Proibidão
Hoje eu estou com as ideias confusas. Talvez isso se deva, em parte, por ter muitos pensamentos povoando minha cabeça, outro tanto pelo cansaço de uma viagem pelas nossas estradas – que estão longe de ser decentes – juntando com poucas horas de sono, frio, etc…
Ia eu pela estrada, domingo, próximo da meia noite, seguindo por aquele trajeto clássico: mal sinalizado, esburacado, com asfalto de péssima qualidade e outros desafios que fazem qualquer viagem uma aventura cheia de péssimas emoções.
Entre uma ultrapassagem e outra avisto a certa altura do trajeto três veados paradinhos a beira da pista, aparentemente esperando o melhor momento de atravessar a estrada sem virar patê. Lembrei do Louis! Não, nada disso que vocês estão pensando! Seus viados! Lembrei do Boss porque semana passada ele quase atropelou um veado desvairado que não foi tão cauteloso quanto o pequeno rebanho de mamíferos herbívoros sulistas.
Nisso me dou conta de que se me acontecesse algo naquele lugar, mais ou menos entre nada e lugar nenhum, naquelas circusntâncias de horário e dia, não teria ajuda nenhuma além da providência divina até o amanhecer da segunda feira.
Então dentro do carro a cabeça começa a fazer contas… Quantos morrem nas estradas do Brasil? Algo em torno de 70 mil almas por ano partem para outra viagem. Quantas pessoas ficam feridas nos mais diferentes graus por ano? Quase 400 mil vítimas. Daí numa estrada entre nada e lugar nenhum aparece um radar pra te fiscalizar! “coincidentemente” na metade final de uma descida. Escolas perto? Não. Cidade perto? Nada! Eu estava em dúvida até se minha sombra estava por ali. Mas, duas certezas eu tinha: os veados e o pardal (apelido carinhoso para os radares fixos – explicando aos estrangeiros).
Contudo, tenho de fazer uma confissão: quando eu viajo eu xingo a maioria dos caminhoneiros. Seja por estar lento, seja por derramar carga na pista, pelo farol… por infinitos motivos eu xingo. Insulto a maioria com todos os palavrões conhecidos e mais alguns inventados. Porém, é tudo da boca pra fora, fruto da emoção de momento, como num jogo acalorado em que briga-se palmo a palmo para ganhar, no nosso caso a vitória está em chegar vivo e num tempo de vigem descente.
Os caminhoneiros não tem culpa das estadas lixo que temos de andar. Ainda por cima, passam a semana inteira longe das suas famílias sendo explorados, passando trabalho e enfrentando as mesmas “descondições” de via. Mesmo assim, a maioria leva com dignidade de um lado e para outro a riqueza de um país que não “aprendeu” a se locomover por seu território de outro jeito que não fosse sobre rodas de borracha e um motor a diesel. Por isso, no final, as palavras são duras mas o trato é educado.
Daí a gente lembra que vivemos num país em que a população não cuida dos próprios dentes, uma boa parte já é banguela, que literamente tem merda na porta de casa e, como se não bastasse, a “deseducação” nos coloca entre os piores do mundo. País do futuro, é? ahamm
Sabe porque somos uma nação tão bosta? Pelo simples fato de que analisamos tudo como futebol e acreditamos que com dinheiro se resolve tudo. Basta apenas achar o salvador da pátria. Que só reclamar resolve, os outros é que tem de fazer as coisas certas.
Tudo na vida são interesses. O erro é achar que quem está com autoridade/poder/visibilidade tem esclusivamente interesses alinhados com os nossos. Antes que vocês comecem a se matar, setencio: a única diferença entre direita e esquerda no Brasil é a mão que enfiam na bunda do povo.
Assim como o INTER, dinheiro resolveu alguma coisa? Com as maiores receitas da nossa história, estamos com uma dívida monstra e no pior momento esportivo que se tem notícia desde a profissionalização do clube. Apenas uma coisa resolve de verdade: COMPETÊNCIA.
Sem competência e movido apenas por interesses (seja ego, seja financeiro… seja o que for) não se tem resultados consistentes. Ou seja, nosso microcosmos (o clube) é um espelho do que acontece no macrocosmo nacional.
Nos poupemos, uns aos outros, de soluções mágicas. Tudo começa no básico: se não cobrarmos por desempenho esportivo descente, comprometimento e profissionalismo seguiremos como as velhas marionetes pagadoras de mensalidades, ingressos e compradoras de bugigangas que sustentam o circo onde só tem um palhaço e que não ri no final: o torcedor.
#SemPaz