Quase Assalto
Sábado fui buscar minha namorada no aeroporto. Confesso! Quando liguei o carro para me dirigir ao Salgado Filho já estava com uma ideia em mente. Juridicamente poderia ser chamado de crime premeditado: eu iria comprar a camisa preta do Inter.
Oficialmente esse é um desejo que tem Local, data e hora para o nascimento: Copa de 2010, África do Sul, 03/07/2010… Alemanha 4 x 0 Argentina. Eu imaginava como seria um grande time jogando de preto (outras palavras pra não dizer INTER), porque essa cor é um dos meus tons favoritos. Mas, além disso, ver um grande time jogando de preto e goleando a seleção argentina treinada por ninguém menos do que Maradona? Paixão certa!
Liguei o carro, acionei o waze e rumei em direção a capital. Não sei se vocês fazem isso pelos mesmos motivos, mas como a maioria (acredito) eu deixo o aplicativo configurado para dar as coordenadas com a voz feminina, a Alessandra. Os meus motivos são dois, primeiro é o óbvio, a voz feminina é mais agradável aos meus ouvidos; segundo a lógica, a gente já está mais acostumado com a mulher dando pitacos durante a condução.
Indo pela BR 116, pela altura de Novo Hamburgo (NH), a dona Alessandra, me sugere sair da estrada por um caminho alternativo. Foi quase um city tour, o restinho de NH e parte de Sapucaia do Sul, incluindo um passagem pela sede da Unisinos e em frente ao cemitério ecumênico para, segundo ela, chegar 12 minutos mais cedo. No fim deu certo.
Ao cumprir a primeira missão do dia, direcionei o foco para o estádio José Pinheiro Borda, mais conhecido como Beira-rio. Chegando lá, todos os acessos bloqueados. Como de costume, a gestão de logística do clube nunca decepciona! Sempre fazendo o possível para dificultar a nossa vida… Afinal, o interesse de fortalecer vínculo afetivo e induzir a gastar o máximo dinheiro com o mínimo esforço é só do torcedor mesmo, né?
Sem chance de acessar a loja do Inter de forma fácil, avisto um espaço que parecia ser um estacionamento. Ao parar o carro e descer sou abordado por um cidadão usando um colete sinalizador. Ele tenta sem o menor pudor, digamos, me “assaltar”:
– Bom dia – digo eu, ingenuamente – sabe me dizer se a loja do Inter está aberta?
– Opa! Está sim, patrão!
– Quanto custa pra deixar o carro aqui?
– R$ 25, meu chefe!
Vinte e cinco “tá okeys” pra simplesmente parar o carro por alguns minutos num espaço público?! Tudo na vida tem seu limite. Dei as costas e fui indo embora enquanto ele fazia uma última tentativa:
– R$ 20 pra ti!
– Por esse preço eu deixo o carro no edifício garagem!
Depois de escapar bravamente da tentativa de assalto, chego no acesso ao estacionamento com preços de open bar! MAS, agora, adivinhem se eu consegui entrar pela cancela… Claro que NÃO funcionou!
A parte mais triste é que o final da novela não foi feliz, pelo menos nesse capítulo, após toda a saga do estacionamento, sendo que eu deixei o carro parado na cancela mesmo com o pisca-alerta acionado, o vendedor da loja oficial não conseguiu me convencer a pagar o preço normal, que naquele dia era o mais caro, com todas as lojas da cidade fazendo promoção.
Aliás, uma nota: como tem vendedor mal preparado nessa tal de Porto Alegre! Estudem meninos, se aprimorem, se engajem! A gente passa muito trabalho para juntar nossos suados caraminguás pra ser tratado de qualquer jeito por quem quer tirar eles do nosso bolso. E uma certa loja chegou ao cúmulo do vendedor não querer efetivar minha compra porque eu teria de comprar mais peças pra não perder a “super promoção” de “leve 3, pague por 3 e faça de conta que pagou por uma peça só”. Fui obrigado a dar as costas e não levar nada.
Normalmente as meninas são bem melhores nisso, porque elas procuram entender e conhecer o que estão vendendo e, além disso, a maior diferença está e, simplesmente conversar com o cliente e entender o que ele busca pra oferecer a melhor solução.
Nova tentativa: Barra Shopping. Aqui fomos melhor atendidos, tanto que gastamos mais. Na peregrinação pelas lojas com minha namorada… Descobri que na Centauro roubaram quase todas as camisas pretas do Inter que eles tinham, que na Loja Americanas teve uma versão metropolitana de guerra de comida no dia anterior por causa da peleia pelos produtos em promoção… e encerrei esse o capítulo da novela sem poder ostentar “la niegra”.
Eu tinha em mente que o pai do Louis havia conseguido comprar uma e personalizar na loja do Inter do shopping Iguatemi (um quiosque, na verdade). Pedi pra nossa amiga Alessandra nos guiar até lá. Como bom colorado desvio da ponte em M projetada por algum engenheiro gremista, mas acabo de cara num congestionamento perto do Beira-rio. O Iguatemi estava longe, o trânsito pesado e a tarde muito quente (imagino o que os porto-alegrenses terão em janeiro). Como uma pessoa prudente agiria nessa hora, eu mudei a rota para o Shopping Praia de Belas.
Ao entrar no Praia de Belas, eu saio a procura da loja do Inter sem muito sucesso. Ao pegar informações descubro que ela está localizada numa posição, digamos, estratégica, que comercialmente pode ser entendida como sem destaque. Mas, isso depende muito de quem procura. Pra mim era perfeita: quase escondida, mas fácil de localizar. Eu andava pelo segundo pavimento. Descer e me dirigir a loja era quase como um templário em direção a terra prometida.
Chegando lá fui muito bem atendido juntando ao preço que estava dentro do parâmetro que eu esperava, foi compra certa. As meninas da loja tiveram o cuidado de orientar sobre o tamanho e serem simpáticas na venda. Pediram quarenta minutos para personalizar e após um tempo passeando pelo shopping, passar por aquela certa loja da “super” promoção (TNG), tomar um café, comer um sorvete e fazer planos para as próximas horas do final de semana… pela glória do bom Deus e pelas mãos das simpáticas lojistas, pude sair, finalmente, com minha aguardada peça.
Ao ver a personalização perfeita, com o número bem centralizado, elogiei o serviço. Assim, pude batizar a camisa antes do uso, vendo ela estendida sobre o balcão da loja e com o número virado para cima, pude falar a plenos pulmões e completamente feliz:
– Em homenagem ao oitavo rei de Roma, Paulo Roberto Falcão!