Tempos de bigorna
Meu pai é natural de Cazuza Ferreira, o maior distrito de São Francisco de Paula, hoje resumido a um bucólico povoado de casas de arquitetura italiana do início do século passado; mas já foi pujante. No seu auge, entre outros, detinha uma ferraria para cavalos, estabelecimento que ainda resistiu ao tempo dada a dedicação do seu proprietário. Cuida-se que eu ainda vi o processo ser realizado, ao vivo e já no século atual, com bigorna e tudo. Todavia, o tempo da bigorna passou e, se antes ali se “cuidava” da otimização do veículo das pessoas no passado, nada como uma evolução lógica: hoje funciona no mesmo local um posto de combustíveis.
Achei interessante fazer certa analogia com o Sport Club Internacional, pois, recordei da promessa de campanha (das tantas e tantas) que prenunciava fazer do Clube o mais DIGITAL do Brasil. Pois, passado um bom período de tempo já da nova gestão, a rigor, está longe disso acontecer. Sei que a ideia de engajamento digital (nem sei se a palavra certa é assim, sou xucro de berço, afinal) custa dinheiro e talvez sejam escassos os recursos para que se crie uma promoção de massa. Mas será que não tem nada meio que de graça ou a preços módicos que possa ser feito para dar uma embalada na coisa? Ora, convenhamos, estar no mundo digital não é postar fotinho de treino em rede social. Não vou adentrar no mérito da live, que parece que não foi live, alusiva aos 15 anos da primeira conquista da libertadores, eis que sequer tentei assistir; soube, contudo, que quem conseguiu foi por sorte.
Agora, inegável que o Internacional ainda vive nos tempos da bigorna, também, com relação aos sócios e o tratamento e dedicação para com o associado. Eu sou há mais de 15 anos e a única coisa que ganhei até hoje foi uma camiseta, meses atrás, pois segui pagando em dia mesmo na pandemia. Ainda assim tive de arcar num frete caro para recebê-la e achei até que nem vinha mais. Só que antes disso a coisa já vinha mal. Quando estourou o ritmo de novas associações, ser “carteira vermelha” como sou até hoje, assegurava-me, fazendo sol ou chovendo, lugar garantido no Beira Rio. Com o passar do tempo e com a implementação do check in, essa benesse “do nada” acabou. Hoje, o máximo que tenho é o direito de avisar que pretendo comparecer ao jogo já no instante que assim é autorizado, de regra um dia antes dos sócios das demais modalidades.
Apesar disso, nunca reclamei. No fundo, quero mesmo que o estádio esteja sempre lotado para apoiar e empurrar o time. Pago muito mais pela ideia tola de que estou ajudando que particularmente para comparecer a todos os jogos. Hoje, aliás, é muito mais barato assistir pela televisão, o que já pago também. Sim, sou um idiota de frente a fundo. Agora, convenhamos, o Internacional trata muito mal seus sócios. Não há, neste momento principalmente, sequer uma justificativa sensata para seguir pagando mensalidade. Tanto que o número vem caindo significativamente mês a mês.
Quem sabe uma promoção para conceder camisas oficiais aos sócios? Campanha por e-mail? Por curtida e replique em rede social. Sei lá, não sou da área. Mas o Internacional tem Vice Presidente de marketing e profissionais caros do mercado lá dentro. Tá na hora de justificar, no mínimo, este gasto; entender e conviver com a modernidade.
Veja-se que a bajulação (aos sócios), aqui no bom sentido, já existia inclusive naqueles tempos… da bigorna. Menos pro Internacional que parece ainda estar na idade da pedra.
Hoje, 11 anos do bi campeonato da América. Salve o Inter dos tempos que levantava as taças!