Panem et Circenses
Desde já, de antemão peço perdão se esse texto não apresentar a qualidade necessária para essa página – se é que algum dia apresentou – pois, mais uma vez, estive no Beira Rio para ver o time ser impiedosamente eliminado com toques de crueldade por uma equipe reconhecidamente inferior. Por favor, não me chamem de pé-frio, pois assim como 40 mil almas na triste noite de ontem, cheguei 01:30 da madrugada em casa e nesta manhã acordei às 6hs com a cabeça do tamanho de uma melancia (não, não é aquele velho trocadilho sem graça nascido na sofrível década de 90, cunhado graciosa e maliciosamente após perdermos para o Juventude e depois depositarmos nele nossas ‘esperanças’ para não ver o co-irmão vencer o Gauchão mais uma vez), e com o celular repleto de mensagens de amigos (amigos??!!) grebbbistas com imagens daquela recuada de bola do Robert Renan para o arqueiro alvi-verde.
Dito isto, segundo o glorioso Goggle, “Pão e Circo, ou Panem et Circenses, em latim, é uma das expressões mais famosas do mundo antigo, quando se fala de como o poder público do Império Romano, com “comida e diversão”, conseguia manobrar politicamente o populacho”, sendo que esta política tinha como “objetivo o apaziguamento da população, na sua maioria, da plebe, através da promoção de grandes banquetes, festas e eventos esportivos e artísticos, assim como subsídios de alimentos (distribuição de pães e trigo)”.
Guardadas as devidas proporções, nós torcedores Colorados, ainda que sejamos muito mais evoluídos e inteligentes do que a pobre plebe romana, de certa forma, nos últimos tempos, talvez pela dor de sucessivas derrotas e vexames, fomos integralmente envolvidos num espetáculo particular de Pão e Circo, onde a Direção e o nosso técnico (sim, este não pode ser poupado neste momento) baseados nas pesadas contratações vindas com o dinheiro dos cento e tantos mil sócios, da Libra, ou Deus sabe lá de onde, nos permitiram esquecer todas as agruras e fiascos que estamos envolvidos até o pescoço nos últimos anos, nos levando ao delírio coletivo de acreditar que o time tivesse atingido um nível superior em anos, mesmo sem ganhar absolutamente nada.
E não não foi só a torcida em si. Falei no último post que a grande maioria (incluindo a ‘imprensa especializada’ e aquela dita ‘identificada’ (bancada e sustentada pelas bets da vida) também caiu nessa esparrela.
Vejam que após vencermos com naturalidade equipes de menor escalão do futebol estadual e nacional, ficamos todos achando que todo o jogo seria um ‘show’ à parte. Tudo contribuiu para o delírio coletivo, até Coudet depois de mais uma vitória, enalteceu as contratações que lhe foram oferecidas, mas não se furtou em pedir Oscar, para nosso sonho e deleite. A cereja do bolo foi a camisa à lá Arsenal, que alimentou nosso imaginário de que estávamos verdadeiramente frente a uma equipe com possibilidade de vencer a Champions League, ao invés dos campeonatos disputados nestas terras tupiniquins.
Mas, embebidos nesta euforia coletiva, esquecemos de uma singela e até óbvia questão … a de que os gestores e avalistas dos fiascos ainda são os absolutamente mesmos, principalmente um presidente que, muito embora pareça ter habilidade em negociar contratos e cuidar da parte administrativa e que já tivesse aprendido com os erros do passado recente, não aparenta ter a humildade necessária para entender o momento difícil vivido pelo Clube em termos futebolísticos. E isso se reflete dentro do vestiário e na ausência de questões básicas. Prova disso é perplexidade que fiquei ao saber que em pleno 2024 (após DIVERSOS FIASCOS em que reconhecidamente além da questão tática e futebolística em si, faltou QE, ou quociente emocional, como dizia um amigo) ainda não tenhamos profissionais ligados à saúde mental para lidar com os jogadores. Isso certamente reflete no porquê um jogador experiente como Maurício tenha caído na infantil provocação de Nenê; mesmo que essa ‘amadorice’ também seja culpa dele. Vamos e venhamos, já faz anos que Maurício está por aqui, não pode cair de forma alguma naquele tipo de provocação; além daquele gol feito desperdiçado já com o goleiro adversário caindo para o lado direito e deixando o canto esquerdo do gol totalmente escancarado … ali ficou clara a ausência de aspecto emocional nele. Querem saber se um jogador está com o psicológico abalado em uma decisão? Vejam como ele reage a um gol perdido!!! Maurício fez exatamente o que segue a cartilha do jogador desesperado.
Coudet, mais uma vez, foi capítulo central da derrota, assim como já havia sido no empate cagado de Caxias. Roger o amarrou, o amordaçou, o encaixotou dentro de campo e construiu um duplex em sua cabeça nos mais de 180 minutos jogados e … NADA, um grande a absoluto nada saiu daquela cachola para tentar mudar o jogo, nem uma mísera variação tática se permitiu, mesmo com a ampulheta do tempo escoando sob seus olhos. Perdemos o trio de criação (Bruno Henrique, Aranguíz e Alampa) e Wanderson desde o minuto inicial lá no Jaconi, descemos a serra e a festa dos pessoal de verde se seguiu até Daronco apitar o final do jogo no Beira Rio e nos encaminhar para o desespero das penalidades. Tudo isso visto de camarote por Coudet que nada soube fazer. Vimos a bola rodar um vai e vem improdutivo digno de tortura (que me lembrou o terrível ano de 2017) entre Mercado, Vitão e ele … o famigerado Renê, e o que Coudet fez??? NADA, ABSOLUTAMENTE NADA!!!
Faltou preparação para encarar o Juventude … isso é fato!!! Não tiveram sequer respeito em olhar e ver que do outro lado tinham caras como Roger (ainda que não seja um técnico de ‘ponta’) e Paulo Paixão (este sim, nem preciso falar), os quais, sabidamente, não são idiotas e iriam fazer de tudo pra tentar nos eliminar.
Pra piorar, a entrevista deixou claro que Coudet não sabia por que perdeu, o que me deixa mais perplexo para o futuro. Se não mudar, não sei se viramos a metade do ano com ele.
Outra coisa que pra mim ficou claro é que o time não tem força física quando o jogo exige … não ganhamos nenhuma dividida e a ‘segunda’ bola SEMPRE era deles.
Emfim … uma noite para esquecer.
Mas tudo bem … afinal montamos uma Seleção para vencer a Champions League.
E viva o pão e o circo!!!