4.9
(51)

Das coisas boas que tinham naquele vilarejo que se criou no entorno da praça da Igreja lá no meu rincão, o que hoje sobrou é o que ainda consigo conservar na minha mente. A verdade é que foi definhando com o tempo, após a minha saída (não por causa dela) e logo virou quase que terra de ninguém. Duas dúzias de casas com suas histórias bucólicas para contar. Hoje o que mais cresce é o cemitério, não à toa o principal “ponto turístico” do lugar.

Na segunda geração do povo do meu fundão apareceu por lá o Jorjão do Boteco. Uma figura ímpar já que era petiço – posto que até hoje desconheço a razão da alcunha no aumentativo – e que detinha um bigode daqueles de fundamento. Aquilo nascia no cabelo, ganhava sua cara miúda e contornava o lábio de tal forma que não tinha camargo (se não sabe o que é descubra) que não se aninhasse naquelas melenas debaixo do nariz. Assim como tinha uma canha (se não sabe o que é descubra) envelhecida que ele vendia no seu boteco (boteco de verdade: só vendia bebida com alto teor alcóolico e ovo curtido naquela solução verde incomparável) e não contava da origem para ninguém. Já morreu e levou consigo a fonte da iguaria…

Saudade de meter um liso daqueles para espantar os dias de calor!

Pois já mais velho e com o seu comércio em decadência, afinal a terceira geração abandonou de vez aquele lugar, acabei ficando mais próximo do Jorjão, que se deleitava quando eu aparecia para ver minha gente, a saber das novidades. Principalmente do Colorado. Acho que esqueci de comentar que o seu Boteco era tapado de quadro dos grandes times do Internacional, tinha bandeira hasteada e rival até podia entrar, mas nunca vestindo os trapos azuis deles.

Tal qual o bigode, seu coloradismo era de fundamento!

Sentado eu dias atrás nas cadeiras do novo Beira Rio e prestando atenção no perfil da torcida que hoje frequenta as dependências do nosso Gigante, penso que um colorado ao estilo do meu amigo Jorjão eu não vou ver mais por lá. A verdade é que a coisa é mais de elite, e aquele povo que se esconde nas campanhas por aí já não se sente mais como que  ’em casa’. Nos faz muita falta a velha Coréia: Jorjão sempre disse que se um dia tivesse a chance de pisar no Beira Rio, era lá que ele estaria, pois em pé todos veriam melhor da sua faceirice na torcida. Penso que morreu e não conheceu, infelizmente.

Lembrei duma história que Jorjão me contou: certa feita tinha um baile no salão paroquial da Igreja, coisa de quadra e meia do Boteco. Jorjão e dona Ofélia (a melhor quituteira que conheci) moravam nos fundos, mas não eram dados à vida social.  Só que o fandango pegou preço e o som foi ficando alto. Aliado a isso, a música parecia que tava agradando o povo. Jorjão deu duas ou três voltas na cama e o sono não vinha de jeito nenhum; na quarta levantou, vestiu as bombachas e calçou as botas e disse para Dona Ofélia se arrumar que iriam para o baile. Amanheceram no fandango.

É claro que só pensamos em Libertadores. A nossa chance está aí, batendo à porta. Só que enquanto isso o baile do campeonato brasileiro segue acontecendo, com o Internacional se revirando na cama sem conseguir dormir. Ou seja, não nos resta outra alternativa: tem que levantar, se vestir e ir dançar no baile.

E depois de que estiver garantido na dança e pronto pro próximo fandango no mesmo lugar, bom, aí sim poderemos pensar somente na loira aquela.

Levantar e ir bailar. E ganhar.

 

CURTAS                                                                              

– Meio perdido no brasileiro, Eduardo Coudet que trate logo de se achar. Não estou preocupado, mas já ando revirando na cama, igualmente, com o sono custando a vir;

– Tem que ganhar o próximo jogo de qualquer jeito;

– Já deu tempo para o Chacho colocar um samba no pé;

– Time bom é fonte inesgotável de jogadores para seleção. Mas que momentinho sem vergonha pra isso…;

– Trouxemos o Dalbert, lateral esquerdo. Ao menos andam me lendo por aqui;

– Problema é que não conheço o rapaz. Só sei que está há 16 meses sem jogar.

– Se bem que não jogo futebol há 16 anos e com dois treinos naquela gritaria toda já devo estar em forma;

– Cento e vinte mil sócios e contando…;

– Não vou falar da politicagem que já tá nos tomando conta. Por estas até dá vontade de votar no atual Presidente… O problema dele é que demorou demais para mexer em algumas coisas, principalmente no time. Mas fez, também é verdade.

 

PERGUNTINHA

Coudet será que dança tango?

 

Torcedor Colorado: vamos lotar o Gigante e fazer esse time voltar a bailar no brasileiro!

*Registro aqui minha solidariedade ao povo de Muçum, Roca Sales, Encantado, Lajeado e demais que ora padecem. O Rio Grande não vai abandonar os seus. Meu profundo sentimento aos familiares das vítimas*

PACHECO

How useful was this post?

Click on a star to rate it!

As you found this post useful...

Follow us on social media!