer uma leitura breve da personalidade alheia e creio estar logrando relativo sucesso com minha tática, afinal, são raras as vezes em que me engano com as pessoas. Obviamente isso não tem muito valor quando há paixão no contexto. Ou seja, quando o assunto envolve o Internacional.

E para tanto que toda a vez que de alguma forma eu tento ser de tal maneira definitivo em um tema por aqui, logo me penitencio em razão de alguma diferente realidade que não tarda a me atingir, afinal, em matéria de Inter não há dúvida de que o filósofo da bola aquele tem surpreendente razão: “a verdade de hoje é a mentira de amanhã”.

Trabalhou comigo na repartição o Seu Milton. Era motorista. Ou a vida lhe tinha sido surrada, ou de fato era bem mais velho que todo mundo. Sujeito pacato e de fala mansa, nada lhe irritava e não tinha tempo feio. Embora não fosse “lotado” no meu departamento, era o popular “severino quebra galho” e dirigia com a mesma destreza o Uno branco ou a velha Caravan. Seu único defeito era o pito. Não bebia e acalmava a sua já nada agitada vida fumando. E bastante.

Aliás, concluí que vive mais e melhor aquele que sorve da vida no seu próprio ritmo e não naquele que a sociedade tenta nos impor. É pena que demorei tanto para aceitar isso que vos digo. Vivi por anos em alta rotação e a vida diariamente me cobra, com juros, o preço de toda essa loucura.

Depois que se aposentou, por muito tempo não vi o Seu Milton. Até que um dia caminhando meio sem rumo pelas ruas da Capital fui abordado por um vivente me chamando baixinho, quase nem notei. Era ele, com um cigarro na mão direita e um sorriso de alegria no rosto. Parei e lhe abracei, afinal, já não era sempre que cruzava por pessoa de bem pelas ruas (e está muito pior agora).

Contou-me da vida, que foi embora pra Serra e voltou a trabalhar pois não aguentou ficar em casa; foi primeiro taxista e tinha se achado mesmo como motorista de carro de funerária. Inclusive estava ali nas imediações do hospital esperando a liberação do defunto para levar à preparação, depois velório e etc.

Fiquei tão impressionado que o assunto do nosso reencontro virou aquela história de motorista de funerária. De todas as peripécias que contou, uma em particular nunca esqueci: voltava também da Capital e, Serra acima, começou um barulho de batida. Intermitente, a ponto de lhe chamar muita atenção: e se o morto estiver vivo?

Reconheceu que até para um ser pragmático como ele, ousou por segundos acreditar no imponderável. Contudo, do seu jeito pacato de sempre, logo voltou a si a passou a pensar de forma racional. Muitos quilômetros depois achou um lugar para parar o veículo e, enfim, constatou que o barulho de fato não era do morto se julgando desconfortável no caixão, mas sim, do engate do cinto de segurança do banco traseiro que restara e que ficara para fora quando fechou a porta. Na reta não lhe chamou atenção, mas quando as curvas da serra se acentuaram aquilo batia contra a lataria e, então, a origem do barulho.

Calmamente, como de costume, colocou o cinto pra dentro e seguiu para o seu destino levando seu acompanhante.

Decidi, até mesmo por tudo que ocorreu pelo Rio Grande, acompanhar o Internacional da forma mais pragmática possível daqui para frente. Não criarei expectativas, por ora, e com isso não serei acometido também pelo imponderável do susto ou mesmo da falsa esperança. Tentarei ser um pacato sujeito Colorado, sem dinheiro no bolso, sem parentes importantes e (com sorte) indo para o interior.

Colorado e pragmático!

 

CURTAS                                                                              

– Chacho se mostrou bem mais “animadinho” após a segunda vitória consecutiva. Vai ver, tal qual nós torcedores, estava decepcionado com o próprio time. Mas passou (por enquanto);

– Pipocam os números de Eduardo Coudet a frente do Internacional e contra fatos não há argumentos;

– No caso do futebol, o prazo de validade do treinador que falei semana passada não parece fazer sentido algum. O assunto de outrora já se mostra notícia sem valor;

– Os números, todavia, se chocam com a realidade quando claramente o time segue sem conseguir colocar a bola na casinha. Bah tchê, que parto para fazer um gol;

– Na falta de Borré e Valencia, precisamos discutir a busca de mais um avante. Alario não será mais o que já foi e nem terá preparo físico para uma maratona como titular;

– Bustos é o melhor lateral direito que temos em uma década. Porém, não lembro de ter acertado um só cruzamento nesta temporada. Fica aqui quem quer e era isso;

– Falta malícia ao presidente Barcellos para saber como se tem de agir com CBF e Conmebol nesta insistente imperícia de árbitros ao nosso desfavor. Reclamar é preciso e saber como fazê-lo, também;

– O velho Gigante da Beira Rio de guerra, na foto de Daniel Marenco, segue falando por todos nós. Exuberante!

 

PERGUNTINHA

Colorado pacato: chance de sucesso?

 

Diminuir o ritmo da vida parece uma utopia para o bom Colorado.

PACHECO

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