CORPO DE CRISTO
No meu tempo de guri o sonho da senhora minha mãe era me ver como coroinha nas missas do Padre Gentil, que uma vez por mês cruzava naquele fundo de campo para levar um pouco da palavra da salvação para o povo pagão. Sua ânsia em me ver com uma túnica daquelas parece que se aflorou ainda mais depois que a simples capela deu lugar a uma igreja imponente (pra aquele rincão era), fruto de doações de todo o povo. A igreja, aliás, está lá até hoje. Segue simples, mas muito bonita. Não é qualquer uma no interior do interior que tem vitrais como aqueles.
Problema é que eu não tinha vocação pra coisa. Infelizmente envelheci tendo minhas divergências com o homem lá de cima, gozo da minha própria fé e nos entendemos assim, por vezes muito bem e outras nem tanto, mas nos entendemos e é o que importa. Só que religioso de manual eu nunca fui, essa é a verdade. E ainda jovem, com uma mente fervilhando por novidades e movimento, ser coroinha não estava nos meus planos, mesmo que para agradar a senhora minha mãe.
E o Padre Gentil, uma boa alma desmistificada dos rigores da igreja de então, sabia que meu mundo era outro e nunca cativou do sonho da sua beata mais fervorosa. Ou seja, cresci sem ter tido a honra de ser coroinha, para desalento da mãe. Meu caminho foi outro. E o horizonte também.
Um time para ser campeão tem de ter uma fé elevada, não só no sentido abstrato, mas principalmente, no concreto. Fé que é possível, que uma vitória pode ser buscada até o último minuto ou ser garantida até os últimos segundos da partida; que é sempre possível “mais um pouquinho” nas palavras eternas do eterno Fernandão. Desta fé, convenhamos, o time do Internacional não padece. Tampouco mostrou que será capaz de alcançar elevado grau de espírito a ponto de fazer as pazes com Deus a tempo de ser agraciado com a glória de algum título. Seu caminho parece outro. E o horizonte também.
Evoluímos taticamente, talvez. Vou por, assim, no condicional, uma vez que da minha boa dose de humor negro na semana passada muitos não entenderam. Talvez (novamente), tenha sido o jogo mais sólido do Internacional fora de casa (quiçá do ano), o que de nada adianta quando, ali no apagar das luzes, o time mais uma vez sucumbiu à ausência de fé em si próprio e entregou a rapadura, deixou a vitória escorrer pelas mãos. Talvez seja um otimismo exagerado, minha fé mesmo em querer ver algo positivo no time, que sim repetiu muitas das suas deficiências da temporada, ainda.
Apesar de a frente para aquele tempo, meio que contrário aos posicionamentos radicais da igreja na época, Padre Gentil – todavia, não abria exceção nunca quando se tratava da comunhão. Não recebia o Corpo de Cristo quem não se confessasse com certa regularidade ou quem visivelmente não respeitasse aos mandamentos da Santa Igreja. Naquele tempo quem jogava para perder ou no máximo se contentasse com empate – na vida, não ganhava a hóstia da absolvição do Vigário do Papa.
Inegável, pois, que vendo o Colorado de hoje jogar, o Padre deixaria Mano Menezes de fora do seu rebanho da salvação. Aliás, certamente o time do Inter não sairia do confessionário do Padre Gentil sem uma pesada penitência. Tampouco, na missa, tão cedo receberia a hóstia consagrada.
Só que sem o Corpo de Cristo este time vai morrer pagão. Time sem ambição é fadado a viver (e morrer) pagão. Pecadores não passarão!
CURTAS
– Treinador deve ter tara pelo pecado de esculhambar o time na segunda etapa. Não há outra explicação;
– Nada contra aos atletas de Cristo, mas Wanderson tem que saber que só de benção não vive um jogador de futebol. Deus castiga os displicentes;
– Três zagueiros e o mesmo número de volantes para tomar um gol de cabeça (mais um) no penúltimo minuto de jogo. Que sina de perdedor, por favor;
– E eu que já elogiei aqui Gabriel Mercado dormi com a língua toda lanhada. Tem bigorna amarrada nas pernas;
– Alemão depois da confissão com o Vigário estaria a esta hora ajoelhado no milho;
– Com a permissão dos amigos do BV estarei ausente na semana seguinte. Terei de fazer uma viagem de velho junto de um bando velho com conversa deprimente de velho. Mas, a mulher decidiu que quer ir e eu obedeço pois tenho juízo;
– Muito menos tolerante que o Padre Gentil era, eu de posse da batina já teria excomungado muita gente no Beira Rio. Sendo o inferno vermelho, aposto que a maioria sequer ia achar ruim;
PERGUNTINHA
O que diria o Vigário, se pudesse, após a confissão do Colorado?
Haja fé Povo do Inter. Haja fé!
PACHECO