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Quando estive no escritório da repartição em Novo Hamburgo, ainda nos tempos em que era a capital do calçado e do Ford Galaxie (aliás, eis um baita automóvel – em todos os sentidos – que infelizmente não tive o privilégio de ter), trabalhou comigo o Ricardo, um sujeito ímpar, boa gente, mas que vivia buscando sempre ter alguma vantagem em tudo.

Moral da história: se achava ele o esperto.

Mas não era só isso: Ricardo foi o sujeito mais muquirana e mão de vaca que já conheci na vida. Ou seja, além de ser na base da esperteza que queria fazer as coisas, ainda tinha que ser pechinchando. Quase de graça. Parecendo que tinha tido uma grande vantagem sobre os demais “pobres mortais” que lhe cercavam.

Numa dessas, ali por 93 ou 94, ainda com o país virado numa baderna econômica, o Ricardo quis mostrar que para ele a vida só andava para frente e apareceu com um carro zero quilômetro (eu, por exemplo, naquele tempo andava numa moto velha). Mas não era qualquer carro; o sujeito foi lá e me comprou um “cobiçado” Lada Laika, iguaria fabricada na “destacada” indústria automobilística da Rússia. Aquilo era um medonho exemplar de cor “vermelha sangue ruim”, dum amontoado de peças rodando pelas ruas da cidade. Aliás, naquele tempo Novo Hamburgo era a cidade mais asfaltada do Estado e com vias de ótima qualidade. Ou seja, o que estragava era o Ricardo andando com aquela carroça russa por aí.

Nosso Presidente do Clube me lembra um pouco o meu colega de repartição. No fundo acho que se acha esperto fazendo negócios ditos “de ocasião”, trazendo jogadores de mercados de segunda linha do futebol, acertando talvez em um ou dois e errando em sua maioria. Mais esperto ainda deve se achar mantendo o treinador que faz um péssimo trabalho há pelo menos sete meses e, ainda antes disso, já colecionava eliminações inquietantes para times medíocres ou inexistentes.

Talvez pense ser esperto por insistir num trabalho muito ruim, tão apenas para tentar contrariar a sina do futebol brasileiro que aponta na troca de treinador a solução mais singela, quando em verdade mascara sua própria inaptidão. Provavelmente sequer saiba o que dizer em uma coletiva, quando questionado a razão pela qual em meros três anos de gestão já estará apostando no sexto treinador. Um a cada seis meses o que, vamos combinar, é o puro suco da sina dos clubes brasileiros e sua mal resolvida relação com treinadores e projetos de futebol. Em linhas gerais, foi a minha versão romântica para o conceito de ‘incompetência’.

Justificando, pois, o título de hoje, vos digo que o mundo não é dos espertos – contrário do que quase todos pensam, já que a conta da malandragem e dos atalhos que estes tomam na vida sempre chega.

Meu colega Ricardo não demorou para se dar conta que tinha comprado, em verdade, uma bomba zero km. E pior: uma bomba que ninguém queria comprar dele depois. Chegou num ponto que ele andava deixando o carro estacionado longe da repartição e com as portas destrancadas, na esperança que algum meliante desavisado do mercado de carros levasse aquela iguaria e o proprietário fosse indenizado pela seguradora. Não adiantou nada, ninguém quis.

Pois nosso Presidente neste momento, ao invés de demitir o treinador pelo trabalho horroroso que apresenta, deve achar que é mais esperto que qualquer outro que entende um mínimo de futebol, pensado que algum Clube desavisado do mercado de bons treinadores virá retirar de si o peso da demissão, levando nosso distribuidor de coletes e ainda por cima pagando uma generosa indenização ao Clube. A realidade é que ninguém quer.

O problema que além do mundo em si não ser dos espertos, claramente o nosso Presidente não é um esperto. Fosse, aliás, talvez sequer tivesse cogitado tentar a sorte como mandatário do Sport Club Internacional.

O mundo é dos vencedores.

 

CURTAS          

– Para novamente evitar fadiga, sobre o treinador pouco falarei. Agora, a pobreza tática além de se refletir em escalações inexplicáveis e nas substituições simplórias, está criando um mundo de invenções: é o fantástico mundo de Mano;

– Enfim chegou o centroavante, para o treinador colocar ele de ponta direita e ainda avisar que o cara tem de se “adaptar” ao futebol brasileiro;

– É possível que já no dia 11 de agosto não tenhamos mais nada a realmente disputar;

– De nada adianta querer contratar jogador um dia antes de fechar a janela. Os caras já tinham de estar aqui treinando e se entrosando com os demais;

– É verdade que não precisava contratar goleiro. Mas também é verdade que ao menos mostra um pouco de “ambição”;

– Os que sonham com Coudet vão é acordar com Odair;

– Repito: diretoria fraca vai morrer abraçada com o treinador. De acordo com seu desempenho no futebol, parece que se merecem. Só quem perde, mesmo, somos nós.

 

PERGUNTINHA

Seguiremos indo do nada a lugar algum?

 

Haja fé, Nação Colorada. Haja fé!

PACHECO

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