0
(0)

Observando atentamente o jogo dos hermanos contra a Nigéria, onde o resultado foi a classificação sul-americana na bacia das almas, em um contexto de jogo em que inúmeras vezes pareceu pender pro lado africano, é visível que só talento não é nada se não houver um mínimo de organização e uma ideia de jogo coletivo que transcenda as individualidades.

Apesar da boa atuação de Messi, e de bons nomes no plantel (Di Maria, Dybala, Higuain, Pavón, etc…) ou fora dele (Icardi, Tévez…), simplesmente a geração argentina que em sua maioria esta em seu ultimo ciclo não convence, e provavelmente vai se despedir sem nenhuma grande conquista.

Se pegarmos no craque argentino para aprofundar a análise, é de se indagar porque o rendimento não é nem próximo em magia e eficiência quando que comparado com o desempenho vestindo a camisa blaugrana.

Alguns podem, com razão, argumentar que na equipe catalã a parceria é imensamente mais qualificada: Suárez, Iniesta, Busquets, Rakitic… Outros podem argumentar que a base dorsal da equipe se mantém por anos, que no Barcelona ele desempenha um papel tático diferente, e assim por diante.

Talvez o resultado seja a soma destes vários fatores, para além de questões que transcendem as quatro linhas e o aspecto técnico: ambiente, cultura, pressão, responsabilidades, etc.

A certeza é que Sampaoli fez um trabalho notável na seleção chilena, mas já na Argentina parece perdido, com a equipa se assemelhando a um grupo de amigos que se junta apenas no fim de semana, monta o time na hora e vai pro jogo… Isto o torna um mau treinador? Será refém de um modelo de jogo único, que não conseguiu implantar nos bicampeões mundiais?

Penso que um bom treinador fundamentalmente é aquele que, com base no seu material humano disponível, estabeleça um modelo de jogo e padrão tático com base nas características de seus jogadores, e não o contrário… Eis ai uma armadilha recorrente em treinadores bem sucedidos com trabalhos marcantes em determinadas equipes, que tentam reproduzir estilos de jogo em planteis que não dotam das características necessárias, naufragando sem conseguir repetir os resultados anteriores.

A pressão por resultados é outro fator preponderante, que muitas vezes afastam os treinadores de suas ideias e concepções, e geralmente vem seguidas de demissões.

Cabe ao treinador potencializar as fortalezas de sua equipe, mitigar as deficiências e colocar a qualidade individual em prol do coletivo. Em equipes de forte jogo coletivo, até mesmo jogadores mais limitados tornam-se úteis e acabam por desempenhar papeis relevantes… O Inter de 2016, que foi campeão do mundo, tinha jogadores de pouco brilho ao longo de sua carreira, tais como Hidalgo, Wellington Monteiro, Michel, Mossoró, Edinho, e assim por diante.

Bons nomes treinaram a seleção argentina recentemente: Bielsa, Tata Martino, Sabella… Mas nenhum deles conseguiu uma coesão tática e uma ideia de jogo que permitiu Messi brilhar.

O contraponto colorado é o rodízio quase imoral e indecente de treinadores nas bandas do Beira-Rio nestes últimos anos:

O apanhado acima demonstra claramente a falta de convicção em uma ideia de futebol: ora trocava-se o técnico consagrado pela aposta, depois pelo emergente, depois pela solução caseira, depois pela aposta, e assim em ciclos, mas sobretudo com propostas de futebol muitas vezes completamente antagônicas.

Na seleção argentina, no Real Madrid ou no Inter, a ideia de futebol deve transcender as individualidades, para que estas últimas possam brilhar em prol da equipe.

É necessário convicção para sobreviver a maus resultados, e fundamentalmente ter continuidade: a profissionalização de um departamento de futebol não pode estar refém de um treinador, e sim o contrário, o treinador estar alinhado as diretrizes que vêm de cima pra baixo.

Rapidinhas da copa:

  • Provavelmente teremos Brasil x Alemanha já nas oitavas, e com o confronto de Argentina x França já definido, teremos dois dos supostamente favoritos eliminados antes das quartas-de-final
  • O Brasil coletivamente tem menos gols que Kane, Lukaku e Cristiano Ronaldo individualmente… Ou o ataque começa a funcionar, ou a seleção canarinho terá vida curta…
  • A Bélgica, dos jogos que assisti, foi a que apresentou o futebol mais leve e próximo a convencer, embora ainda padeça de um teste mais forte (a ver contra a Inglaterra)
  • A dificuldade das equipes favoritas em se impôr contra equipes inferiores tem sido a tônica deste mundial.

How useful was this post?

Click on a star to rate it!

As you found this post useful...

Follow us on social media!