Carga Pesada
Eu desconfio, digo que desconfio para ser polido, que a maior parte do elenco do INTER não sabe onde colocaram o clube. Não tem a real dimensão do que significa estar na série B. Posso garantir aos neófitos que a pena é muito maior do que ficar “mais fraco” no FIFA ou PES – Que deve ser a referência da maioria. Também não vai ser como jogar com o Roberto Carlos no ataque que os problemas serão resolvidos.
Não é campeonato comparável a jogar no interior do Rio Grande do Sul, como disse o Aylon. Eles ainda acreditam que são bem superiores aos demais times da série B.
Vamos tratar disso por etapas…
Eu tenho um porquinho. Sim! O Clássico cofrinho. Chamo ele carinhosamente de “porcolorado”. Comprei na loja do INTER da rodoviária em uma de minhas centenas de idas ou passagens por Porto Alegre.
Começou como brincadeira, mas ele acabou sendo útil, pois, confesso, detesto moedas. Não é que eu não goste de dinheiro, é que realmente não gosto de carregar moedas.
Imagino que deve ter mais alguém no mundo que não carregue suas moedas. Assim, a gente se associa tirando de circulação, sem querer, uma boa soma de dinheiro. Como o Porcolorado tem um tampa no “bucho” fica fácil saqueá-lo sem ter de destruir meu amigo. Então, de tempos em tempos, pacientemente, agrupo as moedas em montantes de R$ 1 ou R$ 10, dependendo do valor da moeda, e acabo pagando pedágios ou comprando cervejas pra devolver as moedas aos meios de circulação.
Voltando ao INTER, ano passado foi mais ou menos assim: eles iam contando que poderiam pegar os pontos que faltavam a qualquer momento. Só esqueceram que o campeonato não tinha uma tampa no “bucho” e, mais importante, não se deram conta de que a bola que o time vinha jogando de fato era muito menor do que eles imaginavam.
Iludiram-se! O profissional ganhar como trabalhador de primeira linha não quer dizer, necessariamente, que ele seja um fora de série. Pode simplesmente ter dado sorte, o chefe ser incompetente… ou no caso de nosso elenco, os dois casos se aplicam.
E não adianta criticá-los. Vai ser uma inútil perda de tempo em que iremos acusá-los e eles desperdiçarão nosso tempo com desculpas. E o ciclo seguiria.
Estava lendo esses dias sobre a saga do Francis “Two Gun” Crowley. Não vou me alongar contando a sua história. Resumindo, ele era um criminoso que começou sua carreira dando um tiro num policial e depois de a vítima estar ferida descarregou o revolver no corpo do policial. O motivo? O homem ousou pedir-lhe os seus documentos enquanto ele dava um trato na namorada, ela então com 16 anos, dentro de um carro estacionado.
Já, no corredor da morte – ele foi condenado a cadeira elétrica, quando questionado sobre como se via, ele dizia que era o preço que estava pagando por se defender. Que era uma alma incapaz de fazer mal a qualquer outro ser.
Se um assassino sociopata frio consegue ver-se como uma pessoa boa, vocês querem que nossas nabas vejam o tamanho do estrago que fizeram? Que entendam as suas limitações técnicas? Na cabeça da maioria, aposto, não enxergam que poderiam ter feito de maneira diferente e que buscaram entregar o melhor que tinham. É o preço que pagam por não ter tido um pouco mais de sorte.
Triste perda de tempo… Apenas achem um novo lar para Paulão e seus amigos e reconstruam o nosso INTER.
Agora, retomando a foto do inicio do post, falta a nossa equipe massa pra encarar a série B. Falta físico, mas, sobretudo, falta ainda força psicológica pra enfrentar a carga.
Como não associar essa fase a estar no inferno? Não pelo fato simples e linguagem figurada de ser uma experiência ruim. Nossa realidade agora é como o policial que é preso na mesma cela em que os bandidos, pois, a maioria de nossos adversários no campeonato pode contar uma história em que superou o INTER quando todos pensavam o contrário.
Nós também precisaremos de “tutano” psicológico para esperar que a barca atravesse esse rio de pranto e ranger de dentes. Vejo esse momento, afinal, como uma oportunidade de redenção do clube. Daqui por diante poderemos reescrever nossa história esportiva, tirar os vermes de sobre a nossa pele (a soberba, a falta de força psicológica, etc) e recolocar o clube no caminho correto, sentir que o INTER tem cerne… Que o INTER tem alma novamente.
“Quando eu me encontrava na metade do caminho de nossa vida, me vi perdido em uma selva escura, e a minha vida não mais seguia o caminho certo. Ah, como é difícil descrevê-la! Aquela selva era tão selvagem, cruel, amarga, que a sua simples lembrança me traz de volta o medo. Creio que nem mesmo a morte poderia ser tão terrível. Mas, para que eu possa falar do bem que dali resultou, terei antes que falar de outras coisas, que do bem, passam longe.” (A Divina Comédia em prosa)