ACASO CONFORTÁVEL
Depois de conquistar dois pontos em seis disputados em casa, o Inter ocupa uma posição extremamente confortável na tabela para quem não quer nada com o campeonato.
Foram dois jogos que podíamos ganhar, cedemos espaços, bola, vontade, e terminamos com um empate de sorriso amarelo, do bônus de vaga para Libertadores.
Não desprezo vaga, não comemoro, mas não desprezo. É visibilidade, mais dinheiro, e uma competição que tem glamour, ainda que a esperança de que tenhamos um time que resolva jogar todas as competições que participe seja pouca.
Mas poderia ser mais fácil, poderia ter uma busca de resultados e padrão que inspirassem a visão de que temos efetivamente um processo em formação. Sim, temos alguma coisa, Kaíque parece um acerto, aparecendo bem em dois jogos depois de quase um ano sem uma partida profissional. Gustavo Maia é incisivo e irrequieto, além de saber e ter coragem para chutar (não foi o primeiro).
Maurício apresenta números melhores que o selecionável (pelo menos na minha estatística, ele perde gols), e PV parece um lateral com muito futuro dentro de um time equilibrado. Ainda temos Daniel e Keiller, mais um sub-20 que parece se acertando e com a possibilidade de oferecer um ou dois jogadores para o próximo ano.
Recheado de jovens, o time vai precisar de equilíbrio, uma certa mescla com jogadores mais experientes, e aí reside nosso problema.
Hoje, claramente temos jogadores experientes, alguns até demais. De Lomba até Patrick, passamos por Saravia, Mercado, Cuesta, Dourado, Lindoso, Edenílson e Taison. Um bom número para mesclar com os jovens já citados, mais Johnny, Palacios, Heitor e Caio Vidal.
Essa experiência é autora da tese que temos que baixar as linhas depois de fazer o resultado, exposta em crítica ao treinador que gostava de manter o time no ataque, e é a atual crítica corrente inversa, de que o time se contenta com a abertura do placar. Até preparo físico já virou desculpa novamente.
Não podemos esquecer que o motim veio exatamente da necessidade de baixar as linhas depois do placar, e essa ideia nos fez “conquistar” esses dois pontos. Essa experiência é que precisa mudar.
E não sei o que tanta experiência traz, já que, desde o ingresso de Lomba, foram dois pontos em 9, e levou 11 gols em cinco jogos, ainda que não se lhe possa imputar culpa em todos os gols, ou em nenhum. Não é por acaso.
Nos últimos três jogos, dois experientes e referências foram expulsos em momentos chave do jogo. Ainda que não se possa atribuir a isso os resultados, também não se pode desprezar esse número. Lindoso só consegue jogar com Dourado em campo e Dourado precisa outros ares para tentar evoluir. Cuesta ainda é um zagueiro aceitável, mas circula um vídeo com suas falhas nos recentes gols que levamos. Saravia é um excelente lateral, mas parece caro e talvez não fique, e talvez essa situação tenha trazido as falhas nos últimos jogos.
Essa experiência é que precisa mudar.
Taison é de outra turma, mas cada vez que imprime velocidade, se isola junto com Yuri Alberto. Ontem, chegou a ser patético arrancar em velocidade e ver Patrick e Edenílson frear o avanço, o deixando sozinho entre 3 marcadores.
Claro que a história poderia ter sido diferente, uma falta contra o Bragantino matando a jogada no meio teria garantido o placar, e a bola no poste na excelente jogada de Johnny com Yuri selaria o ímpeto do Corinthians, só que é pouco.
Precisamos entender que atacamos com dois volantes e dois atacantes, e que volantes podem fazer gols e jogar construindo alternativas, mas a lógica não é essa. Patrick tem um cruzamento para o gol, e um cabeceio, e Edenílson tem um cruzamento e um chute ruim. Patrick, nos últimos jogos, tem compensado ajudando na marcação, e Edenílson nem isso; aí temos dois atacantes e fica muito mais difícil fazer gols com só dois atacantes.
Nos últimos jogos em que atuamos com apenas mais um jogador mais propenso ao ataque, Maurício, fizemos nove gols, e perdemos mais chances. Não é por acaso.