O Caminho
Imagine um circo pegando fogo.
O princípio de incêndio é identificado logo no inicio. Assim, os primeiros ao ver as chamas iniciais avisam os demais e todos começa a sair sem pânico, afinal, tudo está no começo. Avisam ao dono do circo que rodeado pelos artistas conversa despreocupadamente enquanto puxa um telefone celular do bolso. E quando todos pensam que ele vai ligar para os bombeiros… ele chama mais um palhaço!
Parece loucura, mas foi mais ou menos assim ano passado quando a “SWAT” foi convocada e trouxe como solucionador dos problemas o senhor Celso Roth. I-N-S-A-N-O! O resto do ano foi uma sucessão de dias com o desfecgo previsível, como a plateia que assistia a lona do circo se converter em cinzas.
A queda não começou naquele episódio. Da mesma forma que não terminou com o encerramento do campeonato. Quem além das “Balsassetes” acreditou seriamente que o INTER reverteria o descenso na Suíça além daquela contínua, inequívoca e inquebrável esperança de torcedor – aquele sentimento que lá no final tudo se sairá bem, aquele saudável sentimento que nada termina antes de tudo ter acabado – teve uma surpresa amarga na manhã dessa quinta-feira. Previsível? Certamente.
A vida cotidiana não é uma novela da RGT em que o final é sempre o que a gente espera, num roteiro previsível, repetido e ao mesmo tempo aguardado e de sucesso. Não podemos esperar sentados que receberemos benevolências como uma recompensa moral por terem nos roubado o campeonato de 2005 e por todas as outras vezes que nos meterem o garfo. Sabe quando seremos recompensados? Nunca! O que é provável, na verdade, é que sejamos ainda mais judiados até que o clube tenha sua existência exterminada ou, pior, tornada irrelevante – como já aconteceu com grandes clubes do passado.
Tudo é cíclico, e cada ciclo se encerra em si mesmo. Cada jornada encerra no seu término e o que fica é o aprendizado e a história que foi construída. Porém, nossa cultura nos incita a que os sentimentos mantenham os ciclos todos constantemente abertos como se um resultado no presente fosse remendar o passado.
Eu sofria muito com isso pois a sensação de ser injustiçado é constante, imagino, que na vida de todos. E essa mentalidade vai te deixando cada dia mais longe da melhor versão de ti mesmo e, consequentemente, mais longe de teus objetivos. Isso acontece porque, por exemplo, não se joga o campeonato pra ganhar pelo simples fato de ganhar. Disputa-se a competição para mostrar que tem mais valor que os outros, não simplesmente para ser o melhor, mas para mostrar que os outros são piores do nós.
A gente tem de parar com isso. Não permitir mais que fiquem nutrindo nosso lado “coitadinho” do “oh! vida! oh! azar!”. Nos roubaram? Roubaram sim e descaradamente! Somos injustiçados? Sim, descaradamente!
Mas pra resolver isso não adianta choro.
Pra solucionar de vez isso tem de se agir fora da mediocridade. Quando falo mediocridade não é no sentido convencional de “coisa ruim”. Mas de “média”, mediocridade como “equivalência de esforço”. Pra resolver isso não basta ser uma equipe mediana, com talento apenas suficiente e vontade de vencer comum. É preciso dia a dia trabalhar intensamente para estar acima da linha média de talento e trabalho, colocando a vontade de vencer num tamanho descomunal e não se conformando com nada abaixo do máximo possível. É preciso, definitivamente, afastar a mentalidade do “fizemos o que pudemos”. Fazer o que pode é tão… medíocre que nos manterá eternamente em posição intermediária em tudo.
Quando não se tem forças conspirando a favor é preciso que a tua própria força te transforme em algo maior que tu mesmo. Essa transmutação apenas se consegue com trabalho, dedicação e vontade de vencer.
O que a geração Instagram não entende é que vontade de vencer e trabalho sério todo mundo, na média, entrega. Todos se dedicam e querem vencer. Só que para atingir os resultados acima da linha média é preciso chegar ao grau de entrega classificada como sacrifício. É a única forma de colher resultados fora da média.
Pra isso, deveríamos aprender com os japoneses. Para exemplificar isso, vou apresentar alguns princípios do judô que poderiam ser aplicados também a vida diária. Isso mudaria a mentalidade, incrustando em nossa índole os princípios do caminho suave:
– Seiryoku Zen’Yo (Princípio da Máxima Eficiência com o mínimo de esforço do corpo e o espirito)
Diz respeito ao uso eficaz dos recursos (força física, mental e motivação) a obter os melhores resultados com o menor uso de energia, o que pode ser traduzido como o
– Jita Kyoei (Princípio da Prosperidade e Benefícios Mútuos)
Vencer e perder é parte inerente da disputa. Mas a lealdade e o profissionalismo deve prevalecer para que todos possam construir a sua trajetória.
– Ju (princípio da suavidade)
É, certamente, o princípio mais conhecido do judô, consiste em “usar a força do adversário contra ele mesmo”. Ao invés de bater de frente, força contra força, deveríamos ser mais prudentes e transformar o ataque do oponente em ferramenta para vencermos.