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Queria abordar hoje um conceito que representa a minha definição de futebol: futebol é momento e continuidade.

É óbvio o que vou dizer, mas um time de futebol não se forma da noite para o dia. É preciso tempo para realizar treinos e disputar jogos, o que permitirá ao treinador conhecer seus jogadores e formatar um esquema de jogo. Aos poucos, ele vai repetir uma mesma equipe, utilizar reservas sem perder a coesão dentro de campo, aprimorar as diferentes estratégias de jogo e implementar algumas variações táticas. Tudo isso ao longo de uma competição ou temporada. São requisitos básicos e cruciais para uma equipe desenvolver conjunto e alcançar a qualidade necessária para conquistar títulos. Um exemplo marcante disso foi o Inter de 1997, que quase sucumbiu na semifinal do Gauchão, mas manteve a base e fez uma campanha espetacular naquele ano. Além disso, o Corinthians de 2011 perdeu a disputa da pré-Libertadores, mas deu continuidade ao grupo que conquistaria o Brasileiro e, no ano seguinte, o mundial.

A continuidade de um trabalho também permite surgir um elemento intrínseco a qualquer processo de desenvolvimento e aprimoramento: os erros. É possível que nada seja criado perfeito pelas mãos do homem, não sem antes esse homem ter passado um bom tempo testando, praticando e errando suas teorias inúmeras vezes até encontrar a solução ideal. Além disso, somente o tempo permite formar um grupo de jogadores unidos em torno de um mesmo fim. Um time vencedor se faz com um grupo coeso, e isso leva tempo e continuidade.

E momento? Bom, se pegarmos todos os jogadores que passaram pelos grandes clubes do Brasil, talvez tenhamos um grupo de 5% a 10% de atletas que demonstraram consistentemente em suas carreiras um alto nível de desempenho. Entram aí não somente os craques incontestáveis, mas também jogadores que conseguiram manter durante quase todo o tempo um bom padrão de qualidade. Do outro lado do espectro, podemos contabilizar um percentual semelhante de jogadores que demonstraram de forma contínua a incapacidade de apresentar futebol de alto padrão. Inevitavelmente, eles acabaram jogando em times menores simplesmente porque não conseguiram atingir o nível necessário para trabalhar em um grande clube. Tirando esses dois grupos, temos cerca de 80% a 90% de todos os jogadores de futebol que não SÃO bons nem ruins, mas ESTÃO bons ou ruins. São atletas que, ao longo dos anos, mesclaram momentos de bom ou excelente nível com períodos de futebol abaixo do esperado. A real qualidade desses jogadores depende, em parte, do momento em que eles se encontram.

Pois é com jogadores assim que a maioria das equipes é formada. E no Inter não é diferente. Se a soma de um time bem treinado, com tempo de trabalho e individualidades em bons momentos é a receita para as vitórias, um time sem esquema de jogo com jogadores individualmente em fases tenebrosas talvez tenha sido um dos principais fatores a nos empurrar para o buraco onde estamos hoje. Não acho que o grupo colorado seja tão ruim quanto alguns pensam, mas com certeza precisamos de algumas peças com qualidade incontestável para formarmos time e grupo capazes de nos devolver à primeira divisão.

De qualquer forma, se antigamente os clubes tinham seis meses de campeonatos regionais como preparação para o Brasileiro, hoje a situação não é mais essa. E neste ano, especialmente pelo nosso momento histórico, Zago já chegou com as costas contra a parede. Deveria ele ter encontrado a equipe ideal em menos de dois meses? Talvez fosse possível, mas a realidade nos mostra algo bem distinto. Se ele continua testando diferentes esquemas táticos e alguns jogadores em mais de uma função, inclusive usando atletas em quem não confiamos mais, talvez esse seja o processo necessário para que ele encontre o melhor time possível com o grupo que tem à disposição.

Claro que a falta de vitórias no Gauchão e, principalmente, as apresentações sofríveis que testemunhamos em alguns jogos depõem contra as opções feitas pelo treinador até agora. Mas será que outro teria feito muito melhor, considerando que ele teve como ponto de partida um grupo insuficiente e destruído pela queda? Não sei. Endeusamos os times da Europa pelo que fazem nesse sentido, mas aqui não deixamos os profissionais desenvolverem seu trabalho. Eu continuo acreditando que futebol é continuidade. Pois é a partir dela que um time pode ganhar corpo e os jogadores podem adquirir a confiança necessária para encontrar ou reencontrar seu melhor futebol. Que seja assim com o nosso colorado.

Obs.: por motivos de trabalho não consegui assistir ao jogo ontem, por isso não fiz qualquer comentário sobre a partida ou a atuação do time.

Abraço e dá-lhe Inter.

Leo

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