CÁ NO FIM DO MUNDO
Tem surungo, diria o poeta e cantador. E nos meus tempos de fandango eu estive em lugares que até Deus dúvida que existam. Aliás, é de se reconhecer que o povo de outrora era bem mais obstinado que os de hoje, que buscam nos atalhas seu meio de sobrevivência. Antigamente não tinha telefone, rede social, ônibus de linha, as vezes sequer estrada ou automóvel – era tudo na base de cavalo e mula, e ainda assim aquela gente guerreira abria picada e construía vilarejos no meio do nada e perto de ninguém. E mesmo nuns vilarejos em meio do nada e perto de ninguém nunca faltou uma igreja ou capela pro povo renovar a sua fé e um salão de baile ao lado para garantirem um pouco de sentido à vida.
Nascemos gostando de festa, vamos combinar. E aqueles que não gostam devem ainda estar procurando um propósito à própria existência.
O ano eu já nem lembro, mas faz tempo. Íamos tocar no sábado, num desses fim de mundo que somente eu já havia estado, e tanto por isso quem arranjou o contrato do baile. Ainda não tínhamos ônibus e o equipamento foi num Mercedes Bens 608 do Airton; e eu fui junto pois era o único que sabia o caminho. Havia chovido muito nos dias antecedentes e tanto por isso partimos antes do clarear do dia, afinal havia ao menos 40km de chão batido pelo frente na rota de destino.
Subimos a serra e, apesar do adágio popular dizer o contrário, foi aí que o Santo nos ajudou. A coisa começou a ficar osca quando começamos a descer novamente e o Airton, com aquela paciência de Jó que eu não sei como ele conseguia ter, lascou: “estamos perdendo o freio”. O mais engraçado é que ele falou aquilo com tanta naturalidade que eu nem consegui ficar nervoso com a notícia, embora devesse. Era eu, ele e o equipamento naquele caminhão e o resto que só viria muitas horas depois amontoados de 6 numa velha Caravan. E ainda se perderam. Não tinha telefone e se tivesse não teria sinal naquele fundão de qualquer maneira.
Seguimos como pudemos, o Airton que era um motorista experiente contornou a situação e quando acabou o asfalto, recordei que no vilarejo havia uma rodoviária e nela tinha um bar. Ali descobrimos um mecânico que, sem muita estrutura não podia consertar o vazamento do freio, mas conseguiu isolar uma roda: teríamos o freio pela metade, mas ao menos teríamos uma chance de terminar aquela primeira etapa da viagem e voltar em segurança pelos 200km que nos esperavam depois.
Pois bem. Temos visto no Internacional dos últimos dias um festival de saídas ou, ao menos, de jogadores que supostamente querem deixar o Clube. Uns dizem que por não gostarem do Magrão e outros, quem sabe, pela falta de perspectiva desportiva. Das suas próprias e do Colorado; quem sabe até de ambas. Ao certo é que a verdade não sabemos e precisamos sempre desconfiar de certas “notícias” que surgem por aí, afinal, se todos concordamos que a direção atual se comunica muito mal com a nossa Torcida, isso tem que valer para o bem e para o mal. Se não saem do Beira Rio informações com certa facilidade, são de todos os gêneros.
Ao passo que vão saindo jogadores parece que o objetivo agora é buscar reposições que garantam o mínimo: um time ao menos descente dentro de campo para que se assegure um desempenho ao menos razoável, que já basta para um meio de tabela nos tempos capengas do futebol atual. Tal qual a roda isolada certa feita, temos de isolar daqueles que não querem demonstrar o mínimo de comprometimento para a causa, afinal, é preciso alcançar o destino proposto. E fazer algum tipo de festa quando se estiver lá.
Cá no fim do mundo tem surungo. E espero que futebol, também.
E vitórias, muitas delas, enfim.
CURTAS
– Que Roger Machado fala bem já deu para notar. Minha dúvida é se a leitura de jogo ainda capenga é por teimosia ou falta de opções mesmo;
– Tem um ou dois jogadores ali que não podem mais vestir a camisa do Inter. Um deles é o dito Colorado Hyoran;
– A volta do Thiago Maia nos trás uma nova perspectiva. E quem sabe Wanderson, se resolver achar o seu futebol, igualmente;
– Bustos não queria ficar então que vá. Enquanto ele queria ir o tal Bruno Tabata quis vir. É com esse então que dividiremos a trincheira;
– Difícil arrumar lateral da qualidade do argentino, ainda que não tenha acertado um cruzamento no ano. Mas 20 milhões por quem sairia de graça daqui a 5 meses não pode ser chamado de mau negócio;
– Não vou opinar no momento sobre o novo zagueiro uruguaio, afora que preocupa seu histórico de lesões;
– Eu hoje acordei sorrindo, lembrando que Colorado será sempre Colorado;
– Que voltamos ao gigante da Beira Rio no domingo. Ganhar é fundamental e obrigatório e apoia, agora, também.
PERGUNTINHA
Vamos mais uma vez, Povo Colorado?
É pelo Inter, o nosso amor. Vai ser sempre por ele!
PACHECO