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Minha Senhora, a Dona Mari, sempre teve uma queda de “fanzoca” pelo ator/cantor Fábio Jr. Ao ponto de achar que ele detinha pinta de galã mesmo fazendo o taxista Antônio Alves, numa novela deveras decadente no SBT. Isso lá pelos idos dos ano 90, penso eu. Para piorar, bem na mesma época, num período difícil de nossas vidas, teve a pachorra de sugerir que eu virasse taxista. Nada contra à profissão, muito pelo contrário – afinal, tive um tio que fez sua vida e sustentou (e bem!) sua família na valorosa profissão de motorista de carro de Praça; mas, sim, na ideia de que eu fosse para a boleia dum carro apenas para ela espelhar em mim a sua paixonite pelo Fábio Jr.

Logo eu, um índio feioso de frente a fundo. Até mesmo para ser a “alma gêmea” de alguém tem lá os seus limites.

Mesmo não sendo o Luther King, com essa história eu me permiti ter um sonho, com licença poética e adequação ao pretérito, e nele (para alegria da minha Senhora) eu guiava um táxi pelas ruas de Porto Alegre, no Ponto da Rodoviária, afinal, nem poderia ser diferente:

 

“Era uma manhã chuvosa, do ano de 1974. Adentrou no meu Fusca um homem esguio, rosto perfurado como se judiado e de uma vida sofrida. Não falou muito de início, mas não deixei de reparar no tamanho de suas mãos – poxa vida, aquelas mãos eram enormes(!). Pediu uma corrida até o campo do Internacional e lá partimos nós Mauá afora no sentido do Gigante da Beira Rio. E como eu gostava de cruzar por aquele monumento…

Como referi, não falava muito de início e quando desatou, o fez a hablar num portunhol meio safado. Nem castelhano de verdade e nem português. Dava para entender e bem, ao menos. Notou que eu prestava atenção nas marcas dos seus dedos: “de guerra”, disse ele. Cogitei ser combatente dos expedicionários, mas parecia jovem demais pra isso. Só que antes de eu ter que abrir a boca para perguntar, ele se apresentou:

“Me chamo Haílton, mas pode me chamar de Manga”. O resto nem precisou, afinal, o rádio já havia nos apresentado muito tempo antes: Manga era o novo responsável pela meta Colorada.

Apresentei-me como um Colorado fervoroso e, no sonho do sonho, disse-me ele o que esperava enquanto jogador do Internacional: “Vencer. Yo jugué con Garrincha, Nilton Santos, Jairzinho, Paulo Cezar, Gérson. Los mejores. En Inter tenho certeza que jugarei também com os melhores. Fiz história por onde passei e farei história por aqui também!”

Era um homem decidido, obviamente. Enquanto ele falava e eu sonhava acordado, imaginei um título nacional no ano seguinte, vencendo o Cruzeiro de Nelinho num dezembro de Gigante lotado, com o Manga defendendo com a ponta dos seus dedos quebrados uma falta cobrada por tal, isso nos instantes depois de um gol de cabeça de Elias Figueroa cumprimentando Raul e fazendo explodir um mar vermelho no Beira Rio.

Era uma daqueles sonhos que ninguém quer mesmo acordar. Inter Campeão Brasileiro de 75.

Mesmo assim despertei do sonhar acordado em meio ao sonho, porque o Gigante estava imponente diante do meu táxi e eu chegava em casa para deixar o nosso novo goleiro naquela que seria a sua pelos anos seguintes. Desembarcou e agradeceu. Desejei-lhe sorte e sucesso com a camisa Colorada. E o resto é história…”.

E que história esplendorosa!

O goleiro Manga não virou Manguita Fenômeno por acaso. Era um fenômeno, de fato, e foi, para quem não o conheceu, simplesmente o maior goleiro a vestir o manto sagrado do Sport Club Internacional.

Faleceu no dia 8, anteontem, logo após um Inter vs. Cruzeiro, no Gigante da Beira Rio, o senhor Haílton Corrêa de Arruda, aos 87 anos.

Uma lenda.

O Manga, todavia, o nosso Manguita Fenômeno, esse não morrerá jamais.

Gracias por todo, Manguita.

Por tudo!

 

CURTAS          

– Professor Roger teve uma tarde inspirada no último domingo, e muita competência do início ao fim da partida. Quem venham outros tantos jogos como este pela frente;

– Entra Borré e sai Enner Valencia. Valencia marca gol e Borre entra no seu lugar e faz gol também. Se este também for um sonho, não me acordem;

– Gostei da primeira amostragem do Oscar Romero. Quanto ao Diego, tímido ainda;

– Ainda ressinto que falte um jogador mais afirmado para substituir Fernando, contudo, reconheço que Ronaldo tem sido uma boa surpresa;

– Dificilmente virá um novo lateral direito. Então, é torcer para que Nathan e suas tranças, acaso seja preciso, joguem o que ainda não jogaram por aqui;

– Hoje a noite enfrentaremos um time chato e murrinha. Paciência é fundamental e vencer é primordial;

– Depois dos resultados de ontem, vencer é ainda mais primordial;

– Que Haílton Corrêa Arruda, o Manga, descanse em paz;

– Sport Club Internacional é talhado à Libertadores e o Gigante da Beira Rio, também. Seguimos por la Copa!

 

PERGUNTINHA

Todos os caminhos nos levam ao Beira Rio?

 

Manga chegou aqui querendo vencer. E vencer ainda é o melhor caminho à glória.

PACHECO

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