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Fumei cigarro por mais tempo que deveria, mas em verdade é que no meu tempo aquilo era comum, quase que um status social. Prometi à minha senhora parar muitas e muitas vezes. Na última ela acreditou em mim, então pitava lá na repartição e enganava com bala de funcho, que não posso mais nem ver na vida. Não sei se eu era bom em esconder ou ela fingia que não via, mas sei que numa das tantas ela apareceu na repartição para uma visita inesperada, o Carlos – de caso pensado – avisou que eu estava no pátio e que ela podia entrar e ir até lá.  Pegou-me no flagra e bem mais que a mentira com perna curta, longa foi a vergonha que senti. Nunca mais coloquei um cigarro na boca depois daquele dia.

Tanto por isso não me abalei quando nas costas das carteiras de cigarro passaram a colocar pessoas doentes e mutiladas pelo vício. Confesso, todavia, que preferia não ter visto daquilo. Nem que fosse por “amor ao desconhecido”. Não sei se é a verdade que dói mais ou a vergonha da convivência com a realidade plena.

Nos idos dos anos 1990 o meu guri mais velho, naquela sua loucura pelo Colorado, começava ouvindo rádio no final da manhã, quando chegava do colégio e lá pelas cinco da tarde abandonava sua patota na rua e voltava para o rádio de novo, esperando alguma boa nova para os lados do Beira Rio. Todo dia aquele ritual sagrado. Mas naquele tempo, mesmo pelo rádio, a notícia nunca viajou tão rápido ao seu destino como nestes de agora; tudo muito instantâneo e deveras precário em matéria de qualidade.

Obviamente que antigamente também haviam coisas ruins. Já tínhamos dirigentes incompetentes, técnicos inqualificáveis, jogadores medíocres. Mas, quer pelo “amor ao desconhecido” ou mesmo pelo ritmo natural mais lento da coisa, demorávamos a ficar sabendo dos embaraços, dos jogadores fazendo beiço para jogar, dos salários atrasados, dos dirigentes fechando cabaré com o dinheiro do Clube (sim, tudo era mais romântico e inocente naquele tempo) e por aí vai. Isso quando ficávamos mesmo sabendo…

Agora, tudo vem a galope. E as notícias vazam mais que saco de farinha em bolicho de campanha…

E tanto por isso que eu andei pensando que, talvez, a decepção com nosso atual Presidente pareça pior que com outros do mesmo naipe que já tivemos. Porventura nem seja o mais inqualificado, erre e acerte tanto ou mais que outros que sentaram na mesma cadeira, contudo nos dias de agora em que todos sabem e vêem de tudo quase que instantaneamente, sua inaptidão dilacera os ideais da razão do torcedor mais comedido que, a esta altura, cansado de ter sido feito de chacota mais uma vez, já pede (possivelmente com razão) a cabeça do mandatário mor que então conduz o Sport Club Internacional por um caminho já quase que sombrio.

Naquele velho ideal de ter “amor pelo desconhecido”, que em linhas gerais nada mais é do que estar em paz com a falta de ciência e sabedoria daquilo que rola pelos esgotos do Clube, ter coragem é saber viver, sobreviver e resistir nos dias atuais como Torcedor Colorado.

Pois bem. Não sendo a coragem o forte de quem manda no Internacional e, sinceramente, o Presidente tampouco teria a hombridade de pedir o boné, nos resta torcer para que aqueles que entram em campo possam demonstrar algo para além do que vimos até agora. Um mínimo de perspectiva, ao menos.

O percalço é que é difícil acreditar nisso para quem já parece no fim da linha…

Não sei como acabará, mas por via das dúvidas desde já prefiro nutrir do “amor ao desconhecido”.

 

CURTAS                                                                              

– Acabaram com o Internacional;

– Dizia o saudoso Dr. Ibsen Pinheiro que “mexe bem o treinador que escala mal”. Confesso que ainda não dá para enxergar sequer virtude no trabalho de Roger Machado;

– A palavra vergonha tem “vergonha” de seu uso em assuntos relacionados com o Inter;

– Jogadores fazendo beiço para entrar em campo, direção omissa que se esconde atrás de tudo;

– Tivesse prestado atenção no que fez o chileno para sair da primeira vez, teriam da hombridade aquela para jamais deixar pisar no Beira Rio novamente;

– E isso vale para qualquer jogador, treinador e dirigente: ninguém é ou será maior que o Sport Club Internacional;

– O ano do Colorado terminou em julho e agora é só uma luta ingrata pela sobrevivência;

– Verdade seja dita: violência também em nada irá contribuir;

– Já nem tenho mais decepção pelo que fizeram com Internacional. A decepção é comigo mesmo, por um dia (ou alguns) ter acreditado nesse amadorismo todo;

– Depois de uma caçada de tatu na semana passada, estou de volta ao noticioso do Inter. Querendo mesmo é ter ficado lá nas grotas sem saber de nada.

 

PERGUNTINHA

Não quer calar: o que fizeram com o Internacional?

 

Já não posso nem pedir mais fé e resiliência pra ti, meu Povo Colorado! Que o homem lá de cima tenha um pouco de piedade de nós.

PACHECO

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