Mauro Loch

COM 11 É MAIS FÁCIL

4.7
(27)

Será um texto longo, talvez não agradável.

Ando um pouco cansado da nossa torcida, ou pelo menos de parte dela, mimada, tacanha, pequena e sem visão do que foi e do que é o Inter, e principalmente do que é futebol.

Estamos numa fase de torcedores de jogadores, de ex-jogadores, de dirigentes, e até de executivos de futebol. Torcedores de derivativos do clube.

Parte da torcida foi ridícula ontem no estádio, vaiando gol, vaiando Gabriel.

Outra parte cansativa é tratar cada derrota como se fosse uma tragédia, um fiasco, um vexame.

Fiasco é ser eliminado pelo Globo, principalmente porque o empate classificaria. Neste ano, paramos aí. Eliminado pelo Melgar em quartas de final não é vexame, fiasco ou tragédia (talvez financeira e de expectativas); é uma eliminação.

Perder ou ser eliminado por times mais fracos, com folha menor ou sem a mesma história não é vexame nem fiasco, é futebol, e é isso que encanta no futebol, ou seria simplesmente uma conta matemática de investimentos no time e folha, e não é, ainda que os mais ricos tenham mais chances.

Traduzir como vexame qualquer derrota ou eliminação para times menores é diminuir a maior conquista do Inter. É esquecer que nos nossos maiores títulos, nunca fomos o favorito, e sempre enfrentamos times melhores no papel. Cruzeiro tinha Raul, Piazza, Palhinha, Joãozinho e Nelinho. Se você não é dessa época, não tem noção do time que era esse Cruzeiro.

O Corinthians vencido aqui no Beira Rio tinha eliminado o Fluminense de ninguém menos que Rivelino. O Inter não era a sensação, era um time que jogava muito futebol, com grandes jogadores, em uma época em que vários times tinham grandes jogadores. Em 79, Vasco era favorito, e muito, assim como o SP na Libertadores. Nem vou falar de mundial. Ou vamos tratar nosso maior título como um simples vexame do adversário?

O Inter foi hegemônico em duas décadas sem nunca ser favorito, sem nunca ser reconhecido como o melhor time do momento, porque futebol se ganha no campo.

Então está na hora de parar de babar ovo para Pedros desonestos e mauricinhos e engraçadinhos que rasgam princípios para se manterem no emprego, e repetir que cada derrota ou eliminação do Inter é uma tragédia, um fiasco, um vexame. Hora de parar de repetir o que qualquer abobado em rede social diz, talvez sendo papagaio de empresários ou pretendentes a dirigentes.

Outra coisa cansativa é elogiar o Inter reativo, que sabe jogar em transição rápida. Acho isso ótimo, mas quando pedimos um jogo propositivo é para ganhar jogos do Melgar, do Avaí. Não adianta ser reativo contra o Goiás, e essa conversa já encheu os meus botões.

Dito isso, fiasco é não jogar, não lutar, não se entregar em campo. Isso é vexame, isso é que deve ser combatido. Teremos, temos e tivemos jogadores ruins, isso é admissível. Há jogadores que tem só uma boa temporada, outros que terão uma temporada ruim, é do esporte; são poucos os que se mantém por cima com regularidade.

Mas não é aceitável jogador que não se entrega pelo time, que não joga quando precisa, que está em campo a passeio, só pelo salário.

Em vez de apontar o dedo para o resultado, a torcida tem que apontar o dedo para a falta de vontade, profissionalismo e dedicação de alguns jogadores. Muito pior que ser ruim é ser desinteressado.

Sobre o jogo de ontem, Diniz não tem bom histórico contra o Inter, e vimos um time interessado, brigando o tempo todo. O Inter pressionou até os 50 do segundo tempo, e não vi ninguém falar em falta de preparação física.

Jogo de superação? Talvez. Depois de uma eliminação em casa, em um torneio onde se depositava esperanças, o time reagiu bem, embora a torcida tenha reagido mal.

Não quero dizer que a torcida deve ficar acomodada, achar que perder ou ser eliminado é bom ou normal e não deve ficar braba com o time ou clube. Quero dizer que, na hora do sexo, você não broxa pensando que sua parceira pode ter tido outros parceiros.

Mano acertou na intensidade do time, alternou momentos de marcação alta (ninguém fez marcação alta no Inter como Coudet) e linhas mais baixas, mas, sobretudo, controlou o lado esquerdo do Fluminense, com um Johnny endiabrado na marcação, entregando tudo que tinha, apoiando Bustos em todos os momentos, mais Gabriel na sobra. Aliás, Johnny teve 8 desarmes só no primeiro tempo, deu assistência para o gol do Bustos e parou no milagre de Fábio no cabeceio.

Isso resultou em um chute do Flu, aos 9 minutos de jogo, e nada mais. Outras duas chances em escanteios com bola desviada no primeiro pau, e só. O Flu trocou passes, tentou todas as alternativas, mas a marcação do Inter esteve implacável, com boa atuação da zaga. Daniel só olhou o jogo.

No meio, o time estava coeso. De Pena, mais solto, já que Johnny fazia a marcação que o titular nunca fez, voltou a jogar bem, ocupando mais espaços, sem se limitar ao lado esquerdo do Inter. De Pena marcou, mas atacou, lançou, chutou, e ainda enquadrou Ganso. Fez o gol pela direita, onde nunca está quando Edenílson está em campo.

Wanderson é de outra prateleira do futebol, um achado, rápido, tático, e se coloca muito bem. Teve uma sequência de dribles de vinheta, e merecia o gol. Alemão é brigador, impositivo, e ainda lhe falta um pouco de técnica, desperdiçando duas belas jogadas em domínios equivocados. Mas foi decisivo e isso é que conta para a posição.

Maurício mostrou o tamanho do erro de Mano na quinta. Com movimentação livre, como nos tempos de Medina, armou, defendeu, atacou e esteve sempre bem posicionado. O gol anulado, ou melhor, surrupiado em outro escândalo do VAR, seria a coroação de uma bela atuação. Maurício não tem a técnica refinada de A Patrick, nem tira jogadas da cartola como o atual 10, mas dá intensidade ao time, e oferece o chute.

E Mano errou feio quando substituiu Maurício por Pedro Henrique, ferrando o meio do time, o que corrigiu logo depois com o ingresso de A Patrick. É muito erro durante o jogo para um treinador com a experiência que tem. E nada de Estevão ou Lucas Ramos.

Pedro Henrique não tem nada com isso, fez o que Mano disse pra fazer, e se consolida como o necessário 12º jogador, como a alternativa de alta velocidade. Não consigo ver sua titularidade ainda, principalmente com esse esquema, mas é o jogador necessário, que muda e incendeia o jogo, além de saber fazer as faltas necessárias, coisa difícil hoje em dia.

Mano acertou na saída de Alemão, visivelmente cansado. Alemão precisa entregar o jogo todo, até se esgotar, e saber que tem substituto  a altura. Romero não tem o mesmo estilo que Alemão, mas é um bom jogador, muito rápido e inteligente, merecia o gol e o passe que foi pro PH. Além de se posicionar muito bem nos ataques, se desloca com velocidade e sabe partir pra cima.

Enfim, esse é o time que o Inter precisa em campo, 11 jogadores com vontade de jogar, com entrega, com dedicação, sem estrelismos, sem enfeites, sempre foi o DNA colorado não ter um salvador, não ter um Zico, Maradona, Neymar ou Arrascaeta, mas 11 jogadores que fazem um jogo coletivo, que faz emergir o que cada um tem de melhor.

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