POLITICAGEM
Não conquistei tudo o que quis na vida e acho que até mais perdi do que ganhei, mas de todas as experiências que já encarei guardei alguma história para contar. Umas felizes, outras tristes e a maioria delas curiosas. Conheci muitas pessoas também, a maioria de bem; também alguns veiacos cuja cara não valia um vintém. Todavia nada se compara às lições que absorvi nas campanhas políticas em que trabalhei. Para além dos comícios (saudade de um bom comício), as entranhas dos diretórios e comitês mostraram para mim o pior e o melhor da vida e das pessoas.
O longínquo ano de 1992 eu guardo com carinho em minha memória, a uma que marcou pelo único título que temos na Copa do Brasil e eu ainda recordo do petardo que Célio Silva deu para estufar as redes e garantir a taça, como também pelas eleições municipais que houveram dois meses antes, a mais ferrenha em quer atuei. Morava no interior e política naquele tempo tinha “outro sabor”, povo dividido no meio. Embora sob égide da democracia, felizmente, aquele ranço de Arena x MDB permanecia, a pluralidade de Partidos embora já existisse não detinha o aspecto pornográfico como hoje em dia.
Era nós contra eles.
E nessa, com parte dos votos na cidade e muitos deles no interior do município, a briga era para romper um ciclo interminável de anos em que para administrar a prefeitura tinha de fazer parte do mesmo grupelho. Contra nós a máquina pública, um grande candidato a prefeito do lado de lá e o candidato a vice da chapa contrária, campeão de votos na área rural. Numa cidade com vocação rural. Trabalhamos arduamente, com paixão, com vocação, com vontade, com esperança e ao se encerrar a contagem das urnas, dias depois (sim, meu povo, era urna de couro e voto de papel, com contagem manual. Voto a voto), vencemos com uma diferença não maior do que 70 votos. Histórico.
Histórico, aliás, a atual gestão faz questão de seguir à risca. Dois treinadores por ano, ora propositivo e logo na sequencia reativo; uma troca de vice de futebol por temporada, o que representa um nada por coisa alguma; Presidente que acha que é “o cara” e entende tudo de futebol e, quando vê que a sua maionese desandou recorre a algum nome para se blindar e blindar sua gestão (e ganhar pontos com a imprensa). Fez isso duas vezes através do treinador (Aguirre e MM), com Magrão e agora com o retorno de Andrés D’Alessandro ao Clube, mais uma vez, só que como dirigente.
Ainda não tive muito tempo para pensar se gosto ou desgosto desta ideia. Contudo, pior do que está não deve ficar. Se o argentino conseguir trazer paz ao vestiário, foco aos jogadores e um pouco de sorte ao treinador que nunca ganhou nada a rigor, já acabaremos o campeonato com um mínimo de dignidade ao menos. Torcerei por seu sucesso como sempre o fiz enquanto envergou o manto Colorado.
Não se vence uma eleição por meros de 70 votos de diferença sem que até mesmo o lado vencedor saia bastante lanhado. E a rivalidade só aumente. Certo? Pois parece que não. Afastado, mas ainda turista sempre que possível da cidade, vi que é pelo menos o terceiro pleito que adversários históricos – estranho para dizer o mínimo, estão no mesmo palanque. Vencendo e governando sob o mesmo propósito: o poder.
Ao colocar D’Alessandro no Departamento de Futebol e cogitar, ao menos, Abel Braga (e provavelmente ao contratar Roger Machado), Alessandro Barcellos se torna o presidente que venceu as eleições, porém, em verdade não levou: curvou-se ao propósito da chapa adversária e está fazendo o que lhe garantiu o voto de tantos e tantos justamente por dizer que não faria.
Mas como claramente sou o velho e retrógrado e o Internacional não é uma prefeitura, fico a sonhar que é tudo por amor ao Clube e nada pelo poder. E que já na próxima partida veremos um time entrar em campo e trabalhar arduamente, com paixão, com vocação, com vontade, com esperança. Com gana e com brio. Pelas vitórias.
No fundo, parece que não era pelo Inter ou por nós Colorados.
Logo, politicagem. Apenas e tão somente.
CURTAS
– Roger Machado teve já bastante tempo para treinar enquanto o seu time em campo não entrega coisa alguma;
– Voltam Borré e Alan Patrick. E o futebol deles, espera-se que também;
– Não faltaram barrigadas e má fé nas últimas semanas usando da boa índole (sim!) do Sport Club Internacional. O que faltou foi uma necessária manifestação dos comandantes em defesa do Clube;
– Antes tarde do que mais tarde, reconheço que não teria contratado o atual treinador. Mas já que veio, agora estamos do mesmo lado neste momento que é o lado do Inter;
– Não interessa o gosto pessoal de cada um de nós, temos de nos defender ou ninguém o fará;
– O Inter precisa de ti, domingo, Colorado. Saudades do mar vermelho do Beira Rio!
PERGUNTINHA
Que tal brigarmos por nós mesmos e todos juntos, Povo Colorado?
Que D’Alessandro nos traga bons motivos para voltar a sonhar.
PACHECO