SONHO DE GURI
Meu filho mais velho em determinado momento chegou a se aventurar no futebol de campo. Tentou a sorte em algumas peneiras e conseguiu jogar em uns times amadores, que na época era o que tinha pra gurizada ‘matar o desejo’. Chegar nos Clubes da Capital era para poucos. Até os testes eram difíceis de conseguir para quem não dispunha, do já famoso naquela época, “Q.I”.
O meu guri até jogava direitinho, tinha bom tino para sua posição de goleiro, mas não foi feliz no futebol de campo. Se encontrou de verdade no Salão e pouco antes de encerrar o então “segundo grau”, já de saco cheio de tantas lesões, largou o futsal quase que em definitivo.
Mas numa daquelas peneiras conheci o Dilmar, um camisa 10 liso uma barbaridade, habilidoso, chutava com os dois pés. Era para ser um craque. Enfim, no meio daquele bando de perna de pau que só jogava para afagar o ego dos próprios pais, um jogador de verdade que parecia que ia mesmo vingar pra bola. Quando soube que era meio sobrinho do Ivo, o açougueiro da minha vizinhança, comecei a vez ou outra perguntar do guri nas estadas pelo balcão da casa de carnes.
O Ivo, dizem, havia sido um craque da bola que não foi adiante quando foi dispensado do Internacional, seu time do coração. O Dilmar perseguia o mesmo sonho de guri: vestir a camisa do clube pelo qual era apaixonado. Tinha vaga garantida nos dois clubes de Caxias do Sul e havia conquistado bom cartaz no lado azul da Capital. Mas ou era com a camisa do Colorado, ou não seria com nenhuma.
O nosso novo camisa 9 (ou 18 pela mística) é claramente um guri que alcançou a façanha de não somente sonhar, mas viver o seu sonho. Falo-lhes de Luiz Adriano, obviamente. É claro que se tornou um vencedor porque detém no seu currículo muitos títulos e essa é a ideia objetiva de sua carreira. Com o nosso manto alvirrubro levantou a sua taça mais significativa, isso com breves minutos atuando como profissional.
Mas no campo do subjetivismo, que faz com que qualquer guri siga sonhando em viver de bola até hoje, é um vencedor pois chegou no topo da pirâmide e conseguiu brilhar. Não só vestiu a camisa do seu time do coração, mas fez história envergando a mesma. E isso, admito, não é para qualquer um.
O jovem Dilmar não tardou a enfrentar o seu maior adversário na carreira: a decepção. O Inter daquele tempo, ainda que fosse um mero arremedo do que já havia sido – com uma base sucateada e sem uniformes pra treinar e jogar, ainda assim não lhe quis. E o Dilmar não queria nada diferente que não fosse o Internacional. Largou tudo, ao que soube, e voltou pra ajudar seu pai nas lavouras de fumo. Arrependeu-se, no entanto, quando tentou de novo o seu tempo para o futebol já havia passado.
Não mudei de ideia no tocante a essa repatriação de Luiz Adriano. Mas, sim, quero acreditar que o sonho aquele de guri, que levou o jovem camisa 18 ao topo do mundo, tenha como resistente dentro de si mesmo uma fagulha ainda acesa. A mesma vontade e a mesma gana.
E que essa fagulha o faça querer reconquistar com a camisa do seu time do coração tudo de novo.
Que viva do seu sonho mais uma vez. E nos faça sonhar e viver, tudo de novo, também.
CURTAS
– O Presidente já merece nossa consideração pois não foi só passear na Europa; ou saiu prometendo uniforme de grife e técnico de seleção e voltou com as mãos abanando, fechado como qualquer gaiato pra treinar o time;
– Óbvio que já que trouxeram o Aranguiz mesmo, melhor que chegasse duma vez. Mas se precisa de recuperação, ainda, talvez fazer na Alemanha e já chegar aqui na ponta dos cascos seja mais lógico;
– Pensei que a saga era do centroavante. Porém embrulhado mesmo está achar um camisa 5;
– Torcerei para quem chega, é claro. Mas torcerei mais pela volta da confiança do Alemão. Sigo levando fé no guri;
– Gabriel Mercado é nosso melhor zagueiro. Zagueiro com letra maiúscula;
– Disse aqui e não vai muito que de todos os nomes de centroavante especulados, Enner Valencia era o que mais me agradava. Feliz estou eu com a audiência qualificada da diretoria Colorada. E dos nobres amigos daqui que insistem em não me abandonar, é claro.
PERGUNTINHA
Já dá para dar uma trégua nas críticas à direção?
Alegrai-vos, Nação Colorada! O destino nos reserva coisas boas.
PACHECO