DESÂNIMO
O desânimo não é apenas com o desempenho do time em campo, mas, principalmente, com os altos e baixos do que é apresentado, uma inconstância e incoerência que trazem desalento.
E são vários os fatores.
O primeiro vem de quarta-feira. Não é possível jogar assim depois de jogar como nos grenais. Simplesmente impossível. Não falo de resultados ou até mesmo finalizações. Falo do futebol. Nos grenais, e sobretudo depois do fiasco contra o Globo, o Inter jogou com a bola, tentou passes, infiltrações e até chutes.
Contra os equatorianos, foi bumba-meu-boi o tempo todo. Mendez não fez um passe e até Bustos foi mal, além da inexplicável troca de esquema para os três zagueiros depois de treinos de forma diferente. Mas é só um fator.
Aí contra o Galo (e só assisti ao segundo tempo) começamos diferente, com a também inexplicável ausência de lateral esquerdo, que deixa o time sem absolutamente nada daquele lado, nem ataque, nem defesa. Inexplicável porque entendo pouco a solução de Liziero no grenal, pois acho que Thauan deveria jogar, e entendo menos ainda a ausência de PV no Equador e ontem, principalmente porque Liziero tinha, em princípio, acertado o meio junto com Gabriel.
PV pode não ser o melhor lateral do mundo, mas tem muito menos falhas que outros que seguem tendo chances e jogando sem interrupção.
Outro fator.
E falando de lateral esquerdo, não compreendo a chegada de Renê. Até acho bom lateral, mas no contexto de renovação de Moisés, fica difícil entender, mesmo se considerarmos que Thauan precise de um pouco mais de tempo. Moisés se soma às renovações de Cuesta, Patrick e Lindoso, jogadores que precisavam sair, mas tiveram salários renovados a pouco tempo atrás. E nem falo em Edenílson, o craque do time em todas as derrotas dos últimos anos, que QUASE fez gol, e que não sai do time por nada.
Errar com Wesley é normal, até porque enganou bem nos primeiros jogos, mas insistir, como insistimos com Dourado, Patrick, Cuesta, Lomba, Danilo e uma grande lista, é um erro, até porque, parece, Alemão tenta entregar mais.
Aí temos 4 laterais esquerdos, provavelmente com a vaga assegurada a Moisés, porque os outros não jogam, e um lateral direito reserva que ninguém quer que jogue.
Nossa zaga é composta de emprestados, ainda que com passe fixado, e por Mercado, que deve sair no meio do ano. Mendez é caro e Moledo não joga.
Nosso ataque não faz gols. Maurício, que se movimenta por todos os lados, tem drible e chuta no gol, é substituído em todos os jogos, normalmente cansado de correr pelos companheiros que trotam e fazem uma ou duas jogadas por partida, e Cai Vidal vira solução porque é o único que procura o drible no 1×1 em velocidade.
Não fazer gols não é novidade. Lembro que, desde Tite, com poucos períodos de exceção, e tendo no período do Odair a consolidação dessa forma, o Inter acredita que pode fazer gols sem chutar, como se a bola fosse entrar ao natural; e quem chuta é, normalmente, substituído.
A soma desses fatores ao fato de jogarmos com 3 zagueiros e 3 volantes, de não termos coragem de substituir jogadores que não apresentam nada em campo, esperando que resolvam em uma bola, da tão criticada forma de jogar por uma bola, ao fato de que por mais que tentem mudar, parece que há um poder paralelo (como disse Bracks) que impede qualquer alteração e novidade do futebol em campo, dá um desânimo mesmo.
Os alentos de atuações com posse de bola e jogadas tramadas, de linhas altas e zagueiros mais jovens com velocidade, de laterais que apoiam e chutam e tem uma mínima noção de cruzamento, além de contratações de jogadores que enfrentam os marcadores parece ruir nas oscilações absurdas de comportamento do time, sendo imprevisível como o Inter vai atuar no próximo jogo, seja lá qual for a escalação.
Fatores isolados até poderiam ser equívocos normais de uma administração, mas a soma deles parece um desencontro, como se cada integrante da direção andasse em um sentido diferente, com projetos implementados pela metade ou interrompidos por qualquer elemento, mesmo que seja um grito mais forte de alguém irrelevante.
Já usei esse exemplo antes falando de zagueiros; se vai pra bola e erra, é um erro, se não se sabe se vai ou não, não serve. É o primeiro jogo, perder na estreia é do histórico do Inter, normalizar a derrota não, seja pra quem for, mas não dá pra seguir sem saber se vai ou não, muito menos nessa montanha russa de desempenho.