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Quando encerrei minha história na repartição, entre muitas idas e vindas, o Vanderlei já não estava mais no prédio; foi por ali zelador, porteiro, chefe de manutenção, enfim, pau pra toda obra. Quebrava o galho pra todo mundo, sabia o andar de todos os condôminos sem pestanejar e era o “senhor da simpatia”. Apesar de todos gostarem dele a síndica preferiu trocá-lo por uma empresa terceirizada, afinal, para que melhorar o serviço prestado se pode piorar sem baixar a taxa de condomínio, não é mesmo?

Sempre sorridente e de bem com a vida, o único defeito do Vanderlei é que era gremista. Mas daqueles – poucos é verdade – razoáveis: aceitava muito bem das minhas cornetas e era sempre muito polido quando tinha a possibilidade de devolver.

Em tempos onde o dinheiro alheio tomou conta do futebol, ficou cada vez mais difícil pensar em ver novamente nossos Clubes ganhando algo efetivamente relevante. O Internacional perdeu algumas oportunidades mesmo sendo pobre, de se reconhecer, mas os Clubes de chegada hoje são os que não dependem do limite do banco, outrora aqueles que tinham nas mãos o talão de cheque (eu poderia explicar para a nossa mocidade o que é um talão de cheque, contudo, evitarei da fadiga. Resumindo, é coisa de velho como eu).

Logo, os clássicos tem ganho um acréscimo no seu contexto histórico. Vencer não representa só mais a manutenção da hegemônica ou a flauta na mente do perdedor, e sim, a taça possível a ser conquistada. Se por muito tempo o greNal foi um campeonato à parte dentro do campeonato em face à rivalidade, hoje em dia segue o sendo – também e principalmente – diante da pobreza de expectativa que assola ambos os Clubes, cada qual com sua promiscuidade. E mediocridade.

A perspectiva (e por muitas vezes necessidade) de vencer o greNal acaba por ser a oportunidade de ter algo a comemorar nesta parte final do ano que já vê o 2025 em seu horizonte. Para os de lá uma chance de não ficar mais dois meses patinando e para o Sport Club Internacional a promessa de que, enfim, os resultados não serão só mais uma ilusão de dez rodadas e a insistente e dura realidade do “time do quase” à temporada seguinte.

Portanto, é fato de que temos bem mais a perder do que ganhar. Só que eles bem mais.

A vida de aposentado me permite vez ou outra apanhar meu neto no Colégio. A cada chegada eu cruzo com o Paulinho, o porteiro da escola, que nem precisava me contar ser Colorado pois de longe é de se notar. O assunto preferido dele é o Inter. Ontem nos cruzamos e questionei da expectativa para sábado. Sempre otimista, estava vacilante. Muitos estão, ao que tenho percebido. Pensamento de que a ideia de que “o mundo é dos espertos” segue em voga.

Pois vos digo que, fosse assim, não estariam onde estão hoje em dia. Óbvio que o futebol é imprevisível e ingrato, eis que nem sempre o melhor sai vencedor, mas temos do nosso lado além de jogadores que parecem ter encontrado um rumo, vencedores de clássicos e do futebol. Que também perderam alguns e sabem o peso que isso representa, principalmente nos tempos atuais.

Logo, tenho a convicção de que se não “inventarmos” uma peleia contra nós mesmos e jogarmos com a mesma convicção que galgamos em mais de uma dezena de jogos, os últimos, haveremos de triunfar uma vez mais demonstrando que não detemos consolidada hegemonia há tanto tempo por acaso.

Saudade de cruzar com o Vanderlei sempre sorridente. Ainda que na segunda feira ele estivesse menos assim e mais cabisbaixo, preparado para tomar uma flauta desse velho corneteiro desde os tempos da Social do Beira Rio.

Clássico se vence. Simples assim.

Minha corneta está pronta e azar do sofredor que cruzar do meu caminho. Venceremos, meu bom Colorado.

Venceremos!

 

CURTAS         

– Ao Professor Roger só não poderá faltar coragem. Aposto que a gana de vencer ele tem entalada na garganta;

– Preocupa-me para muito além do ataque adversário a nossa constante falta de cobertura pelo lado esquerdo de defesa;

– Preocupa-me, igualmente, colocar três jogadores retornando de lesão como titulares, ao mesmo tempo;

– Estas paradas para jogos da Seleção, a meu ver, são ruins em todos os sentidos; mas piores para quem já não vinham bem;

– Coloquem na cabeça que o Internacional, de fato, tem muito a perder não ganhando. Mas o lado de lá tem bem mais;

– Tem que usar da mesma estratégia que o bon vivant lá muito usou: entreguem a bola pra eles e que se virem;

– Se o time do Inter entrar em campo com sangue no olho, nem Deus terá piedade do lado de lá.

 

PERGUNTINHA

Saudade de ver o Beira Rio rugir?

 

Venceremos, meu bom Colorado. Venceremos!

PACHECO

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