Cristian

Camisa Encardida, Título Brilhando: O Gauchão é Nosso!

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E se o Santana visse isso?

A gente, eu e as vozes em minha cabeça, costuma dizer que Matrix estava certo — não por vivermos num simulacro de realidade criado por máquinas, mas, sim, porque 1999 foi o auge da humanidade. Desde então, quanto mais tecnologia temos, mais burros ficamos. E isso transborda no jornalismo esportivo atual.

Foi o que pensei, almoçando em silêncio no dia seguinte ao título colorado. A TV do restaurante falava da vitória, mas os comentários eram tão rasos que meu arroz parecia ter mais profundidade. Larguei o garfo e me peguei imaginando: e se o Paulo Santana estivesse aqui?

A verdade é que, por anos, especialmente quando estava em Porto Alegre, eu comprava a Zero Hora só pra ler a coluna dele. Achei graça quando um dia ele comentou exatamente isso na coluna: que muita gente comprava o jornal apenas por causa dele. Era verdade. E talvez tenha sido essa overdose de Santana — acumulada em páginas, lembranças e saudades — que tornou essa “psicografia” possível.

Não escrevi com as mãos.
Escrevi com memória e gratidão (e uma pitada de vingança: nessa reencarnação ele é colorado).

 

O Colorado e as Águas Imaculadas da Minha Camisa

Eu não queria escrever esta crônica antes. Juro por todos os deuses do Olímpico (e do inferno, onde reside o Grêmio pós-Gauchão 2025), que não foi por preguiça. Foi por instinto de sobrevivência.

Porque — veja bem — o Inter não ganhava o Gauchão desde que eu ainda tinha cabelo nas têmporas. E não seria eu, um homem já maduro, calejado, sofrido por esse clube, que arriscaria mudar um centímetro sequer da rotina que, por obra divina ou do demônio, nos levou até o título. Desde o último jogo do Inter no ano passado, minha camisa oficial não foi lavada. Não que eu seja supersticioso, claro. Sou apenas um cientista da mística futebolística.

Não lavei, não escrevi, não mexi. Nem um bilhete de bar eu assinei. O que funcionou em novembro de 2024, seguiu intacto até março de 2025. E funcionou. Funcionou como nunca.

Vencemos. E vencemos bem. Com honra, com brio, com aquele futebol que eu julgava aposentado desde Falcão, Figueroa e a meia dúzia de camisas 10 que nos deram mais taquicardia que títulos.

E aqui, meus caros, abro um parêntese do tamanho do Beira-Rio pra falar de dois milagres colorados:

Roger Machado.
Este homem é mais do que um treinador — é um restaurador de autoestima. Devolveu ao Inter não apenas um sistema tático, mas uma alma. Botou o time pra jogar como gente grande, como colorado que se preza. Passo firme, olhar de quem já foi injustiçado nesse futebol que, por vezes, trata bem só os medíocres.

Enner Valencia.
Ah, Valencia… se tu soubesse o que se disse de ti pelas mesas de bar da Cidade Baixa… Mas tu respondeu como se responde: com um gol de falta na final, o mais bonito do campeonato. Tu não calaste os críticos. Tu os fez engolir o microfone com fio e tudo.

E claro, o detalhe oculto: pagaram o pai de santo. Pagaram! Eu soube! Foi discreto, foi na encruzilhada, foi com vela branca e vermelha (as cores da nossa paixão), e, pelo visto, o trabalho foi bem-feito. Que renovem o pacote pro Brasileirão.

Agora sim, com título em mãos, camisa lavada e alma leve, posso escrever. Posso, inclusive, abrir um vinho e brindar. Brindar com os que ficaram, com os que torceram em silêncio, com os que acreditaram. Brindar com os que, como eu, choraram — mas sempre enxugaram o rosto com o manto sagrado.

Porque ser colorado, senhores, é não ser apenas torcedor.
É ser parte de um drama. De uma ópera.
De um delírio coletivo em vermelho e branco.

E agora, ao contrário de certos vizinhos falidos da Azenha, nós temos paz.
E taça.

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