CRIANÇA GRANDE
Meu neto estava todo faceiro que a professora falou que no dia das crianças seria feriado. Ele já tem relativa idade para compreender o real significado do feriado e é bem provável que a professora tenha explicado (assim espero ao menos), mas não fui eu o responsável por desdizer seu entendimento naquele momento. Deixa pensar que o feriado é mesmo em alusão ao seu dia. Quem sabe assim será um adulto bem mais feliz que seus próprios pais. Meus filhos são duma geração que não pode conviver com o fracasso, a sociedade assim lhes impõe, de modo que apenas sobrevivem, sendo bem realista.
Lembro-me com ternura do meu período de criança. Não tinha muito tempo para viver a esmo e mesmo brincar, já que a lida de campo batia cedo à porta do galpão, mas ainda assim arrumávamos tempo para uma farra e outra. A infância dos meus filhos já foi mais parecida com o que se vê nos dias atuais. Pero no mucho. Meu guri mais velho era doente por futebol. Aliás, vou ser mais específico: pelo Internacional. Confesso que nem lembro de ter motivado tanto ele assim a ser tão Colorado. Já seu filho, embora Colorado também e freqüentador do Beira Rio, já tem uma visão de futebol bem mais cética. É um torcedor profissional enquanto o pai e o avô são passionais.
Aliás, cada vez mais a tendência atual é fazer dos torcedores do futebol como um todo elementos robotizados. Explico: hoje em dia se torce por conceitos e não mais pela essência da coisa.
Eu, apesar de todas as penas que já enfrentei com o Internacional, ainda sinto o meu coração bater mais forte com cada glória que relembro a ponto de hoje em dia, muitas vezes sob o vaguear do pensamento e da ternura, como se criança voltasse a ser, permitir-me umedecer as vistas com as conquistas do Colorado que insistem em rememorar que esta minha vida de torcedor valeu e segue valendo a pena. E se recordar é viver como diz o ditado, vivo com o Inter a cada novo dia como se fosse o último. Todas as alegrias que passamos juntos nem mesmo a memória claudicante é capaz de deslembrar.
Pois bem.
Eu não era mais criança quando tive o prazer de ver pessoalmente Benitez defender a meta do Internacional. No gol do time de 1979, nunca perdeu. Só não é o maior da nossa história pois tivemos o fenômeno Manga, antes. Ainda assim, fez muita criança grande faceira chorar de felicidade com o seu desempenho e do resto do time em campo. Sofremos juntos quando teve de encerrar a carreira em 1983, numa fatalidade monstruosa num singelo amistoso no Alegrete. Foi muito grave, chegaram a dizer que ficaria tetraplégico, condição esta que felizmente se reverteu. Salvo engano tinha pouco mais de 30 anos naquele tempo e ainda muito por contribuir com o Clube.
O paraguaio fez de Porto Alegre sua residência, se não mudou mora no Menino Deus, relativamente próximo da sua verdadeira casa. Ouvi no rádio que será agraciado com o título de cidadão honorário de Porto Alegre. Poxa, levaram 40 anos para fazer o óbvio…
Aliás, como é tão óbvio que o Sport Club Internacional deveria dar mais atenção aos seus ídolos, prestar homenagens reiteradas, levar estas lendas para dentro do Beira Rio, para os campos em Alvorada, para o meio das crianças que deveriam não somente aprender a torcer pelo Colorado, mas se apaixonar pelo Inter.
E nestes dias, aposto que a emoção não tomaria conta somente do homenageado, mas muito também de crianças coloradas grandes, como eu.
Se mesmo recordar é viver, seriam momentos de vida intensa para quem aquilo tudo já viveu. E jamais haverá de se esquecer.
CURTAS
– Sofremos quando o Internacional não joga durante a semana. Assim como sofremos quando joga também;
– A lesão do Maurício, somada a de Mercado de dias atrás, só mostra que para ser campeão não dá para ‘miseriar’ na formação do grupo de jogadores;
– Pedro Henrique é nosso e não é deles. Daqui não sai e ponto final;
– A renovação do Alemão é mais do que merecida. Assim como a impossibilidade de negaciar um bom negócio mesmo que surja num horizonte próximo;
– Repiso: com o futebol desempenhado pelo Vitão, com o que joga o rapaz, investir agora é lucro fácil logo ali na frente;
– Como disse semana passada, Mosquito metido na fogueira saiu inteiro do calor da chinela do Maracanã. Aí contra o Goiás, em casa, assistiu do banco todo o jogo. Vai entender…;
– Belíssima a atitude da direção em levar os filhos dos funcionários para um passeio no Beira Rio, com direito a contato com Taison e Carlos de Pena. Façam destas com filhos de sócios, crianças de escolas públicas, de projetos sociais, enfim, e teremos um exército de Colorados nas próximas gerações!
PERGUNTINHA
Quem mais é criança colorada grande, como eu?
Permita-se ainda se apaixonar pelo Inter, Gurizada Colorada!
PACHECO