PLACAR
Não consegui ver o jogo, só os melhores momentos, reduzidos em 3 minutos, que mostraram os gols e acho que uma chance perdida. Conversando com meu vizinho, parece que perdemos mais chances, mas o Flu também.
Na imprensa oficial há uma certa euforia pelo retorno do estilo Abelão, a retomada da identidade do Inter.
Não posso falar sobre o jogo, ou dos jogadores individualmente, como normalmente faço depois de uma peleia, mas gostei do resultado, e, sobretudo, gostei da dinâmica de levar gol aos 40 do segundo tempo e fazer mais dois em 10 minutos, transformando em vitória o que seriam dois pontos perdidos.
Não lembro se esse era o estilo Abelão, lembro de uma goleada sobre o SP, mas a ênfase da imprensa em dizer que a natureza do Inter é ser um time reativo, que se desenvolve melhor a partir da posse de bola do adversário, me preocupa um pouco, talvez muito.
Quem diz isso não lembra de 75, 76, 79, 80, 89 ou mesmo 2005, 2006, 2010, muito menos do rolo compressor, que não tive oportunidade de ver jogando, essa a verdadeira identidade do Inter, quando conquistamos títulos. Exceção foi 90/91, mas parece que essa é a característica que se quer ver no Inter na imprensa oficial.
Mas não é.
Essa identidade reativa, esse conforto de jogar sem posse, normalmente conduz ao quase ganhar, ao vice, ao faltou pouco. Não tiro os méritos de ser vice, terceiro, quarto, mas não é possível que se contente com isso, e o futebol reativo leva a isso.
É só buscar os campeões nacionais e ver qual deles, nos últimos anos, joga assim, fechado em busca do contra-ataque ideal, sem posse. Dá pra buscar no futebol mundial também, onde encontraremos exceções, normalmente lembradas como exceções mesmo. Dá pra ganhar jogos assim, ou até ser campeão? Sim, possível, acontece, mais em copas do que em campeonatos, mas acontece.
Só que essa não é a identidade do Inter campeão. Sempre tivemos defesa forte e meio combativo, mas nunca, nunca deixamos de ter jogadores criativos, inventivos, com qualidade, drible e finalização. Nunca abdicamos de propor o jogo em campeonatos que ganhamos, nunca deixamos de ser protagonistas pelo futebol no ataque, não na defesa. Essa é nossa identidade.
Por isso fiquei feliz com o projeto da nova diretoria de mudar a forma de jogar desde a saída de Aguirre em 2015, projeto que parece ter sido abandonado no primeiro fracasso, por motivos que já discutimos.
Mas isso não quer dizer que, no atual momento, estejamos fazendo algo errado. Erramos atrás; agora, com a água subindo em um tanque fechado, tem que estancar a sangria e sobreviver com tranquilidade já pensando em 2022.
A base está sendo reformulada, nossas finanças dão mostras de que há um trabalho sério para o reequilíbrio e não parece que o clube esteja disposto a fazer loucuras financeiras, mesmo na crise que se avizinhou com os resultados ruins.
Um time do tamanho do Inter, contudo, não pode deixar de pensar em mudar, não pode deixar de planejar com antecedência, nem mesmo abandonar ideias no primeiro sinal de fracasso. 2021 tem sido um ano bem importante, como aprendizado do que fazer e não fazer para o ano seguinte. Tivemos dois anos de anormalidade por conta da pandemia, e o horizonte visível é a retomada do público e da receita dos jogos. Em anos anteriores, o ano seguinte começava a ser planejado pelos resultados no final do ano, de forma tardia.
Se o Inter realmente quer mudar, o que acho necessário, o trabalho começa agora, sem dúvidas de eleições ou esperando que competições vai jogar. Mesmo precisando de mais algumas vitórias para consolidar a permanência na série A, é o momento de definir 2022.
P.S.: 15 anos de nossa Libertadores mais marcante, corrigindo as injustiças de 80 e 90. Um time forte, veloz e inteligente, e emocionalmente seguro. Um modelo.