O DIA DEPOIS DE AMANHÃ
Poucas vezes na vida eu senti tanta angústia, desalento e impotência tal qual no período em que minha senhora, a Dona Mari, esteve entre a vida e a morte numa UTI de hospital. Dias intermináveis. Foi naquele período desesperado da minha vida, afinal, definhava num leito hospitalar o grande amor da minha vida – a mãe dos meus filhos. Enfim, precisei voltar a conversar com Deus; havíamos nos desencontrando muito tempo antes, e eu ali entendi que precisava muito caminhar ao seu encontro.
Falei muito, não de mim ou do porquê eu precisava da Dona Mari; mas, sim, dela. Da razão pela qual ela merecia (e muito) sair daquele estado para viver tudo que ainda não tinha vivido, e que muito merecia de tal chance. Eu ali, entre choro e oração, amparado sob pálio da Fé e da Esperança. E nada mais.
Com a graça do Senhor não fomos atingidos pela enchente, estivemos sempre em segurança – toda a família. Mas voltei sentir durante estes dias antecedentes daquela angústia, desalento e impotência. Sigo com a sensação de que tudo que eu já fiz até agora é pouco ou quase nada do que preciso fazer para ajudar o nosso Rio Grande; para auxiliar o povo gaúcho que, em sua grande maioria, perdeu o pouco do nada que sempre teve. E ainda assim perdeu.
E cá estamos, agora todos nós, entre choro e oração, amparados sob pálio da Fé e da Esperança. E nada mais.
O nosso Sport Club Internacional, que vive naquele lugar cativo em nossos corações, conseguiu ser deixado um pouco de lado pois o próprio, através da ação ativa e participativa de muito dos seus atores, entendeu que precisava ser deixado de lado enquanto clube de futebol para passar a ser um mensageiro de caridade e compreensão. Pouco importou que a nossa casa também estivesse debaixo d’água, quando outros tantos dos nossos precisavam tanto (e tanto!) da gente. Seguem e seguirão precisando, aliás. Feliz dum clube de futebol que tem a força do seu povo gaúcho e Colorado!
E todos aqueles que agora lamentam o que perderam, entre choro e oração, que sejam amparados pela Fé e a Esperança. E por todos nós.
Não nasci com o dom da futurologia. Todavia se alguém me perguntar como espero que seja o dia depois de amanhã, responderei que com sol, eis que a fé e a esperança nunca abandonaram ou abandonarão o nosso povo de luta. Peleadores. Nascemos e iremos morrer assim. Nunca iremos nos entregar, e sim, nadaremos de braçada para buscar dos nossos e procurar o horizonte.
Viver é uma arte e a vida do artista é sorrir para a plateia ainda que esteja morrendo por dentro. Vai demorar para voltarmos a sorrir com alegria, mas assim o faremos quando o sol e o horizonte também sorrirem para nós.
O Rio Grande haverá de se levantar e sorrir novamente. Com Fé e Esperança o dia depois de amanha nos fará todos campeões novamente.
Seremos campeões!
CURTAS
– Eduardo Coudet tem a missão de mobilizar a turma. Se não pela esportividade, mas pelo povo gaúcho. Não está errado quem define o futebol como mensageiro de esperança;
– Minha reverência a Thiago Maia, incansável. Sérgio Rochet, gigante. Enner Valencia, Alário, Maurício, Rafael Borré, Robert Renan, Fabricio, Renê … e todos os demais do grupo de alguma forma foram humanos, para muito além do futebol;
– Sou daqueles que querem o Inter jogando no Rio Grande. Contudo, não me agarro em falsa hipocrisia: precisamos pensar na logística duma maratona que vem pela frente. O início será de sobrevivência, seja onde e como for;
– Poderia, todavia, ficar um pouco mais perto da nossa torcida. São Paulo é longe da nossa gente;
– O episódio da paralisação do Brasileirão escancarou a porta dos imbecis e imorais. E abriu a janela para revelar uma porção de hipócritas;
– Nascido sob as águas, o velho Gigante da Beira Rio triunfará como palco da nova senda de vitórias do Sport Club Internacional.
PERGUNTINHA
Quem duvida do povo Gaúcho e do povo Colorado?
“Não podemo’ se entregá’ pros home’, de jeito nenhum, amigo e companheiro; Não tá morto quem luta e quem peleia, pois lutar é a marca do campeiro”
PACHECO