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Por mais de uma vez eu refleti aqui, neste espaço sagrado de bons Colorados, sobre a minha jornada lá do meu fundão de campo à Capital. Uma mala com nada mais que meia dúzia de roupas dentro. No mais, muito sonho, esperança e coragem. De alguma forma eu tinha que vencer, voltar pro meu Rincão de mãos vazias não era uma opção.

Morei de primeira numa pensão no Centro, era o que os poucos pilas que trazia comigo podiam superar. Mas, apesar de ter conhecido ali boas pessoas, já naquela época tinham os trastes que queriam apenas encontrar os atalhos. Ou seja, admito que a cada saída para ganhar a vida pela manhã, carregava comigo da angústia do pensar se na volta teria – ainda – o pouco do nada que eu tinha. Mas era meu.

O tempo foi passando, deixei aquela pensão por um pequeno apartamento na Cidade Baixa, a coisa parecia estar um pouco melhor, porém meu coração ainda não conseguia “sossegar o facho”. Fui, sou e devo morrer um agoniado. Estou velho demais para mudar daquelas culturas mais enraizadas, principalmente as arrinconadas na minha mente.

Aí conheci minha Senhora, engatamos o namoro e tive a sorte de ter uma Sogra que, apesar das nossas diferenças ao longo do passar da relação, sabia reconhecer quem eu era e o que eu sentia por sua filha. Tivemos algumas diferenças sensíveis e consistentes, mas cada um ao seu jeito gostava um do outro. E tudo em minha vida mudou efetivamente quando partiu dela a oferta de que eu fosse morar com eles. Aquilo me trouxe um apoio moral significativo, afinal, depois duma porção dê tempo eu tinha um lugar realmente com cara de lar, novamente.

Nada será como o nosso Gigante da Beira Rio. Nunca será. Todavia, senti uma sinergia vibrante no jogo de ontem na Capital catarinense. E aquilo contagiou o time de uma forma que não vinha acontecendo em nenhum dos outros lugares que mandamos partidas nos últimos vinte e poucos dias; de modo que se a caneta fosse minha e o papel estivesse ao meu alcance, definiria o Orlando Scarpelli como “nossa casa” até a volta derradeira, necessária e esperada ao José Pinheiro Borda.

Na bola, foi o nosso melhor primeiro tempo de algumas partidas pra cá, senão com momentos de panela de pressão, ao menos na parte de futebol consistente. Não foi o futebol mais bonito, mas eficiente. E eficiência andou nos faltando (e muito), quer na hora de botar a bola pra dentro ou no ato de evitar assanhamento dos adversários.

Inter foi pragmático e me parece que se seguir assim até voltar pro Gigante, acalmará o coração de todos nós. O meu agoniado, talvez nem tanto. Tentarei, prometo.

Anos depois quando botei os pés no imóvel que consegui comprar junto com a minha Senhora, passou na mente um filme daqueles que, se fosse o último, teria um final feliz. Eu já tinha vencido, de qualquer forma. E tudo só começou a acontecer de verdade depois que a “Sogra Véia” abriu as portas da sua casa para este taura do interior. Aquela certeza de acolhimento era o que eu mais precisava.

Pois quem sabe ontem encontramos o “sossego” (no coração) que precisamos para aguentar mais um pouco a hora de botar os pés dentro da nossa própria casa. Se pra mim não faltou uma alma bondosa que me estendeu a mão décadas atrás, percebe-se que na bela Florianópolis não faltará um Povo Colorado apaixonado para gritar e cantar até o fim.

Voltaremos, mas não agora. Até lá, sobrevivemos junto de quem demonstrou que nos quer de verdade e nos acolheu.

Lugar com cara de lar.

 

CURTAS                                                                              

– Sendo o momento de sobrevivência, faz sentido a tática de Coudet em rodar o grupo. O que não impede de contestar suas escolhas e a leitura que faz das partidas;

– Alguns jogadores claramente deveriam entrar mais vezes em campo, como Bruno Gomes e Rômulo;

– Não sei se em razão do amor ou da dor, mas o seu verdadeiro futebol Wanderson ainda não reencontrou;

– Já Wesley, em compensação, encontrou no Colorado a felicidade. Sorte a nossa;

– Talvez nosso melhor lateral esquerdo seja o imponderável. Só não pode deixá-lo bater pênalti e, pelo visto, dar entrevista;

– Bustos é o melhor lateral direito que temos em uma década e, apesar da minha cisma ante a questão dos cruzamentos, se queria ir embora parece não querer mais;

– Fui dormir e ao acordar achei que o árbitro da partida ainda estava dando acréscimo;

– O velho Gigante da Beira Rio de guerra logo estará de volta!

 

PERGUNTINHA

Dúvida que devemos seguir nos banhando em Floripa?

 

Ruas de fogo recorde longe de casa? Nada se compara à Nação Colorada.

PACHECO

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