Repetência
O Inter jogou um campeonato brasileiro fora pela insistência nos seus próprios erros.
Certo que fomos solenemente surrupiados em pontos importantes, e não há como comparar um pênalti no primeiro tempo a um pênalti aos 40 do segundo tempo, mas também tivemos pênalti aos 45 do segundo e não convertemos.
Nossos erros são os mesmos, e isso implica considerar burrice, ante a total incapacidade de aprender com o que fizemos de errado, mais de uma vez.
Vamos começar com o tal pênalti perdido contra a Chapecoense. Fomos rebaixados pelos pontos perdidos ao premiar com a cobrança jogadores que não estão habituados a fazê-la, como Paulão, contra a própria Chape, e Valdívia, contra o SP.
Talvez em nosso pior ano da história, erramos duas vezes no mesmo quesito, e parece que não aprendemos nada ao escolher Damião para a cobrança quando D’Alessandro estava em campo. D’Ale já errou pênaltis, mas é nosso melhor cobrador.
O segundo erro capital nesta excelente campanha é a forma de jogar fora do Beira-Rio. O Inter, no primeiro turno, foi um visitante cruel, que emprestava intensidade desde o início do jogo, ainda que mais focado na marcação do adversário; mas jogava com muita vontade.
No segundo turno, já com parcela de soberba pela colocação na tabela, mudamos a forma de jogar. Sintomática a entrevista de Dourado antes da viagem, quando perguntado sobre a forma de jogar do Inter, respondeu que iriam avaliar o momento do jogo, o ânimo do adversário.
Fizemos isso contra o Sport, e perdemos, contra o Vitória, pela Copa do Brasil, e perdemos, contra o Corinthians e Vasco, e empatamos. O Inter, em todos esses jogos, não jogou o primeiro tempo, mas se adaptou ao avanço do adversário. Em jogo que precisávamos da vitória para permanecer na briga pelo título, finalizamos uma vez em 45 minutos.
Mas talvez o erro principal seja a insistência na escalação errada. Rossi nunca entrou bem, não há um único jogo em que nosso rápido ponteiro direito tenha feito bons 45 minutos iniciais, e falo de sua função de atacar, porque se avaliar seu poderio defensivo seria muito pior. Rossi foi fundamental em alguns jogos, entrando depois do intervalo, em 20 ou 30 minutos de incendiando o time e torcida. Nunca começou bem um jogo no Inter. E no jogo em que precisávamos dos 3 pontos, Rossi iniciou o jogo. Não é culpa dele, ele faz o que sabe, limitadamente o que sabe.
Nico veio como goleador de uma Libertadores, e afundou na reserva depois de péssimas escalações e orientações. Um dos grandes méritos de Odair foi recuperar esse investimento e esse jogador, levando-o ao patamar de goleador, de jogador imprescindível ao ataque do time.
Só que Nico, sem a bola, é um jogador muito fraco, e Nico, como atacante isolado no mesmo esquema usado quando Damião é o nome da 9, ele afunda. Nico não consegue jogar por ali, trombando zagueiros, tentando segurar a bola. E todos vimos isso, reiteradamente, em 2016 e 2017, e vimos contra o Vasco, novamente.
Foi de clareza solar a mudança do time com a entrada de J. Alvez, permitindo que Nico jogasse com a bola dominada, enfrentando o adversário de frente, ou correndo mais que ele, mas muito tempo já havia passado. E isso aconteceu todas as vezes em que Nico foi escalado como atacante de referência, e em todas as vezes em que ocupou a função pressionado por Pottker, que gosta da ala direita do campo.
Mesmo assim, o aprendizado não veio, e repetimos o erro e o resultado insuficiente, decorrente de um desempenho insuficiente na maior parte do tempo de jogo.
Não tenho dúvidas sobre a prejudicialidade da arbitragem na nossa campanha, principalmente nos últimos jogos e em momentos cruciais, mas esse negócio de atribuir culpa aos outros normalmente serve para inebriar a visão de que o erro foi cometido antes, e repetido, e isso tem nome.