Cristian

O Inter não é o Brasil

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Sele-Inter (Olimpíadas de 1984)

Domingo almocei na casa de minha mãe. Depois do almoço de domingo, assistir TV deve ser uma espécie de regra da federação mundial das mães. E como a maioria das mães brasileiras, a minha tem a RGT como canal favorito. Já as novas gerações preferem o youtube – é um “bem feito!” por terem abolido a programação infantil.

Mas, enfim, depois da cantoria e do filme veio o aguardado jogo contra nosso arqui-inimigo. Afinal, enfrentar o Corinthians já deixou de ser rivalidade há tempos! Virou guerra fria.

Nisso, o pessoal de casa vai pegando no sono, os últimos a se entregar foram os cachorros esparramados no tapete… Resumindo, com a chuva que havia começado a cair pouco antes do jogo restou apenas a minha bravura e vigilância para ser o sentinela do embate.

Para me manter acordado, logo no começo do jogo, quase tenho um ataque cardíaco por conta da nossa zaga neófita. Acho que foi só pra me deixar ligado no jogo, porque depois os guris pegaram o ritmo – mas começaram o jogo BEM nervosos… e me deixaram junto, seus puto!

Com minha namorada dormindo escorada no meu ombro direito, não me senti a vontade de fazer muitos estardalhaços. O silêncio era rei naquela hora ali na sala de estar da minha mãe, dava até para ouvir meus pensamentos.

Pensei que ia ser uma transmissão neutra. Imaginei que não iriam puxar a brasa para um dos lados. “Hoje não! Hoje não! Hoje Sim? Hoje sim…”

Mas, pra variar, comecei a me irritar com a narração do jogo pela perspectiva corintiana. Tinha um comentarista gaúcho… mas era o Saraiva. O outro era o Caio Ribeiro, ex-jogador do brêmio. Apenas o Cleber Machado ainda tinha um ar de equilíbrio.

O INTER não é mais o Brasil

Lá pela metade do primeiro tempo veio um insight: jogo do Brasil contra um adversário qualquer, por exemplo, Costa Rica. Imaginaram a narração do Galvão Bueno e as observações dos comentaristas? Todos “Brasilcêntricos”, não?

Pois é o que basicamente acontece com todos os jogos do INTER transmitidos pela TV aberta, só que ao contrário: nós somos a seleção adversária! Essa narração com o centro do debate sendo nosso revés me irrita muito, pois, além de obviamente trabalharam o intelecto para “nosso mal”, a narração claramente não é neutra e depois do jogo falam com ares de justiça como se fossem a personificação da Deusa Têmis.

Fotografia: Jo Wobser Photography

As únicas narrações “Intercêntricas” ou “coloradocêntricas” de que me recordo foram com o Galvão: A final da Libertadores de 2010, a final do Mundial contra o Barcelona e a final da copa Sulamericana (ele tem seus defeitos, mas não é de todo mal o senhor papagaio).

Nisso, quando me dou conta, sou resgatado de meus devaneios por um dilema ético: gol do Damião! Na minha moral esportiva, forjada principalmente pelo judô, uma jogada com fraude é um lance nulo. Mas, um erro de arbitragem contra o Corinthians não consigo classificar como roubo, mas vejo como providência divina. No segundo tempo, a providência divida resolveu igualar o jogo para que o melhor vencesse. Resultado: empate.

Mas, não reclamo mais de atuações ou perdas. Desde que o Paulão saiu sou só alegrias para com o INTER. Além disso, duas coisas: primeiro, se pegarmos no papel o elenco do time e lembrarmos o começo do ano quem de nós imaginaria estar fazendo a melhor campanha do time na história dos pontos corridos? Temos de dar os parabéns ao Odair e seus comandados, estão fazendo resultados muito maiores do que esperávamos (eu confesso que tinha medo de nem chegar aos salvadores 46 pontos). Segundo, porque desde o episódio da Chapecoense em 2016 ficou claro que nem tudo que parece ruim é o pior a acontecer de verdade. Lembram que eles passaram a final da sul-americana com uma defesa salvadora em cima da linha no último minuto? Quem imaginaria o que estava reservado a eles? (que descansem em paz nossos irmãos que se foram)

Quantas vezes agradecemos quando coisas boas acontecem? Na maioria das vezes preferimos ficar choramingando que nem criança mimada por um pedaço maior de doce. Adultos assumem a sua responsabilidade. Perdem, ganham… mas sabe que tudo é consequência de seus esforços. Talvez esse seja o grande diferencial desse time do INTER para alguns outros que vieram antes, mesmo com mais dinheiro e mais prestígio tiveram resultados menores. Talvez faltasse honrar as palavras homem e adulto.

Parabéns ao time até aqui! Ser um pouco grato não faz mal a ninguém… A gente saboreia as vitórias e aquece o espírito para as próximas batalhas. Agora queremos o título!

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