Léo Rocha

Gestão de grupo

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Tendo morado por cinco anos nos EUA, para mim foi natural passar a acompanhar os esportes de lá. Se antes de sair daqui eu pouco sabia sobre beisebol e futebol americano, com a mudança eu comecei a conhecer as regras e a gostar de ver os jogos. O beisebol é um esporte que a pessoa precisa conhecer bem as regras para curtir. Como nós ainda temos muito pouco contato aqui, o esporte não ganha muitos adeptos. O futebol americano, pelo contrário, está ganhando cada vez mais interesse da mídia e do público. E não é difícil perceber os motivos. Estádios cheios e com excelente visual, organização, arbitragem auxiliada por vídeo e jogos altamente disputados e emocionantes.

Sobre o futebol americano, aliás, um dia vi um jogador dar uma declaração interessante. Chateado pela grave contusão sofrida, ele disse: “Confio no meu substituto. Nesta liga, você é tão bom quanto o seu segundo ou terceiro reserva”. Em um esporte violento no qual os jogadores usam capacetes e outros recursos de segurança, são muitas as lesões que tiram diversos atletas de toda a temporada. Em 2015, por exemplo, o Baltimore Ravens teve 20 jogadores que acabaram perdendo a temporada por lesão. Como essa situação é recorrente em todos os times, é fácil perceber como na NFL é importante uma equipe ter jogadores qualificados no seu “banco de reservas”.

A partir daí, começamos a analisar os clubes de futebol. Um grupo de jogadores ideal precisa ter três jogadores por posição. Desses, nem todos precisam estar necessariamente no grupo principal, podendo fazer parte de uma possível equipe B (como o famoso sub-23 do Inter), ou ainda vir da base. Aliás, seria interessante que o terceiro reserva de cada posição fosse da base, para que esses jogadores já pudessem se acostumar com o ambiente do futebol profissional. De qualquer forma, eles precisam estar preparados em termos de mentalidade, capacidade física e qualidade técnica.

Nesse sentido, parece claro que o Inter está montando um grupo melhor para este ano. Se fizermos algumas comparações, podemos perceber que o grupo de 2017 está mais preparado para enfrentar a série B do que o de 2016 estava para enfrentar a série A. Basta analisarmos os jogadores disponíveis em cada posição para percebermos as diferenças entre os grupos. Dito isso, vamos analisar nosso elenco atual.

No gol não temos problemas. Na zaga, os zagueiros são Paulão, Ernando, Klaus, Neris, Eduardo e Léo Ortiz. Klaus e Neris, trazidos aparentemente por serem negócios de ocasião, não parecem ser muito diferentes de Paulão e Ernando, ou seja, temos aí quatro zagueiros que valem por um. Eduardo é promissor, mas parece estar momentaneamente em ostracismo. Vendo isso, a direção agiu rapidamente e está trazendo o Cuesta, que parece ser qualificado. Temos ainda o surgimento de Léo Ortiz, e nessa dupla talvez esteja nossa zaga titular para 2017.

Nas duas laterais, estamos aparentemente bem servidos em quantidade e qualidade, depois de anos com tentativas fracassadas nos dois lados. William pode ser uma perda considerável, por ser um jogador com potencial de seleção. Alemão/Junio precisam de melhor avaliação, mas parecem no mínimo razoáveis. Além disso, é importante considerarmos Carlinhos e Uendel apenas como laterais. Mesmo que eles sejam utilizados em outras funções, eles não podem ser considerados soluções para mais de uma posição por que isso pode acarretar problemas durante a temporada em casos de lesões ou suspensões.

No meio-campo defensivo talvez esteja nosso maior problema. Tivemos o acréscimo de Charles, mas Dourado ainda é o único titular indiscutível e precisa de parceria. Anselmo e Fabinho têm qualidade similar e são insuficientes, então ainda precisamos de pelo menos dois jogadores, sendo um segundo homem para chegar e brigar pela titularidade, o que vai permitir que Charles possa amadurecer com mais tranquilidade e sem uma pressão excessiva (algo que historicamente já vitimou muitos jogadores da nossa base).

No meio-campo ofensivo, tivemos a volta do maestro, mas a idade avançada do D’Alessandro exige a presença de um substituto. Seijas talvez seja o mais indicado, embora ainda precise provar sua capacidade. Se considerarmos que Andrigo é insuficiente, Sasha está fora e Valdívia é uma incógnita neste momento, talvez seja necessário mais um jogador com capacidade de controle de bola e armação de jogadas. No ataque, Nico, Brenner, Carlos e Pottker devem dar conta do recado. Para fins de avaliação, considero Brenner e Carlos como jogadores de área (embora Carlos esteja sendo usado pela esquerda), enquanto Nico e Pottker jogam mais abertos. Roberson flutua entre o meio e o ataque, pode dar certo, mas ele ainda tem muito a provar. Cirino é uma aposta, e pessoalmente preferia ver um jogador com um passado recente mais recomendável.

De qualquer forma, é inegável que a formação do grupo está sendo feita com mais consciência. Como no futebol americano, um time não se faz só com titulares. É preciso ter jogadores em número e qualidade suficientes para oferecer opções ao técnico e permitir reposições à altura sempre que necessário. A boa notícia é que já temos o grupo quase completo no começo de março. Deixar para buscar jogadores em junho/julho, como fizemos no ano passado, é uma prática suicida que comprovadamente não funciona.

Abraço e dá-lhe Inter.

Leo

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