COERÊNCIA
Coerência é fundamental, principalmente nas derrotas. Grande parte da torcida tem sido coerente, pois grande parte apoiava a manutenção de Odair, entende que terceiro lugar é do tamanho do Inter, e que perder uma final não pode ser ruim porque chegamos lá. Grande parte da torcida é a favor da manutenção de D’Alessandro no time e fica feliz com resultados, pouco importando como o time joga.
Eu fico com minha coerência, e não vou abandonar o que defendi e defendo porque perdemos um grenal em casa.
Por mais que a imprensa diga o contrário, e entenda que gols impedidos são chances reais, achei que o Inter foi superior no grenal, e, principalmente, superior a si mesmo, como não era desde os tempos de Aguirre.
Lembrando anos anteriores recentes, com um jogador a menos, postamos 10 jogadores atrás da linha da bola. Em igualdade, postamos 11 jogadores atrás da linha da bola. O que vi ontem, foi o grêmio com 11 jogadores atrás da linha da bola, esperando um erro do Inter para sair em velocidade. Vi um time com um jogador a menos ser melhor, mais presente no ataque, ter posse de bola e iniciativa, ter vários jogadores na área adversária e buscar o resultado.
Vi um treinador adversário usar a mesma tática de sempre, empilhar atacantes para não ser chamado de covarde, seja lá qual for o resultado.
Sim, ele ganharam o grenal, mas, como disse antes do jogo, o resultado desse grenal era o que menos importava. Seria o primeiro teste do time de Coudet, e passamos.
Meu receio era que, com o time adiantado, sofrêssemos com a velocidade, e isso não ocorreu. A velocidade e o toque foram neutralizados pela linha de impedimento. Depois de 20 minutos em que o time não se acertou, fomos superiores, ainda com deficiências no ataque, mas muito superiores aos times que montamos nos últimos 5 anos.
Temos problemas, claro, mas é um alento ver o time jogar sem medo, buscar o gol e se postar mais à frente do que na linha da própria área.
Temos problemas no gol, claro. Diego Souza dá quatro passos em direção à bola para cabecear, Lomba da passos em direção ao próprio gol. Já se posiciona errado no lance, muito dentro, e, com o cruzamento, vai em direção ao gol, e não á bola. Falo disso há anos, mas parece opção do clube não ter goleiros que saiam do gol. Não fez nenhuma defesa, até porque o Grêmio não entrou na nossa área.
Rodinei surpreendeu. Após o primeiro erro ao não interceptar a bola que foi para Alysson (acho que impedido), no primeiro lance do jogo, melhorou, foi ao ataque, aos poucos a velocidade aparece, mas tem deficiência na leitura do jogo e no passe. Falhou ao marcar Everton à distância, compreensível pelo cansaço, mas é falha.
Fuchs começou muito mal, nervoso, querendo ser decisivo nos passes, mas cresceu, fez boas interceptações e, depois que entendeu o modelo de jogo, efetuou passes mais seguros. Coudet entende que é opção para saída de bola, principalmente porque Moledo é muito ruim nesse quesito. Será uma opção entre a força e velocidade contra um bom passe e mais recursos com a bola. Perdeu o duelo com D. Souza onde poderia perder.
Cuesta é soberano, mas poderia ter grudado mais em D. Souza no gol. Argentinos tem reflexos de goleiros que saem do gol em bolas cruzadas na linha da área. É um dos melhores zagueiros do Brasil, e quase cruza a bola para o gol de Guerrero.
Moisés foi a síntese do nervosismo inicial, perdendo bolas fáceis e se atrapalhando na marcação. Após os 20 iniciais, melhorou e fez um jogo seguro, ainda que avançando pouco. Está, lentamente, se entendendo com Boschilia.
Musto cometeu um erro grave, não só pelo segundo cartão, mas por achar que não alcançaria D. Souza. Errou no tempo de bola, em fazer a falta e em achar que o atacante conseguiria correr para o gol. Embora tenha perdido pontos, é o jogador mais desembocado do time, pesando o grande tempo sem jogar, mas acho que Coudet vai insistir no modelo até que alguém se destaque na função. Ninguém fala do primeiro cartão, quando Jean Pierre pendurou o jogador que mais faz faltas no Inter.
Lindoso, na primeira bola que não girou para trás, e sim para frente, deu início à primeira jogada de ataque do Inter. É muito lento para a função que Coudet quer, mas se saiu melhor com Edenilson ao seu lado. Parece ter muita dificuldade de olhar o jogo de frente com jogadores adversários a dois ou três passos de distância. Não deveria ter sido substituído, mas o cansaço era evidente.
Edenilson foi muito bem, mas pecou nas finalizações. Na copinha, elogiei Praxedes por fazer um gol que deveria ser normal para profissionais, mas não é, e Edenilson teve chance ainda melhor e chutou para fora. Ainda é peça essencial para o time.
Boschilia vem melhorando, e rapidamente. Ainda que o entrosamento com Moisés seja lento, já entendeu a função e tem jogado nas duas área com mais desenvoltura. Gostaria de ver na função do Lindoso.
Guerrero quase fez um gol no final, mas errou muitos passes e fez poucas retenções de bola. Depois de Musto, é o jogador mais desembocado do Inter, e precisa desenvolver rápido.
D’Ale fez um bom jogo, mas errou o que não costuma errar. Achei que deveria ter sido substituído por M. Guilherme, e não Boschilia, mas fez duas grandes e boas jogadas que resultaram em chances perdidas pelo Inter. Não dá pra deixar de reconhecer o talento, mas penso que um time sem ele poderia fazer mais. Mostrou que há uma brutal diferença entre Coudet e Odair, pois na linha de 4, com um a menos, marcou o setor mais lento. Com Odair, era colocado para marcar o setor mais rápido do adversário.
M. Guilherme entrou e neutralizou um lado do time adversário, mas foi pouco acionado. Zé Gabriel não deveria ter entrado, e Galhardo não pode ser avaliado.
Coudet tem vários méritos, postando o time na frente, jogando igual com qualquer adversário. Confiou que levaria o jogo aos pênaltis, por isso manteve D’Ale e Guerrero, e não fosse um erro coletivo da defesa, teria dado certo. O adversário não entrou na área, não teve espaço para chutes e não teve a bola, mesmo com um jogador a mais. Nosso treinador não abdicou de tentar o resultado com a bola.
Estamos acostumados a ter 11 jogadores marcando, e Coudet visivelmente abre mão de dois marcando, postados no campo adversário, alongando o campo e segurando adversários. Achei que D’Ale deveria ter saído no lugar de Boschilia, para que M. Guilherme pudesse usar velocidade na retomada da bola, e acho que será uma substituição mais natural com o tempo. Quem acha que é possível ter um futebol ofensivo sem correr riscos na defesa, precisa ver mais o futebol mundial de alta qualidade.
Um famoso colunista apontou como fracasso o modelo de Coudet, e toda a crítica se baseia em Musto, esquecendo que tivemos um Inter muito melhor, mas ainda com falhas nas conclusões, as mesmas dos outros jogos, talvez até pela escolha dos jogadores e pela falta de opções; mas é um time muito melhor que o que tínhamos antes, e muita gente quer que repitamos o que tínhamos antes. Por coerência, eu não.