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Sentado à beira do caminho, cousa de trinta anos atrás ou até mais, conheci um Senhor que tal como eu aguardava a condução para poder seguir em frente; um homem talvez da mesma idade que tenho hoje, quiçá menos, visto que as marcas em seu rosto não escondiam a vida sofrida que lhe acompanhara.

Falastrão que sempre fui e continuo sendo, naquela terra de alemão que não gostava (e certamente ainda não gosta) de ficar mostrando muito os dentes, procurava não ultrapassar os meus limites. Estava quieto a olhar para o horizonte perdido da estrada esperando aquele ônibus despontar e me levar para qualquer outro lugar.

O tempo era enferruscado, não recordo se já chovia ou estava prestes a assim fazê-lo, quando aquele Senhor, com suas marcas do tempo, começou, assim – do nada, a me contar uma história de sua infância: moravam num pequeno rincão, casa de madeira com telhado de tabuinha (duvido alguém aqui que tenha visto isso), agricultores que plantavam quase só para sobreviver, muito pobres. Ele e os irmãos não podiam sair com os pais ao mesmo tempo pois só detinham um sapato para revezar.

Não bastando tudo isso, em um determinado dia um temporal avassalador com muito vento e granizo acabou com a plantação de milho de seu pai e levou embora o telhado rústico do casebre em que viviam. Estavam diante da prima facie do desespero e da desesperança.

Foi quando pai, sem ter para onde correr com sua já família numerosa, trocou a lavoura de milho pela de fumo, e foi o fumo que não só levantou sua família novamente, como lhes alcançou, enfim, um pouco de dignidade na vida.

Lembrei dessa história ontem, no segundo tempo da partida, enquanto assistia o Internacional sonolento jogando em Santa Cruz do Sul, terra do fumo. Pouco me importa a questão de saúde pública neste momento, visto que o objetivo não é estar aqui discutindo os malefícios do cigarro. A questão é que, bonito ou não, para nós que estamos aqui sentados, não à beira do caminho mas no conforto de nossos lares ou dum escritório com ambiente climatizado, saber reconhecer que para o próximo nem sempre a vida reserva o mesmo caminho pavimentado que o meu (nosso), é primordial.

E o futebol quase sempre segue no mesmo rumo.

Gostando ou não da forma como se está gerenciando a participação do Colorado no campeonato regional, ao certo é que possível de se compreender que a atuação do segundo tempo realmente demonstra um time em pré-temporada, ainda. O clima da etapa complementar foi de jogo treino, coxa colada, preservação, enfim. Parece-me que direção, comissão técnica e grupo de jogadores tem certeza do que querem e, principalmente, do que não querem. E com isso em mente, adaptam-se à realidade atual sem esquecer que ainda estamos no segundo mês do ano, apenas. Temos mais dez meses de futebol pela frente e precisamos chegar lá com quase todo mundo inteiro.

Recordo que aquele Senhor ainda me disse que o pai sempre foi muito relutante ao plantio de fumo, mas soube reconhecer nele a necessidade que batia à sua porta, afinal, a planta era e ainda é muito resistente a todo tipo de intempérie. Creio que se possível fosse estaríamos jogando sempre com titulares e seríamos líderes do ruralito com sobras, pensando na história do segundo jogo em casa. Contudo é preciso reconhecer que o ano não termina num mero Campeonato Gaúcho e nossas aspirações nesta temporada, a rigor, são outras.

Não é de hoje que o futebol nos mostrou que adaptações ao longo do caminho são muito válidas para alcançar o que se almeja. Adaptar para ganhar.

E ganhar!

 

CURTAS                                                                              

– Não é de ontem que o time parece entrar sonolento em campo em ambas etapas da partida, tal qual o segundo tempo. Assunto para Coudet tratar com a turma;

– Clima de jogo treino é prato cheio para perder um monte de gol. Todavia está na hora de começar a ultrapassar este estágio;

– Bola parada tem de ser prioridade nos treinamentos fechados. Prioridade (!);

– Valencia precisa superar o trauma de perder gol cara a cara com o goleiro;

– Mas é jogadoraço, vamos combinar. Terra arrasada em fevereiro? Me poupem (!);

– René evita ao máximo em se comprometer e quando o faz é um tormento. Sua titularidade é quase que uma encruzilhada;

– Robert Renan fez um primeiro tempo sublime, mas deixou a desejar no segundo. Coisas do futebol. Ainda assim, um senhor zagueiro;

– Gostei do Bruno Henrique e também do Aranguiz. Contudo, ainda sigo achando que é um ou outro;

– Houvesse justiça no futebol o jogo teria sido uns 8×0 pro Internacional, não fossem as chances perdidas frente a frente. Mas isso não teria sido justo com o grande Pedro Iarley. Os dois a zero ficou de bom tamanho.

 

PERGUNTINHA

Já imaginaram Iarley jogando no time atual?

 

Vamos nos adaptar para ganhar, Nação Colorada!

PACHECO

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