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Trabalhei com o Carlos em um dos escritórios da repartição. Não lembro se cheguei a comentar dele por aqui, talvez somente de seu filho mais velho. Ambos Colorados doentes. Com o guri, que já é um homem feito, cruzo vez ou outra pelo Beira Rio, ali nas imediações do Portão 8. Já o Carlos, há muito, desistiu de ver o Inter presencialmente no Gigante. Aliás, foi comigo que ele passou pela catraca para um amistoso contra o Clube ucraniano lá no longínquo ano de 2015, sua última estada no Beira Rio.

O mais engraçado é que o Carlos segue um Colorado dedicado. Vez ou outra quando me chama pelo zap, o assunto é sempre o Internacional e as vezes ele sabe das notícias antes mesmo que eu. Nunca entendi qual foi o gatilho que passou a ceifar a relação do Carlos com o Beira Rio e, de forma mais angustiante – obviamente, com o Inter. Até que um dia, afinal, tomei a coragem de lhe perguntar acerca do eventual trauma, ainda que nunca tenha pensado em me dedicar à psicologia.

Qual foi a sua resposta, que eu nunca esqueci:

“Após ver aqueles timaços dos anos 70 e ter aprendido também a sofrer com insucessos dos 80 e o desalento do 90, voltar a vencer e da forma como fizemos naqueles cinco inesquecíveis anos dentre 2006 e 2011, fez-me entender que, como Colorado, jamais conseguirei novamente dosar e carregar nas costas o peso da expectativa em detrimento da frustração da realidade”.

O peso da expectativa em detrimento da frustração da realidade!

Pois na última sexta-feira eu jantei com o Carlos na sua casa, uma bela cabana rodeada de árvores frutíferas que poderia ser, facilmente, confundida com algum jardim do paraíso. Experimentei dos sabores das suas cachaças, lembrei dalgumas histórias engraçadas dos tempos de repartição e, corajosamente, coloquei o assunto Internacional na pauta, já quase ao final do encontro. Disse-me ele que ‘ter aceitado a mais dura realidade de que já está velho demais para assistir outras façanhas do Colorado, o fez fazer da sua própria vida algo mais simples de se viver com o tempo que ainda lhe resta’.

Isso me martelou tanto que, com o primeiro afano descarado em prol daquele timezinho paulista que só é “ão” com a ajuda alheia, desliguei o televisor pois no fundo já sabia onde aquilo ia dar. E deu. Meu sentimento provisório de certeza e aceitação, todavia, não impediu que eu passasse o domingo inteiro acabrunhado.

Estes sete longos anos que uma sucessão de dirigentes, treinadores e jogadores incompetentes nos fez esperar para gritar um “é campeão gaúcho!”, novamente, talvez tenha nos gerado, dentre tanto desgosto reiterado, uma tonelada de expectativa tamanha no tocante a novas façanhas que, possivelmente, já não queiramos mais sentir o mesmo peso da frustração, de novo, tudo outra vez.

Da minha parte, eu acreditei, sim, que poderia ver o Clube que há mais tempo não é Campeão Brasileiro fazer isso ainda no ano de 2025. Tolice a minha, possivelmente. Só mais uma das tantas que já construí e alimentei na vida.

E da mesma forma que aprendi que razão assiste meu amigo Carlos em pensar assim, como Colorado, bate-me uma tristeza quando começo a ter de acolher que terei de fazer igual a ele, simplesmente, para efetivar da minha própria vida algo mais simples de se viver com o tempo que ainda me resta.

Aceitar que, como Colorado, jamais conseguirei novamente dosar e carregar nas costas o peso da expectativa em detrimento da frustração da realidade.

A realidade é dura, contudo, é a mais pura realidade.

 

CURTAS          

– Professor Roger Machado já parece querer se enganar com o próprio discurso de que não somos nós que perdemos e sim eles que venceram;

– Ao certo é que vencemos o Gauchão pois esticamos a corda até o limite e, com isso, o time agora tem demonstrado as consequências físicas e emocionais disso;

– Apesar do gol anulado, a verdade mais clara sobre Enner Valencia é que ele mal tem conseguido dominar a bola;

– Elogiei Bruno Henrique aqui pois estava fazendo bom papel no Gauchão. Ponto. Não pode isso lhe assegurar uma vaga quando agora está, a rigor, prejudicando o time;

– Todavia, é de se reconhecer que numa ideia de 3 zagueiros, qualquer camisa 8 que entre em campo vai babar na gravata;

– Essa história de que o planejamento estava dando certo até o intervalo e que ‘isso e aquilo’ é conversa pra boi dormir. Choro de perdedor;

– Vitão, em que pese o risco de gancho, já fez mais numa entrevista do que a nossa Direção em prol do Inter neste Campeonato Nacional;

– Lembrei duma estada minha em Cartagena. Dias felizes por lá. Medelín não tem as mesmas nuances, mas queira o destino que me faça um pouco feliz nesta noite de hoje(!);

– Para tanto, conto com tua distinta contribuição, Sport Club Internacional!

 

PERGUNTINHA

Vai começar o acadelamento tudo de novo?

 

Não sou e nunca serei prenda para me contentar só com gauchão. Coragem, Internacional. Coragem!

PACHECO

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