UMA DERROTA NECESSÁRIA
Gauchão não serve pra nada, exceto para mostrar o que não serve. É um clássico que repetimos todo o ano, mesmo sabendo que a lição nem sempre é assimilada.
Perder no gauchão, para um time do interior, deveria ser uma necessidade na preparação do time, seja com os guris, seja com o time principal ou mistão. E essa derrota caiu bem.
Sim, porque não é admissível perder um jogo, pelo placar de 3×1, construído até os 15 minutos do segundo tempo, para um time do tamanho do Ypiranga (sem nenhum demérito ao Ypiranga, e sim ao Inter), se não for em etapa de preparação do time.
E, como é etapa de preparação, muita coisa precisa ser apreendida na derrota, mas temo que estejamos mirando no alvo errado.
Em 2017 disse que não tínhamos goleiro, que nem Danilo nem Lomba serviam, e fui muito criticado. Em 2022 sabemos que perdemos um título por termos mantido esses goleiros.
O fogo cerrado das redes sociais e imprensa atira em Heitor, na falha de Cuesta, e em Dourado. Não erra, mas são alvos periféricos. Meu alvo é Edenílson, talvez o jogador que mais represente tudo o que está de errado no Inter hoje, e no jogo.
Edenílson é um jogador sem recursos, e Medina acertou quando disse que faltou futebol. Futebol se faz com recursos, e nosso protagonista não tem esses atributos, por isso nunca seremos protagonistas com um jogador sem recursos sendo o apoio do time.
Não é porque perdeu o pênalti. Perdeu porque é um jogador sem recursos, que bate pênalti da mesma forma, mesmo sabendo que foi manjada a batida, que a bola vai sempre no mesmo lugar, e se o goleiro saltar do meio para cima no canto direito do batedor, vai pegar. Edenílson não sabe mudar, e não mudou.
Ele é um lateral que virou volante, e se utilizou de sua velocidade para surpreender dentro da área, mas seus recursos são limitados. Edenílson não sabe chutar, o passe e cabeceio são limitados, comuns, e o drible é esporádico, em velocidade. Edenílson não sabe parar um jogo.
O time foi escalado em torno dele. Maurício foi pro banco, e toda a criação do time ficou com Edenílson. Boschilia é jogador de velocidade, de criar espaços com toques rápidos, não é jogador de criação. E o Inter não criou nada com Edenílson na função que ele acha que pode exercer e na qual pede para ser escalado, porque não quer jogar onde seria mais bem aproveitado, como volante.
Sei que muitos números dirão o contrário, os mesmos números que colocam Moisés como titular, naquela outra situação inexplicável, tal qual a renovação de seu contrato e do Lindoso. Estatísticas são úteis quando encaradas como estatísticas. Se forem encaradas como conselho, é um erro.
Edenílson não é o responsável pela má atuação, porque ele não pode ser o responsável por uma boa atuação do time. Escalar jogadores limitados, fora de suas posições, não pode ser a solução.
Isso não significa que Heitor, Cuesta e Dourado não tem grande parcela de contribuição. Tem muita e merecem todas as críticas. Heitor não cresce. É um jogador diferente quando o time está ganhando, mas o time tem perdido quando ele joga, e quando o Inter está perdendo, Heitor é um jogador nervoso, desatento, errático; ruim.
Dourado desarma como poucos quando enfrenta o ataque de frente, mas, se passa da linha da bola, é um jogador medíocre, que mal consegue se posicionar. Não é de hoje que falo que o Inter não tem proteção na frente da zaga, e que a recomposição com Dourado é quase inexistente. Daí a contratação de volante com velocidade, mas que de nada adiantará se Dourado ficar.
Cuesta compromete menos, mas compromete, e zagueiro não pode fazer isso. Por mais que seja erro desculpável em época de preparação do time, inclusive física, foi um erro bisonho, em péssimo momento, que sacramentou o resultado.
E o Inter, mesmo com as alterações, não conseguiu reagir, está sem mecânica de ataque, compreensível com as mudanças, mas é hora de fixar jogadores na parte decisiva do campo, já que Gauchão é, visivelmente, uma meta para esse ano.
A direção precisa se posicionar também. Embora a demissão de Paixão fosse uma necessidade naquele momento, o que falou e vinha debatendo com a direção não pode ser esquecido, e os alvos foram certeiros, com meu acréscimo de Edenílson.
Se esses jogadores ficarem, vão jogar. Há uma hierarquia no vestiário que precisa ser quebrada pela direção, que teve todas as oportunidades para isso, mas não fez, mas ainda pode fazê-lo.
Acredito que a única boa atuação individual foi Daniel. Um esforçado David errou o domínio no bom passe do Dourado e tirou o gol de cabeça do volante, e acho que até agradeço.
Wesley entrou bem, assim como Maurício e D’Ale, e parece que as contratações encaminhadas acertam as necessidades do time, embora siga acreditando que as saídas são mais importantes, no momento.
Enfim, no final de semana em que nada deu certo (feminino e sub-20), talvez essa derrota tenha sido a melhor coisa na preparação do time, esperando que tenha mostrado a insuficiência que muitos vem apontando.
p.s.: o time levou gol e se desesperou, querendo empatar no lance seguinte, desorganizado e afoito. Esse lado anímico precisa ser corrigido também.