CHEQUE VOADOR

Ando meio sumido, reconheço, pois depois de alguns anos voltei à labuta por uma repartição, eis que não consegui dizer não a um corajoso (e louco) amigo que resolveu se tornar prefeito da sua graciosa (e bastante problemática) cidade. E com a volta à velha rotina lembrei de outras tantas histórias que vivi nos tempos de outrora. E se hoje tenho um “chefe” que é meu velho e bom amigo, nem sempre foi assim.
Como colega de peleia o Moreira era um agente valoroso, todavia como meu supervisor – tempos depois, um pulha. Menos mal que era bastante Colorado e eu acabava contornando os seus rompantes levando a conversa para os lados do Beira Rio. Aliás, aquela máxima de que “para saber do caráter de uma pessoa, dê poder a ela” ganhou requintes visuais com a ascensão, não por competência e sim por peleguismo, do Moreira ao cargo de supervisor.
Antes de se mostrar um patife me contou algumas histórias que vivenciou e uma delas me voltou a mente nos últimos dias. Era caixa de banco no começo dos anos 1990 e junto com um colega da agência, numa sexta-feira, foram se deleitar num estabelecimento de entretenimento irrestrito (na época era) noturno. Em suma: uma bela fuzarca no chinaredo. Gastaram o dinheiro que tinham e o que não tinham e, na hora de acertar a conta com as quengas (colega Cristian aqui do BV acha que de todas as pechas que recebem esta é a mais romântica) não detinham mais nenhum vintém. Tiveram a ideia “brilhante” de pagar com cheque que sabiam que não haveria fundos. O muito popular naquela época “cheque voador”.
Só que eles trabalhavam no extinto Banco Alfa, que detinha meia dúzia de clientes e somente uma agência em Porto Alegre. E aonde as quengas foram descontar os cheques voadores? Óbvio que na agência que os “vívidos” trabalhavam. Bem vestidas como de costume e prontas para o borogodó, disse-me o Moreira que até tentou se esconder nos fundos da agência, mas o gerente ao perceber por quem elas procurava logo tratou de cobrir os cheques, obrigando-lhes tomar um empréstimo consignado para tapar o furo da despesa e o desgaste do iminente frisson que se armava em meio a agência. Não há pessoa mais persuasiva que uma quenga com crédito na praça, gize-se.
E o gerente pelo visto era conhecedor da causa.
Persuasivo, aliás, não foi o futebol apresentado pelo Internacional, ontem, lá pras bandas de Ijuí. Pragmático na primeira etapa, sucumbiu com mais uma falha bisonha defensiva na bola aérea. Simplesmente o limitado zagueiro adversário subiu sozinho enquanto três defensores nossos apenas assistiram cabecear para o gol de empate. No segundo tempo conseguimos desempenhar um futebol ainda mais pornográfico, o qual somente foi maquiado por um Enner Valencia que, depois de bastante tempo, resolveu adentrar em campo motivado, altivo e interessado, tal um jovem na porta de uma boite de outrora (ou puteiro, pra quem não é velho como eu).
Valencia, ontem, estava pronto para uma putaria e o reflexo disso foi um gol e uma assistência. Bom para o Inter que saiu ganhando mesmo não jogando lá estas coisas para isso e, de lambuja, arrematou a liderança absoluta dessa capenga competição.
No final das contas, todos saíram ganhando nos episódios que aqui contei: o Moreira, seu colega, o gerente que estancou um barraco provável, o banco com o empréstimo a juros em tempo de inflação alta e, obviamente, as quengas que receberam por seu ilibado e incontestável labor. E é essa mesma expectativa que detenho, agora, com o Internacional restando patrocinado por uma casa de apostas. Que sejam tempos de lucro e que sejamos poupados de “cheques voadores”.
E que o lucro também se reflita dentro de campo para que, quem sabe possamos nós enquanto torcedores, até a um breve luxo duma (última) fuzarca no chinaredo. Vivam as quengas!
CURTAS
– Professor Roger claramente sabe fazer leitura de jogo e conseguiu desfazer, com galhardia, a escalação morna que colocou em campo;
– Como diria o saudoso Dr. Ibsen Pinheiro, “mexe bem o treinador que escala mal”;
– Aliás, como seria bom ter um Dr. Ibsen da vida nos representando no programa aquele que só nos esculacha. Um Colorado que representou e defendeu o Clube como poucos;
– Para os emocionados irem acordando pra vida: Ronaldo de 5 é nota 5. E olhe lá;
– Já o lateral Aguirre coitado (de nós), é péssimo defendendo e atacando até melhora um pouco, pero no mucho;
– Um quarto zagueiro titular, pra ontem. Por sinal, promissor o guri Victor Gabriel, como já disse, mas a cada passe em profundidade que tenta mais eu tenho sentido saudade do zagueiro do gel no cabelo. E isso não é um elogio ao último;
– Alan Patrick há muito não tem substituto e a direção foi omissa nesse sentido porque quis;
– Wanderson, tal qual Valencia ao menos por ontem, parece querer voltar aos velhos e bons tempos;
– Volto a frisar: não cabe à direção adentrar numa genérica guerra de narrativas. Mas, nem por isso tem que se manter silente. Tem que berrar e berrar grosso;
– Não temos zagueiro desde outubro do ano passado. O lateral titular se machucou há um mês. O volante titular tá indo embora (num negócio imperdível, reconheço) e o primeiro reserva se aguenta muito é 45 minutos em campo. Ou seja: omissão, prepotência e desinteligência parece fazerem parte do leque de opções da atual direção;
– Gauchão é obrigação!
PERGUNTINHA
Estamos, enfim, preparados para uma fuzarca das buenas?
Dá-lhe Colorado para cima deles! Vivam as quengas! Viva o Inter!
PACHECO