Fluminense x Inter e o calendário nacional
Depois de toda a adrenalina de superar dois mata-matas (Palmeiras e Nacional), o Inter volta a atenção (volta?!?!) ao Campeonato Brasileiro, em confronto contra o Fluminense no Rio de Janeiro, as 19:00 hs.
O calendário brasileiro é um capítulo a parte.
Para igual atenção (ou ao menos competir com chances de ganhar) às diversas competições simultâneas (Brasileirão, Copa Brasil, Libertadores/Sulamericana) o calendário brasileiro exige basicamente 2 a 3 elencos de igual qualidade, o que é praticamente inviável.
A única equipe que tem 2 (talvez 3 planteis) de igual qualidade, com diversas opções de qualidade para todas as posições é o Palmeiras, alicerçado no patrocínio da Crefisa que é surreal para os padrões nacionais.
Mesmo assim a equipe foi eliminada da Copa do Brasil e o rescaldo nas demais competições já é visível (perdeu a liderança no Brasileirão, algo impensável tempos atrás) e teve muito mais dificuldades na Libertadores do que se imaginava, pavimentando sua classificação apenas após um pênalti inventado e um primeiro tempo muito abaixo.
O próximo elenco que se aproxima em opções é o do Flamengo, que optando por não priorizar esta ou aquela competição vê num curto intervalo de tempo lesões em importantes jogadores do setor ofensivo: Arrascaeta e Everton Ribeiro (que jogaram no sacrifício contra o Emelec), Diego, Vitinho, Gabriel Barbosa além do já “recuperado” Bruno Henrique. A estas lesões se somaram Rodrigo Caio e Lincoln; enfim, quase um time cheio.
Não priorizar esta ou aquela competição (um dos cernes do debate) trouxe severas consequências ao clube carioca, fruto em parte de uma boa maré de azar pelo fato das lesões serem em jogadores de praticamente mesma função/setor, além de ocorrer em importantes titulares. O resultado imediato foi a eliminação na Copa do Brasil e uma quase eliminação precoce contra o fraco Emelec, esta não concretizada também em boa parte fruto de uma outra penalidade inventada, que abriu o caminho para a reversão do placar adverso.
À exceção das duas equipes anteriores, todas as demais equipes envolvidas em mais de uma competição sofrem a síndrome do cobertor curto. Vejamos:
- O Cruzeiro faz um Brasileirão terrível e tem chance de ingressar na zona de rebaixamento, fruto de em muitas rodadas ter jogado com reservas ou não estar focado de corpo e alma na competição de pontos corridos.
- Grêmio assim como Inter relegou o Brasileirão em detrimento das competições eliminatórias. Embora o 2º encontre-se em relativamente boas condições na tabela, ambos estão aquém de suas potencialidades na tabela, sendo que o 1º frequentou por algum tempo a zona de rebaixamento. No caso colorado, se os jogos contra Chapecoense e Athlético-PR fora e Grêmio em casa tivessem sido jogados com equipes titulares, talvez a equipe tivesse somado de 4 a 8 pontos mais, o que a colocaria muito próxima ao topo.
- Santos e São Paulo estão na posição “privilegiada” de não dividirem esforços, o que em certa parte explica a posição que ocupam no Brasileirão. Entretanto, principalmente no caso do SP provavelmente terão um ano de déficit acentuado dado o alto investimento e pouca receita fruto de eliminações precoces nas competições eliminatórias.
- Athlético-PR é a equipe que adotou a mesma postura do Flamengo de não priorizar,mas sem o efeito nefasto de múltiplas lesões, embora talvez tenha o elenco menos farto entre todas as citadas até então. É interessante ponderar o apetite de tentar vencer tudo, já que vai bem no Brasileiro (embora com chances reduzidas de título), mas a primeira consequência já foi vista dessa divisão de foco: uma equipe sem intensidade e que foi presa fácil para o Boca na libertadores (não teve uma chance clara de gol na 2ª partida).
Enfim, exemplos não faltam. O calendário nacional é predatório, e muito em fruto de estaduais que pouco tem relevância para os clubes de maior ambição e que ocupam datas preciosas no 1º semestre, causando uma sobreposição absurda de jogos decisivos em curto espaço de tempo.
Simplesmente não há dentro do contexto BR capacidade de investimento (com algumas ressalvas) para brigar por todas as competições em igualdade, e infelizmente, dada a cultura local, o único bom planejamento é aquele que no fim termina com taça no armário.
Ou muda o calendário ou muda-se a mentalidade, porque no atual contexto, infelizmente, é praticamente impossível não haver preservações de titulares ou ainda priorização de competições.
É neste contexto que o Inter volta(?!) o foco a competição de pontos corridos: com reservas, quase de maneira protocolar, sob risco de perder importantes jogadores lesionados caso contrário mas sobretudo com aquele gosto amargo de que, escalando tantas vezes reservas, a competição de fato está sendo abandonada, mas que talvez seja um mal necessário.
D´alessandro é cogitado para começar o jogo (suspenso contra o Cruzeiro) e talvez os seguintes titulares reforcem a equipe alternativa: Lomba, Bruno e talvez algum meio-campista.
É possível o Inter vencer o Flu com os reservas, fora de casa? É sim, embora dado o contexto (foco e histórico) eu não ficaria muito esperançoso.
O jogo além de dar ritmo a suplentes que podem vir a ser importantes nesta maratona de jogos que se segue, pode ser um importante teste para o substituto de Rodrigo Lindoso.
Falando sobre o discreto jogador, que chegou sem alarde e sem pompa, é importante valorizar o trabalho sujo “silencioso” que faz, mas de vital importância para o time.
Vendo o jogo contra o Palmeiras e o Nacional fica muito claro que com a bola o time joga num 4-1-4-1, e este “1” realizado por Lindoso é o grande fiador do esquema tático, responsável pela mecânica de jogo que faz a transição da linha defensiva para a ofensiva. O acréscimo de Lindoso em relação a Dourado em boa parte é pela verticalidade mas também pela excelente leitura tática, embora de menor imposição física! Se a lesão se confirmar, será um desfalque mais sério que aparenta, ainda mais considerando que o substituto “natural” seria Rithely.
Outro ponto que garante a fluidez do 4-1-4-1 é a saída de bola qualificada de Cuesta, e porque não, de Moledo! Quando time faz de maneira qualificada a transição pras 2 últimas linhas sempre ataca com perigo! Eis aqui uma possível armadilha, entretanto…
Em alguns momentos do jogo contra o Nacional (assim como qualquer adversário que vê os jogos do Inter deve fazer), a equipe uruguaia adiantou as linhas e pressionou a saída de bola; o Inter se viu obrigado a dar chutões e brigar pela 2ª bola, onde Guerrero teve papel fundamental como desafogo.
Contra um adversário mais técnico (e veloz) perder a 2ª bola (esta do chutão) pode ser fatal; é fundamental que Patrick e Edenilson se isso acontecer recuem para auxiliar na saída de bola, sob pena de o time ficar “encaixotado” (o grande problema do 4-1-4-1).
Por fim, se a lesão de Lindoso se confirmar creio que haveria um prejuízo irreparável se Dourado não estiver recuperado. Neste sentido, para não perder a intensidade, meu substituto seria Nonato, seja na posição, ou ainda recuando Edenilson/Patrick.
Este jogo contra o Fluminense é um bom teste seja para a alternativa acima ou ainda confirmar a inaptidão de Rithely para a suplência (embora ao meu ver isto já esteja mais que provado)
Uma vitória hoje, manteria vivo o sonho do Brasileirão, que dado o contexto, parece estar no fim da fila de prioridades (de maneira justificada até).
Um empate não seria um resultado trágico, mas quem sabe a equipe surpreenda e confirme esta fase quase surreal e que faz jus ao tamanho do Sport Club Internacional