Ausência
É um texto egoísta, então quem não quiser ler, pula pros comentários e não me enche o saco.
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Volto a escrever depois de meses de ausência. Demorou muito pra ter vontade. Mais ainda de pensar em futebol, quem dera acompanhar.
Meu pai se foi em Junho deste ano.
Isso que é ausência.
O câncer não te mata. Ele te humilha.
Mesmo fraco, cansado, sabendo que o fim vinha em poucas horas, o pai ainda vibrou com os dois gols do Inter contra o Avaí, dia 2 de junho. Conseguiu levantar os punhos ao ouvir o grito xoxo de gol narrado na Gaúcha, na noite antes dele partir. Radinho de pilha do lado da cama naquele maldito hospital.
O pai era sem dúvida alguma o cearense mais colorado do mundo. Daqueles que tava sempre ligando pra RBS pra xingar o gremismo latente por lá. O pai me manteve associado ao Inter ainda anos depois de eu me mudar pro Canadá. Acho que ainda na esperança de ter o parceiro de Beira-Rio de volta. Afinal, me levava lá desde os meus 8 anos de idade, no “auge” dos nossos anos 80…. Mesmo assim a gente ia sempre. Jogo de gauchão, no inverno, com chuva, quarta de noite… a gente tava lá.
Comecei a tomar café lá no estádio, naquele copinho de plástico do tamanho dum polegar em noites assim. “Eu posso já tomar café?” Foi minha pergunta! Mesma coisa com cerveja, alguns anos depois!!
O pai torcia pro Ceará, daí depois da faculdade de medicina lá, foi fazer residência no Rio e torcia pro Flamengo – putz to prá conhecer um nordestino que não torça pro Flamengo como primeiro ou segundo time…. ô coisa. Daí conheceu minha mãe por carta (sério!) e se mudou pro Rio Grande do Sul no meio dos anos 70, numa época em que não tinha nem graça torcer prá outro time que não fosse o colorado! E isso apesar da família da minha mãe – tudo alemão – torcer pro time deles….
Ele sempre acompanhava os outros dois times, mas aos poucos, foi ficando mais longe do Flamengo, e mais colorado. O Ceará, como dizia meu avô, tanto batia quanto apanhava.
Mas teve uma vez, bah ficou furioso! O Inter perdeu um jogo pro Ceará no Beira-Rio, quartas de uma Copa do Brasil que tava com caminho livre até a final. Um jogo ganho que nos foi garfado pelo ladrão do Leo Feldman. Bah saí gritando rampa da superior abaixo que o RS tinha mesmo que se separar do resto do país!!! Bah, que xingaço que eu levei dele! Achei que fosse voltar a pé do estádio até a zona norte…..
Teve um treco também quando eu disse que não ia pra Copa em 2014. Eu achei muito caro. Passagem pro Brasil, ingressos, com minha filha recém nascida, tava me segurando nas grana, né. Ele me mandou tomar no cú, deixar de ser puto e comprar os ingressos pros jogos “DA COPA DO MUNDO, NA TUA CIDADE, NO ESTÁDIO DO TEU TIME”. Assim, as palavras dele!
Melhor dinheiro gasto na minha vida.
Se foi 2 meses antes de conhecer o neto, sobrinho meu, que nasceu na Holanda, mas já é colorado (ok, e Feyenoord também) desde o primeiro dia.
Puta merda. Só mais 2 meses….
Volto a escrever nas vésperas do jogo contra um dos times dele. Nunca que ele torcia contra o Inter, mas sabia das forças ocultas envolvendo o time da Globo.
E vai ter sim. Anota aí. To falando desde o começo do ano. Esse Flamengo aí, injetado até os tubo com dinheiro Global não vai entrar em campo com menos de 14 jogadores. Esses jogadores todos contratados, dinheiro gasto, badalação cada vez maior, não vai ser “desperdiçado” tão fácil assim contra um timezinho da aldeia gaulesa. Se preparem. Vai ser sujo.