A comédia dos erros
A literatura é farta em comédia de erros, Shakespeare tem algumas clássicas, mas Cândido, ou O Otimista, de Voltaire, na minha modesta opinião, supera qualquer uma.
Já o Inter parece que pretende superar qualquer equipe em relação aos dramas de erros, às tragédias previamente anunciadas, só que não por erros subsequentes, mas pelo mesmo erro repetido em anos consecutivos.
Odair parecia ter começado bem, rodízio, chance para gurizada, mudança de posicionamento de um tempo para outro, bola no chão na saída, troca de passes e troca de posições entre os atacantes. Potker fez dois gols pelo meio, e não por arrancadas pela ponta, embora tivesse construído algumas jogadas por ali. Juan apareceu, ainda que minimamente, mas melhor que o ano passado. Marcinho parece promissor, ainda afobado, e Patrick foi a única contratação que mostrou alguma coisa, sem considerar a barriga saliente.
Nos primeiros jogos, Odair mudou o esquema, testou alternativas. Nos dois últimos, começaram os erros, ou a repetição dos erros passados.
Não me interessa muito o placar, mas o futebol apresentado. E os equívocos.
O primeiro é treinar de um jeito para um jogo, e, na hora, mudar o esquema. Estivesse o time azeitado, preparado, treinado, jogando por telepatia, tudo bem, mas é início de temporada. Se repetisse o time que terminou o ano, já que é possível, até entenderia.
Mas treinou um time, colocou outro, e um outro covarde, com três volantes que não criam nada além de buracos no gramado. Estatisticamente, não é surpresa, o time tem mais volantes que outros jogadores, então nada mais justo que encher o time de volantes defensivos, que não chutam, não passam, não conduzem. Esse é o perfil dos volantes contratados, com pequena exceção do Patrick.
Bem, poderia ter sido uma experiência ruim, afinal, contra os reservas do Boa Vista, em jogo cujo empate seria suficiente, o risco seria muito pequeno; e com certeza foi uma experiência muito ruim, apesar das chances criadas e não convertidas (outro alerta), mas eram os reservas do Boa Vista, então o time foi mal, e iria mal qualquer que fosse o resultado que não a goleada.
Experiências ruins fazem parte do processo construtivo, ou construtivista, e elas servem exatamente para não serem repetidas.
Aí a surpresa da repetição, contra o por nós desfalcado Brasil de Pelotas, três volantes que não criam, não chutam e que defenderam mal, ainda por cima. Dourado e Charles não são craques, mas estão muito longe de serem ruins de bola, mas pareciam jogadores amadores, com e sem a bola. Patrick ainda se salvou um pouco, mas claramente não é o jogador que o Inter precisa para a posição, exceto se o erro de três volantes for novamente repetido, mas aí pouco importa quem, excetuando Modric e Kross.
Na verdade, pouco me interessa se é da cabeça do treinador essa fixação por jogar com três volantes defensivos, se é exigência da direção ou de quem manda na direção, segue inaceitável um time do tamanho e tradição do Inter, jogar covardemente, defensivamente, acadeladamente.
Ainda vou ressaltar um outro erro do Odair: Marcinho tem velocidade, se é pra jogar em contra-ataques, porque um jogador foi expulso, o time precisa de velocidade. Potker, tudo bem, mas tirar Marcinho foi muito errado, para ser elegante com quem ainda tem um tempo de reconhecer o erro e não repeti-lo pela terceira vez.
De resto, nem cabe analisar muito o time, mas é importante dizer que melhoramos sem Camilo, com um a menos, e isso tem que servir de alerta. Camilo é outro que de longe não é ruim, mas não está rendendo nada, e há outros jogadores que podem ser aproveitados, testados.
Só que, estampado em jornais, hoje, Odair diz que o rodízio terminou. É uma comédia de erros sem fim, uma minissérie com várias temporadas contando a mesma história com personagens quase todos diferentes.