FAZER O SIMPLES
A última negociata sem sentido que fiz envolvendo automóvel foi a compra de um Renault Clio, coisa de uns 10 anos atrás. Ou pouco mais. Encasquetei na época que o carro anterior estava me consumindo muitos recurso, parcelas muito altas a serem pagas, e fiz um brique de deixar qualquer louco com inveja. Pareceu bom, no começo, afinal, troquei uma parcela por parcela nenhuma e o Cliozinho era carro de mulher: branquinho, bonitinho, roda de liga leve, 1.6, bem cuidadinho, lanternas fumê e completinho. Parecia um “negocião” e logo se mostrou um “negocinho”.
Logo eu que já tivera tanto carro nesta vida me meter num negócio daqueles…
Em resumo, em poucos meses que eu fui o proprietário de um carro francês, aconteceu de tudo: radiador de alumínio que deu perda total, superaquecimento do carro, selo do motor que foi para as cucuias, bobina e compressor do ar condicionado que também se entregaram, motor que apagava “do nada” porque tinha uma peneirinha de 5 pila suja dentro do tanque de combustível e por aí vai. A treva. O vendedor meu conhecido e sempre com medo de mim não me comprou de volta, mas intermediou a venda meses depois, como já dito. Vendi pelo que paguei, mas não fugi do prejuízo dos tantos consertos que tive que fazer naquele curto espaço de tempo.
Na dúvida, peguei o dinheiro e dei de entrada num Celta zero km. Vermelho colorado. Foi a melhor decisão que tive. As vezes o difícil é fazer o simples e admitir que dar um passo atrás e ser um tanto quanto conservador nas escolhas da vida é o melhor caminho a ser tomado. Fiz o simples e não errei.
Não sei o que aconteceu realmente de março para cá, mas a queda de Eduardo Coudet do comando técnico do Sport Club Internacional já se mostrava, de algum tempo, o simples adágio popular da “crônica da tragédia anunciada”. Lamento, todavia, que tenha de ter sido com requintes de crueldade, após mais um fiasco na nossa casa e diante do nosso sofrido torcedor. Nas mãos dos que aí estão e ainda um pouco dantes, reconheço, nossa casa imponente vem sucumbindo a qualquer adversário, muito fruto da falta de comprometimento e hombridade daqueles que são os atores principais do time e da diretoria.
Como já havia alertado outrora, por aqui, aquele treinador sanguíneo e intenso que tivemos aqui lá no longínquo ano de 2020, e que deixou muitos fãs apesar de não ter sequer ganho um clássico e ter nos deixado pela porta dos fundos, já não existia mais. Em seu lugar, um hermano apático e sucumbente às suas reiteradas más escolhas, ora na escalação inicial e, principalmente, quando precisava mexer no time. As ações permissivas de Chacho Coudet além de negarem a sua própria razão de ser e estar no futebol até então, estavam indo contra as características da sua própria identidade castelhana, de raça, brio e irresignação.
Algo aconteceu no meio do caminho, ou mesmo antes, que passou a não cheirar bem, reverberando para dentro dum vestiário que, nunca domado efetivamente, começou a preparar a cama para, uma vez mais, decidir que os rumos a serem tomados dependem muito mais da boa vontade dos nossos “heróis” do que de hierarquia ou respeito à instituição. Não começou ontem a ser assim, nem vai acabar tão cedo. Resta-nos, pois, remar à favor da maré e torcer para que o homem lá de cima queira nos conduzir até uma praia; e que seja daquelas paradisíacas.
Depois do desgaste da aventura com um carro francês, restou-me um ou dois passos atrás e a convicção de que ‘fazer o simples’ era o necessário naquele momento para estancar a sangria. Sem erro.
O Internacional precisa estancar a sangria e, por isso, fosse minha a caneta, na escolha do novo treinador faria o simples. Nada além do que isso.
E sem erro.
CURTAS
– Eduardo Coudet parece ter contribuído com a própria queda quando abandonou, quase que inexplicavelmente, suas próprias convicções;
– Quando um jogador vai mal o problema é o peão. Quando muitos, o jockey. Contudo, não há como deixar de apontar que alguns ali largaram e faz tempo;
– De bom, no jogo de ontem (se dá para apontar algo assim), foi o Anthoni que, convenhamos, é um dos poucos que sabe o tamanho da camisa que veste;
– O ano do Colorado, aparentemente, terminou em julho e agora é só mais uma luta ingrata pela sobrevivência. Talvez, alguma nova ilusão;
– A queda exclusiva de Coudet mascara a necessidade de fazer um limpa no incompetente departamento de futebol;
– O ano de 2009 pode nos dar um exemplo do que é simplicidade e se resume na imagem deste texto de hoje;
– Alessandro Barcellos é para mim uma grandiosíssima decepção. Eu que acreditei no seu discurso e nutri a esperança de um novo tempo, enfim, para o Internacional, agora vejo que o cidadão parece que sequer consegue saber em qual buraco se meteu;
– E no qual está metendo o Internacional!
PERGUNTINHA
O que fizeram com o Internacional?
Que o homem lá de cima tenha um pouco de piedade de nós.
PACHECO