RESGATE

O Resgate do Soldado Ryan tem os 30 minutos iniciais mais arrebatadores dos filmes de guerra (talvez de qualquer gênero), e conta a história de um grupo de soldados enviado para resgatar o último de quatro irmãos ainda vivo após o desembarque dos aliados no dia D. Em certo momento, um dos personagens aponta a irracionalidade de expor tantos para resgatar um; mas é uma questão de honra.

O greNal de sábado foi um resgate.

Qualquer sacrifício valeu à pena, embora tenha dúvidas quanto a sacrifícios futuros.

Sim, era necessário vencer, sobretudo vencer, da forma que fosse. E vencemos.

Gostei porque vencemos jogando futebol, ainda que no esquema que não gosto, o que vimos no sábado foi um time jogando com inteligência, muita força e muita dedicação; mesmo apresentando falhas recorrentes.

Lomba não levou gol, isso resume sua atuação. Segue fazendo defesas fáceis parecerem difíceis, mas fez defesas difíceis também, e foi arrojado em algumas saídas do gol nas bolas aéreas. Saravia foi nosso ponto negativo, e não é de hoje que tem atuações fracas, sendo que já jogou e marcou muito melhor do que tem sido.

Bruno Mendez é a melhor surpresa do ano, desacreditado, vem sendo o nome mais importante da defesa, seguro e decisivo, sanguíneo e competente, fez Cuesta crescer e voltar a jogar com antecipações e segurança.

Moisés exalou força e dedicação. Não foi superado, marcou, anulou e perseguiu a bola com jogadores adversários, e não errou nos posicionamentos. Esteve  o tempo todo alinhado com Patrick na marcação.

O meio dos Rodrigos foi combativo ao máximo, ainda que com as deficiências táticas da marcação da entrada da área, não permitiu aproximações e o adversário chutou uma bola no gol. Achei Lindoso o melhor em campo, pela sua força defensiva que pouco vimos antes.

O trio à frente dos volantes também fez um jogo excelente, em se tratando de greNal, de jogo tenso, nervoso e decidido nos detalhes. Edenílson apareceu mais, inclusive na marcação, procurou o jogo e soube manter a bola quando necessário. Taison tocou o terror nas arrancadas e abalou a marcação adversária jogando pelos dois lados. É dele o gol, de cabeça, nas costas do lateral, e isso diz muito. E Patrick sustentou o meio ainda se permitindo arroubos ofensivos. Completando, Yuri foi perigoso, presente e segurou Geromel e Kannaman no seu campo.

Em rápida leitura, pode-se pensar que foi um jogo perfeito, mas foi “apenas” um resgate perfeito, retomando a supremacia, encolhendo os rivais e restaurando um orgulho esquecido em resultados adversos. A presença da torcida foi catártica, e o time soube jogar, soube ganhar, e soube comemorar.

Temos falhas recorrentes sim, a infiltração de Vanderson não foi acompanhada, Lomba quase espalma uma bola para dentro e Ferreira aparece por trás da zaga e laterais com Lomba olhando e chegando atrasado. Lindoso demorou a entender a necessidade de dobrar a marcação em Douglas Costa e errou passes fáceis. Bruno Medez foi afoito em bolas que poderiam ser trabalhadas para manter a posse, e Moisés também errou passes fáceis. Patrick errou um gol em local e momento que não pode perder, e Yuri foi precipitado em dois lances que, com mais calma, redundariam em gol.

Mesmo Taison, imprimindo velocidade, perdeu o momento do passe e fez escolhas equivocadas, e Maurício simplesmente não entrou no jogo. Já Mercado tomou conta da marcação do lado direito sem sequer precisar correr.

O resgate também viu um adversário com medo. Precisando vencer, não apenas pontuar, veio com três volantes marcadores e sem criatividade ou estrutura de jogo. Compreensível para um time que está no seu quarto treinador no ano, mais um interino, e que só pode apostar em jogadas individuais e bolas lançadas na área. Aguirre viu isso muito bem, e neutralizou. No segundo tempo, o Inter se fechou de um modo que lhes cabia apenas a troca de bolas em seu próprio campo, onde o medo e a impossibilidade de avançar se misturaram.

O Inter resgatou a si próprio.

Inclusive na comemoração, e aqui um aparte. Estávamos em casa, com torcida única (exclusivamente por conta do que eles fizeram) e o jogo tinha acabado. O que Patrick fez não foi provocação, foi comemoração. Eles sequer deveriam estar em campo ainda. Não teve recadinho, filmagem, coreografia, frases de efeito, Patrick comemorou com sua torcida, na sua casa. Qualquer outra interpretação é buscar chifre em cabeça de cavalo, é má-fé e comportamento tendencioso. O erro está em quem agrediu, porque não foi agredido quando fez igual, e fez.

Retomando, o resgate não precisa ser a redenção de alguns jogadores, mas sim a lembrança de que fizeram uma partida memorável, e foram grandes em um jogo muito importante. E só. Não é possível seguir com Lomba e Lindoso por conta desse jogo, nem mesmo achar que Dourado virou xerife, ou que Edenílson e Patrick podem seguir como atacantes. A régua de um jogo emblemático não pode apagar a medida de toda uma temporada; precisamos de reformulação, e a vitória não pode apagar isso.

No filme, os heróis do resgate se vão, quem fica é o resgatado, e o próprio resgate.

p.s.: o desacreditado sub-20, que passou pela crise da saída do treinador, é finalista.