A Descida (“Descent”)

Inspirado em um conto real. Foto de capa: site oficial do Inter.

Me lembro do dia em que te colocastes em pé novamente, altivo, orgulhoso, mas com aquela profundeza no olhar tão característica de quem passou por grandes sofrimentos. Neste dia, você comemora feliz e finalmente foi envolvido por aqueles braços que não te alcançaram da outra vez.

É um dia lindo, apesar de chuvoso e frio, o que até surpreende, por estar fora de época. Água que lava sua alma, ali, à beira do rio.

Eu estarei lá no dia em que você caiu. Sentirei a dor como senti dezenas de vezes, sempre que a visão deste dia surgia em minha mente. Vivi isso inúmeras vezes. Sabia dos caminhos que te conduziriam ali e não sem uma dor no peito eu observava tua incapacidade de evitar os passos largos que davas naquela direção. Eu sabia, mas ainda assim demonstrava surpresa e angústia, pois tinha um papel a cumprir num roteiro antevisto. Alertava sabedor de que teus ouvidos eram opacos aos meus brados. Eu sabia.

Mas nesse dia, a dor será diferente. Será maior, foi dilacerante.

Cortará meu coração ver você alquebrado, sem forças, incapaz de se agarrar ao braços que estendiam-se a você, desesperados por te alcançar. Você não conseguiu e foi como se a queda ocorresse em câmera lenta diante de meus olhos, pouco a pouco, num destino inescapável, previsto e atualizado tantas vezes, e então vivido naquele instante.

Você sofrerá.

Mas aprenderá enfim o verdadeiro sentido de ser “gigante”: que não está em não cair, mas sim em se levantar mais forte e alçar vôos ainda mais altos. Entenderá que ser “campeão de tudo” não é uma constatação, como você sempre acreditou ingenuamente, mas o reconhecimento de uma fome insaciável: você quer sempre mais e nunca estará satisfeito.

Você renascerá.