A Copa (ou O Declínio do Futebol Brasileiro)
O título não se refere ao futebol jogado no Brasil. Não vou chover no molhado. Quem tem o privilégio de assistir o futebol jogado na Europa [consigo ouvir o Louis gritando “E USA TAMBÉM!!!”] sabe que o que se joga no Brasil já passou a ser outro esporte há muito tempo.
Me refiro a seleção brasileira, e o que virá a formar as próximas seleções enviadas para as próximas copas do mundo.
Minha expectativa só decai em relação a seleção. Acho que para ganhar o próximo título vamos ter que esperar bem mais do que já tivemos que esperar como foi de 70 a 94.
Na próxima copa já farão 20 anos da última conquista, e tudo indica que seremos coadjuvantes com grife novamente.
Nossa seleção nas últimas duas copas não passou de um time com alguns jogadores bons, que jogam melhor em seus clubes (na Europa), e um jogador que é algumas vezes melhor do que os companheiros. Reparem bem na linguagem usada. Não disse craque, não disse fora de série, apenas disse que de todos, é o melhor por uma certa distância.
Seu perfil, personalidade, e tudo mais que forma sua pessoa o prejudicam muito mais do que o talento que tem. Se tivesse uma cabeça melhor, poderia tentar chegar perto de craques de verdade. Mas duvido que mude. The bar is set too low these days (Expressões em Inglês BV #748 – algo como não precisa fazer muito mais do que já faz hoje em dia).
Minha expectativa é que o Brasil não vai passar disso pelas próximas copas (décadas?). Foi-se o tempo em que fardavam 5 camisas 10 pela seleção (Rivelino, Tostão, Gérson, Jarizinho e Pelé), ou mesmo um ataque com Romário e Bebeto; Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo, ou mesmo Ronaldo, Ronaldinho, Adriano e Kaká, que não deu em nada, mas poderia se a gandaia não tivesse reinado!
Talvez 2002-06 tenha sido a última geração rica em talento que o Brasil formou. De lá prá cá, não passa disso que temos aí. Um Neymar, e mais um apanhado de OKs, que não conseguem formar um time sólido e competitivo ao menos. Na boa, time que não ganha da Suíça, não goleia Costa Rica e Sérvia, não tem condições de competir por uma copa. Obrigado Bélgica por nos poupar da quarta eliminação seguida para a França!
Mas eu disse que não ia chover no molhado, então aqui vai: por que eu acho isso? A teoria é uma constatação particular, mas que tenho certeza que outros já terão pensado nisso, senão já feito público em crônicas, pesquisas ou debates.
O grande formador do talento brasileiro no futebol foi A Rua. Não interessa onde. Da favela ao petrópolis, da areia da praia ao quintal gramado, o que sempre fez com que o Brasil pudesse fazer “3 seleções ao mesmo tempo prá ganhar qualquer copa”, foi a enorme quantidade de talento que se criava em qualquer calçada, qualquer terreno baldio de qualquer cidade de um país de mais de 100 milhões de habitantes.
Em qualquer lugar do país, em praticamente qualquer horário, tu ia ver uma gurizadinha jogando bola. Isso foi assim até boa parte dos anos 80. Eu sei porque eu me criei assim, jogando bola na calçada, tirando tampão do dedo, quebrando a perna.
Hoje em dia, onde é que isso acontece? No condomínio fechado, talvez, com uniforme, horário marcado… Mas pega o carro e dá uma banda pela cidade, pelos parques, pelos terrenos baldios. Tu nem ve mais aquelas goleiras que ainda resistiram ao tempo sem servir um propósito. Tu não ve mais a terra batida onde um dia teve grama (a grama voltou a tomar conta), tu simplesmente não ve mais gurizadinha jogando bola na rua! Dali que saíam Ronaldos, Romários, Garrinchas e Pelés ou qualquer outro nome que serviu o país nas copas até, no máximo, 2006. Depois disso, a fonte secou.
Não existe mais segurança, tranquilidade, ou mesmo a oportunidade da gurizada de passar horas batendo bola. Ou é muito perigoso ir prá calçada (que aliás, tá toda cheia de grade), ou o parque não exite mais, tiraram as goleiras, ou também é perigoso. Nem nas zonas mais pobres isso acontece do mesmo jeito. Gurizadinha ou tem que trabalhar duro prá ajudar, ou já se perdeu em caminhos sem volta. Futebol? Não dá mais tempo.
Diria que isso começou dos anos 90 prá cá. Muitos outros fatores político-sócio-economicos-_____ também contribuem (isso daria um livro), mas a cada ano fica mais evidente.
E não vai mudar. Enquanto a gurizadinha não puder voltar prá rua, a quantidade de talento a alcançar o nível de uma seleção em copa vai ser tão pouca, que não vamos ter condições de competir com Suécia, Gales ou Eslovênia.
E prá não dizer que não falei em Inter, fica um abraço a RBS que tá se roendo de raiva da grana que o Inter vai levar na venda do Alysson que chegou a fazer pesquisa prá saber se os gremistas sua audiência concordava com o valor de sua venda.
Boa semana!
ps. Para os 13 guerreiros que agentaram o app bugado da FIFA pro bolão da copa do BV, aqui vai o resultado final!